Levei tanto tempo para chegar ao acampamento que nem notei que havia amanhecido. O sol começava a arder, mas eu não achava o Hak. Eu estava ansiosa para contar a novidade, mas onde ele estava? Talvez eu tenha demorado tanto que ele foi atrás de mim? Dou uma risada, não, não poderia ser isso, mas eu não sabia onde ele estava, e não sei se gritar por aí seria uma boa ideia.
Espero sentada pelo que parecem horas, até que acabo cochilando. Não sei quanto tempo se passou. Acordo com a voz do Hak me chamando. Abro os olhos e vejo o Hak me encarando, ele estava muito irritado. Acho que realmente demorei demais.
— Onde você estava??
Me levanto e me estico, dormi toda torta, sinto dores no corpo.
— Eu andei por muito tempo, acabei entrando em uma floresta muito densa, depois voltei pra te contar a novidade, mas você não estava aqui.
— Tu entrou na floresta e nem percebeu...?
— Foi isso.
— Tu comeu os cogumelos que eu disse para não comer?
— Eu tenho uma irmã que é bruxa e a outra é ninfa da natureza, eu sei quais cogumelos são venenosos! E não, eu não comi nada.
— Cheirou alguma coisa?
— Eu só me distraí.
— Não pode se distrair em uma missão!
— Olha, tava muito chato ficar andando e...
— Tu comeu uma folha estranha e entrou na floresta.
— Quer me deixar falar? Seu bocó! — eu estava começando a me irritar.
— Vai fala, cubo de gelo!
— Olha, às vezes quando eu tô fazendo algo muito chato, — olho pra ele com olhar de zangada desafiando ele a me interromper novamente — eu acabo me perdendo em pensamentos, quase como se estivesse dormindo de olho aberto.
Ele olha pra mim com uma cara de riso.
— Eu entendi, Karen.
— Ah, que bom!
— Mas tu lembra pra onde fica essa floresta?
— Perfeitamente.
— Certeza?
— A irmã com péssima memória é a May.
— Você também!
— Você quer ir ou não?
— É, vamos lá conferir.
Ele levanta e começa a andar, eu sigo na direção da floresta e ele me segue.
— Como estamos com a comida?
— Ah, Karen!! Não me diz que tá com fome de novo!? — ele diz em um tom desesperado.
— Um pouco na verdade — ele arregala os olhos.
— Tanta folha por aí!
— É venenoso!
— Tu não morre!
— Mas eu sofro! Não morro mas fico sentindo todos os efeitos!
Lembro de quando caí do prédio e me recordo de cada dor.
— E a terra?
— É sério?
— Rico em nutrientes!
— Você andou comendo terra foi?
— Eu não!
— Depois eu que sou a brisada né?
— É!
— É que temos que pensar em outras fontes de alimento.
— Já pensei nisso.
— Que ótimo, então me diz sua ideia!
— Vou assar você!
— É o que?
— Tem razão deve ter um gosto ruim.
— Hak?
— Hmmm? — ele ri.
— Tu tem demência né?
Após uma caminhada longa e muita conversa chegamos na floresta que eu tinha achado. A noite tinha chegado trazendo ventos frios e deliciosos. Hak e eu paramos e olhamos para a imensidão á nossa frente.
— Tá legal. Fica aqui que eu vou sobrevoar, só pra ter certeza que não tem nada demais.
— Ficar aqui? Parada?
— Tu tem asa? — ele me olha de cima a baixo e reviro os olhos pra ele.
— Posso conseguir asas com algumas palavras.
— Tu não sabe nem rimar! Agora fica aqui, senão agente vai se desencontrar e vamos perder nossas coisas.
Concordo muito a contra gosto e fico parada esperando. Ele abre as enormes asas e levanta vôo. De onde estou, consigo ouvir o bater de suas asas que aos poucos vai soando mais longe, dou uma olhada lenta ao redor e cruzo os braços. Eu odeio esperar. Eu sempre fui de buscar, de ir pra cima e de fazer acontecer. Mas ficar parada esperando como uma criança, não era algo que eu goste de fazer. Após um tempo, ouço o som das asas do Hak e olho pra cima, ele me vê e pousa perto de mim, batendo a asa no meu rosto no processo.
— Ai! Seu morcego piolhento!
— Foi sem querer! — ele ri.
— Achou alguma coisa? — me afasto e ele encolhe as asas, fico curiosa — Onde você guarda essas asas?
— Não vi tudo, é uma grande floresta, mas em tudo o que olhei, tá limpo!
Vou até o Hak e começo a olhar suas costas, encosto a mão procurando alguma abertura. Hak rapidamente se afasta no primeiro toque.
— Sai doida! Tá fazendo o que?
— Eu quero saber onde suas asas ficam!
— Sai fora! Não vou te mostrar!
— Não seja tímido! — começo a rir.
— Vamos voltar e pegar as coisas.
De repente tive uma ideia.
— Tem razão Hak! — paro de rir.
— Vamos lá.
Hak começa a andar e sigo ele, mas aos poucos tento ficar para trás para tentar ver algo nas costas dele.
— Você vem aqui!
Hak se vira e pega meu braço, me colocando do seu lado. Seguro o riso e continuo caminhando.
— Se você contar é mais fácil!
— É uma transformação, Karen!
— Como uma metamorfose? — sorrio.
— É!
— Uma transformação...
— É!
— As asas surgem nas suas costas!
— É!
— Como uma borboleta!
— É!— ele para e se dá conta do que concordou — Não!
Começo a rir e Hak vai pra cima de mim. Começo a correr dele.
— Volta aqui, Karen!
Continuo correndo e rindo, mas ele acaba me alcançando.
— Calma aí borboleta!
— Aaaaaaah — ele solta um rosnado feroz, acho que nunca tinha visto o Hak fazer isso.
Eu já tinha visto o Ian rosnar de raiva, a Luise quando eu perturbava ela, e o Kieran uma vez quando nós dormimos juntos, mas o Hak eu nunca de ouvido. Paro de rir e olho no fundo dos olhos dele.
— Uau... Você acabou de ser promovido depois dessa!
— Tá bom. — ele me solta e continua a andar.
— Agora você é mariposa!
— Karen!!
Continuo a rir e volto a correr.
Hak rapidamente me pega e caímos no chão. Enquanto tento fugir rolamos na areia, era uma luta patética, mas era épico para nós. Já cansados, levantamos sem dizer nada e voltamos para o acampamento, completamente sujos e suados, amarelos de poeira. Arrumamos as mochilas e andamos até a floresta recém encontrada.
— Qual o melhor lugar?
— Um que seja perto do rio, mas não tanto, em uma clareira.
Andamos mas não encontramos uma clareira. Ao invés disso encontramos uma caverna que era espaçosa, mas bem escondida. Averiguarmos e encontramos insetos que moravam ali.
— Aaaaaaah!
Eu gritava a cada aranha que via, e sentia náuseas com as enormes lacraias. Hak pisava e queimava cada uma. Saio e uso o canivete para apanhar algumas plantas que serviriam de vassoura. Fiz tudo de maneira improvisada, mas funcionou.
— Tadan!
— Olha! Até que sabe fazer alguma coisa!
— Cala a boca! — coço meu braço.
— Varre aqui. — ele aponta.
Começo a limpar, retirando algumas folhinhas e insetos mortos. Eu sentia uma coceira chata no meu corpo, e quando olhei, eu tinha manchas vermelhas.
— Hak...
Ele olha pra mim e seu queixo cai. Em seguida ele solta uma gargalhada.
— A vassoura né?
— Sim...— a coceira começava a surgir no meu rosto.
— Eu deveria prestar mais atenção quando a Maggie começar a falar de mato, né?
— Sim. — ele continua rindo e limpando— Primeira vez que te vejo com tanta cor! Branco e vermelho! — ele ri.
— Você também é branquelo!
Após muita limpeza, temos uma ' caverna, doce caverna ' e eu toda inchada.
— Vamos dar um jeito em você.
— Ah obrigada Hak!
Ele começa a colher umas plantas e amassar sobre uma das pedras da caverna. Tinha um cheiro horroroso.
— Vem cá.
— Ah não... — enrugo o nariz.
— Agora é só passar onde tá coçando.
— Então tá...
O problema é que a coceira tinha se espalhado por todo meu corpo. Tiro a blusa ficando apenas de sutiã.
— Aaah que nojo Karen!
— Para de mimimi! Até parece que nunca viu uma mulher de sutiã na vida.
— As outras mulheres são gatas!
Dou risada e começo a passar a pasta fedorenta. Passei no rosto e nos braços e na clavícula também, começo a passar nas costas, mas não consigo alcançar alguns pontos que coçavam pra caramba!
— Taaa, deixa que eu te ajudo!
Hak me faz virar e passa a pasta nas minhas costas, ele esfrega aquele geleia fria, e a coçeira começa a aliviar. Ele trás alguns cogumelos e assa para nós. Colocamos sal para dar sabor, e quando tenho certeza que estou sequinha, vamos dormir. Recuperar as energias para andar no meio do nada amanhã.
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O doce sabor dos insultos
RomanceKaren e Hack nunca se deram muito bem. Um cara retardado que sempre surge do nada, pensa ela. Uma garota chata que cai do nada, pensa ele. Mas, uma importante missão do chefe da agência, envia ambos para longe do conforto, e colocando-os para trabal...