Capítulo 13

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      Estou presa em uma espécie de porão, em uma cabana camuflada de supostos pesquisadores, e eles estão vindo!

     A Luise me diz que eu gosto de atrair problemas, o Píter, o Marcos... E agora eu estou encrencada. Se eles abrirem o alçapão, vão me achar.
    — Não acredito que eu tive que voltar pra pegar outra coisa... — era a voz do medroso — Ele acha que pode mandar em mim? Mas ele não pode! Eu vou... Eu vou me vingar!
     Eu torcia para que ele ficasse longe do alçapão, respiro devagar, e me mantenho calma, consigo ouvir seus passos sobre as tábuas e ouço se aproximando. Deve estar indo para a mesa...
     — Achei. Vontade de enfiar essa seringa nele!
     Pelo seu tom de voz, ele estava muito zangado. O irritadinho devia encher a paciência dele. Ouço passos perto do alçapão e meu corpo fica gelado.
      — Será que ainda tô esquecendo de algo?
      Não moço, você não está, pode ir, por favor... Felizmente ouço ele saindo e fechando a porta, ele ainda murmurava lá fora. Sua voz ficou mais distante até eu não poder mais ouvir ele. Respiro fundo mas ainda não saio. Olho novamente ao meu redor. Havia muitos papéis. Pego um deles e leio, são anotações dos venenos das cobras e aranhas, cada espécie que foi apanhada. Pego outro papel, estava escrito sobre o veneno de uma cobra chamada Serpente Negra Barriga Vermelha, um nome muito grande para uma cobra, penso. Dizia ali que seu veneno era mortal. Também estavam os compostos do seu veneno. Mas por que eles querem isso?
    Em outro, estava aranha que eles tinham pego hoje, havia várias anotações, mas a letra era tão feia que pareciam garranchos, eu tinha dificuldade em ler. Mas com minha habilidade de ler as letras do Ian quando ele tá com pressa, eu consegui entender, assim como a da cobra, tem informações sobre a aranha e sobre os componentes do veneno. Há uma data para um "teste", mas não explica de que teste se trata.
     Leio mais alguns, e então levanto. Sinto que preciso levar um desses sem que faça falta. Escolho um dos papéis que parecia estar empoeirado e abro o alçapão. Uso a escadinha e subo, pego a chave e o graveto. Era a hora de enfrentar a aranha. Pego o pote e respiro fundo. Abro apenas um pouco e a aranha se manifesta. Jogo a chave pela brecha e fecho o pote, tomando cuidado para não arrancar a pata da feiosa. Respiro aliviada e me concentro para ouvir se realmente não havia ninguém.
      Constatado que eu estou sozinha, saio e lembro da direção que o Hak tinha ido. Fecho a porta da cabana e guardo o papel dentro do macacão. Subo na árvore e vou na direção. Isso era difícil, mas imagino que eles tenham seguido um caminho reto.
     Ando durante um bom tempo e paro em uma árvore, olho ao redor, girando ao redor do tronco. Minha mão encosta em um relevo estranho da árvore. Olho para o lugar e sorrio, eu teria que esmurrar a cara do Hak, mas ele é um gênio, não que eu fosse dizer isso pra ele. Havia um desenho de mim, pequeno, uma mini Karen, com uma cabeça gigante, apontando para a esquerda. Era um desenho grotesco, mas segui o caminho.
      Mais a frente, encontro outro rabisco em outra árvore, dessa vez ele fez uma Karen fazendo biquinho, ou melhor, um bico gigante, e apontando para a direita também. Continuo seguindo as minis Karen, cada desenho era mais esquisito que o outro. As cabeças eram desproporcionais, gigantes! Mas pelo menos eu sabia pra onde ir.
     
                             Hak.

      Sigo os supostos pesquisadores e deixo desenhos nas árvores, eu espero que a Karen ande sobre as árvores e não a pé. Espero que ela veja e entenda a mensagem, senão eu terei que buscar ela. E pelo tanto que eu andei, eu não faria isso muito feliz. A caminhada era bem longa. E tive a ideia quando um dos caras foi obrigado a voltar pois tinha esquecido algo. O coitada voltou bufando de raiva. Não tenho certeza de para onde estão indo.
     Após um tempo eles chegam em uma casa de madeira,era pequena e não era camuflada, era pintada de branco, está em uma clareira, dentro da floresta. Vejo apena uma janela na frente. Apesar de estar em uma clareira, as folhas das árvores cobriam o teto, impedindo que fossem vistos de cima. Por isso eu não os vi. Eles batem uma vez, depois duas vezes, depois uma vez e por último três vezes, eles aguardam, e repetem a mesma sequência. A única janela é entreaberta, e depois fechada. A porta é aberta e eles entram, a porta sendo fechada atrás deles. Preciso encontrar uma maneira de entrar. Com meu canivete, entalho um desenho de uma Karen batendo em uma porta. Essa mensagem deve bastar. Andando sobre a árvore, vejo a casa por todos os lados, procurando alguma outra forma de entrar. Só havia a porta e a janela.
      Com alguns pulos controlo o ar embaixo de mim e pouso no telhado. Encosto o ouvido e posso ouvir a conversa abafada.
     — Pois é, nós coletamos 15 ml desse veneno hoje.
     — Isso é muito bom, mas ainda é muito pouco.
     — Senhor! Com essa quantidade é possível matar dezenas de pessoas. Essa espécie não produz tanto assim.
     — Sim! E é muito arriscado conseguir.
     — Se pegarmos demais, vão começar a desconfiar da falta de aranhas. Temos que ser cuidadosos.
    — Tudo bem, será o suficiente para o teste, mas vocês tem que conseguir mais, nem que seja de outra espécie.
    — Não se preocupe, senhor, estamos trabalhando para sintetizar esse veneno.
    — Bom saber que estão tendo progresso, agora me dê aqui. Vou entregar assim que eu for. — ouço alguns ruídos de madeira — Trarei a recompensa na volta. Me contem mais sobre essa espécie.
      Ouço eles conversarem sobre as aranhas e sobre cobras. Sobre os venenos e quais os componentes. Depois a conversa muda para fofocas e resolvo sair.
    
   
                           Karen.

     Cada desenho que vejo, minha vontade de chutar a bunda do Hak, aumenta. Ele me desenhou fina igual um palito, ou como uma grande bola, com o corpo torto, mas em todos, minha cabeça era gigante e havia um rosto de abobada. Como eu odeio esse cara! Após um tempo chego em uma árvore que tinha um desenho de uma Karen e um retângulo. Olho pra frente e vejo uma casa. Mais a frente o Hak olhava pra mim com cara de riso. Ele aponta pra frente e se move.
     Vou atrás dele e quando estamos longe da casa, em uma árvore grande, ele para e vou para o mesmo galho que ele.
      — Seu...! Que desenhos foram aqueles ? — aproveitando o momento, tento dar um tapa nele.
     Mas ele, com facilidade, segura minhas mãos, no entanto, todo esse movimento quase nos faz cair do galho. Ele solta minhas mãos agarrando minha cintura com força, ele se firma no galho e no medo de cair também me seguro nele. Respiramos fundo, aliviados, ele ainda me segurava, meu corpo estava colado no dele. Eu sentia cada músculo do seu corpo, sentia cada movimento do seu peito, do subir e descer da respiração. Nossos rostos estavam tão pertos, que eu sentia sua respiração bater em meus lábios.
     — Argh!— dizemos em uníssono e nós nos afastamos. Vou para o outro lado e respiro fundo.
    — Conseguiu alguma coisa lá na cabana? — Hak pergunta ofegante.
    Coloco a mão dentro do macacão e pego o papel com anotações. Entrego sem olhar pra ele. Não sei ao certo o que aconteceu, mas foi muito estranho, bizarro e eu não pretendo repetir. Parece que ele está lendo, olho para casa de madeira. O que será que tem lá?
     — Era isso que tinha lá?
     — Sim, havia muitos outros como este, mas com outros animais. Eles anotam tudo sobre os venenos aí.
     — Hmmm... Entendi.
     — E quanto aquela casa alí?
     — Já fui lá olhar.
     — E? — que cara enrolado!
     — Ah, os "pesquisadores" que ainda não temos certeza de que são mesmo, eu acho que não são.
    — Vá direto ao ponto!
    — Eles estavam falando sobre aranhas e venenos.
    — Foi difícil?
    Ele olha pra mim. De repente me sinto nervosa, medo de ele me beijar. Eu preciso deixar o clima mais leve.
    — Vai me beijar, é ? — falo suavemente e dou um sorriso sedutor.
    — Tá repreendido!
    Dou risada da cara dele.
    — Precisamos voltar. — ele diz.
    — Então tá.
    Fazemos todo o caminho de volta. Era longo, extenso, e muito cansativo. Ao chegarmos, entramos na caverna e abrimos nossos sacos de dormir. Deitamos e dormimos quase que instantâneamente. Durmo com ideias de como castigar o Hak pelos desenhos horrorosos.
     Ele ia me pagar.

    
    

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