Capítulo 10

23 8 27
                                    

Hak.

      Levanto ao entardecer, quando o sol já está quase se pondo, e a luz começa a sumir entre as árvores, saio da caverna deixando uma Karen dormindo confortavelmente com uma pasta verde fedorenta nas costas. Eu não consigo entender como ela consegue ser tão desatenta e desastrada. Olho para cima e vejo o céu ganhando tons laranjas, uma vez que a noite está chegando. Apesar de dormir e me alimentar, me sinto muito cansado, voar tem gastado minha energia, eu sentia que em breve a sede de sangue iria começar. Sangue de animais ajudam, mas não é o suficiente. Já fazia mais de uma semana nessa missão. Preciso usar menos meus poderes.
       Volto na caverna e pego o mapa, vejo as marcações, tínhamos checado uma grande área. Mas não tínhamos achado nada. Josh não nos mandaria a uma missão que não tivesse certeza, ainda mais uma missão para qual a sua filha também fosse. Talvez a base seja subterrânea. Se for o caso, teríamos que achar uma possível entrada. Ou talvez eles estejam disfarçados de biólogos ou pesquisadores. Nesse caso teríamos que nos infiltrar entre eles e investigar. Marco a área que devíamos olhar dessa vez, e lembro que no dia anterior a Karen se distraiu, eu tenho que chamar a atenção dela nisso.
      — Bom dia, morceguinho.
      Ela acordou... Ainda bocejando.
      — Nossa! — tampo o nariz — Você precisa de um banho!
      — Você também, dentuço!
      — É, mas não sou eu que tá com uma mancha verde nas costas! — dou risada — E você ainda está de sutiã. — me sinto um pouco incomodado.
      — Eu vou procurar um lugar pra tomar banho.
      — Que bom!
      — É melhor não me seguir, dessa vez!
      — Tá repreendido, ver você nua de novo! — ela ri e anda até a caverna — Mas antes... — chamo ela antes que entre — Coloca uma blusa e vamos fazer nossa missão primeiro.
      Ela balança a mão e entra na caverna. Karen parecia não se importar tanto com isso, nada nunca tinha rolado entre a gente, e nunca vai rolar, amém! Mas ela não deixava de ser mulher, mesmo em uma missão como essa, limites eram necessários. Ela volta vestida e se aproxima de mim para ver o mapa.
      — Você hoje vai por aqui.
      — Tá bom. — ela diz com outro bocejo.
      — Eu ativei a função no seu medidor, então assim que você cumprir a meta do dia ele vai vibrar.
      — Tá... Mas ainda estou com fome.
      — Come alguma fruta...
      — Isso não enche barriga!
      — Se vira!
      Ela me olha de cima a baixo, pega o dispositivo e sai. Admito que também estava com fome. Ando e vejo algumas frutas nas árvores, subo até elas e pego. Concordo com a Karen, eu preciso comer muitas frutas para ficar satisfeito, mas eu não ia falar isso para ela. Enquanto ando, encontro algumas frutas que poderiam ser melhores e vou comendo.
       Começo a averiguar a área, dessa vez dentro da floresta, era muito mais difícil fazer isso aqui, uma vez que as árvores tampam a minha visão. Olho cuidadosamente cada árvore, cada tronco e cada pedra, vejo alguns animais que ora fugiam, ora rosnavam para mim. Eu só mostro que não sou sinal de perigo e sigo procurando. Era muito pior sem os equipamentos, eles leriam qualquer tipo de modificação no ambiente, fazer tudo a olho nu era pauleira.
      Ao terminar a área que eu tinha demarcado no mapa, volto para a caverna, a Karen não tinha voltado ainda, então penso que seria uma boa ideia caçar. Usando todo treinamento que aprendi, consigo pegar e matar um coelho, ele era até fofo, mas para fome não havia fofura, eu teria que lavar e abrir o coelho também. Nesse instante Karen chega com expressão cansada, pela cara não tinha achado nada.
      — E aí, Karen?
      Ela faz bico e balança a cabeça negativamente. Vai para a caverna e volta com o uniforme reserva limpo.
     — Vou tomar banho agora.
     — Espera, vou com você.
     — Como é que é? — ela olha confusa.
     — Tenho que lavar esse bicho. — mostro o coelho para ela.
     Ela franze a sobrancelha, parecia triste pelo animal, mas em seguida ergue as sobrancelhas novamente e balança a cabeça.
      — É uma peninha... Mas que bom que você achou algo pra gente comer.
      Começamos a andar, seguindo o barulho do rio.
      — Esfomeada! — exclamo para ela.
      — Tô mesmo!
      Andamos um tempo até achar o rio.
      — Vou ficar aqui lavando.
      — Eu vou descer um pouco.
      — Que bom!
      Ela me dá língua e segue o rio.
      — Crianças...! — digo alto o suficiente para ela ouvir.
      Começo a abrir e a cortar o coelho. As águas do rio levavam o sangue. Imagino que está indo até a Karen. Imagino ela tomando banho e a água com sangue escorrendo pelo seu corpo. Não era algo provável de acontecer mas, minha mente não parava. De alguma forma maluca, era excitante.
      Ao voltar para a caverna, recolho alguns gravetos e cascas de árvore secas, para fazer uma fogueira, limpo bem o local por que eu não queria começar um incêndio ali. Uso algumas pedras para ajudar, e faço uma estrutura improvisada para colocar o coelho para assar. Jogo sal na carne e espalho bem, ajeito sobre o suporte e espero que asse. Olho pra meu uniforme e vejo a sujeira, eu também preciso de um banho. Quando a Karen voltar eu vou tomar o meu.
      Observo as chamas dançando e aos poucos assando a carne. Nesse momento sinto a Karen retornar, e junto com ela, um cheiro forte de jasmim, ela chega ao meu lado e para. Olho para ela, e ela sorri, seus cabelos longos pareciam ainda estar úmidos.
      — É tão bom estar limpinha!
      — Tem certeza de que tomou banho direito? — dou risada. Cara esse cheiro de jasmim tomou conta do ambiente.
      — É claro! — ela sacode os cabelos, fazendo algumas gotas de água cair em mim.
      — Sei não! — passo a mão no rosto — Esse cheiro de jasmim não é pra disfarçar o cheiro?
      — Ahahaha — ela ri de forma sarcástica — Eu odiei ficar com o cheiro daquelas folhas que você passou em mim.
      — Ok!
      Ela revira os olhos e senta na minha frente, vejo o reflexo das chamas em seus olhos, o calor do fogo parecia que estava ferindo ela de alguma forma, ela pisca e se levanta, senta um pouco mais longe do fogo e me encara.
     — Tá olhando o que?
     — Nada, só tô cansado.
     Ela continua me olhando, viro a carne e levanto.
     — Tá, agora é minha vez de tomar banho.
     — Pode ir... — seu rosto passava uma ideia de inocência, mas eu conheço bem a peça.
     — Vou esperar a carne assar.
     — Eu fico de olho para você! — ela põe a mão sobre o peito como se fizesse uma promessa, não vou cair nessa.
      Incontáveis vezes essa garota devorou bolos inteiros que a Maggie fez. Certeza que tem um verme gigante na barriga dessa garota.
      — Não vou te deixar sozinha com a carne Karen!
     — Mas não é pra gente? — ela parece surpresa, aponta para mim e para ela.
     — Pra gente!!! Nós dois!!! Não só pra você!
     — Foi o que eu disse!
     — Deu muito trabalho pegar!
     — Eu sei Hakizinho...
     Semicerro os olhos e encaro ela, ela também me encara com olhos sorridente. Passamos um tempo assim, até que a carne está totalmente assada. Pego a carne e divido, dou um pedaço para Karen, mas ela dá um gritinho, uma vez que a carne ainda estava quente. Ela sopra e morde um pedacinho, e assim vai.
     — Vou tomar meu banho agora!
     Entro na caverna e pego meu uniforme reserva, vou em direção ao rio levando o meu pedaço. Sigo a correnteza até que começo a ouvir um forte barulho de água, após um tempo andando, encontro a parte mais funda do rio. Sento em uma pedra e começo a comer, não era um banquete mas estava bom. E iria matar minha fome. Termino de comer e tiro o uniforme, ficando totalmente nu. Entro na água e começo a esfregar a poeira da minha briguinha com a Karen. Olho para a outra margem e vejo as flores de jasmim, provavelmente foi ali que a Karen as pegou. Depois uso um pouco do meu poder de vento para me secar. Visto o uniforme limpo e lavo o sujo.
      Quando retorno, a Karen já está dormindo profundamente, então eu ando com cuidado para não acordar a fera e guardo o uniforme recém limpo. Abro meu saco de dormir e deito. Eu me sentia realmente cansado, e durmo quase que instantâneamente.
       Acordo com a Karen cantando do lado de fora, era noite, por que ela faz isso? Saio da caverna e vejo ela analisando o mapa.
     — O que tá aprontando? — solto um bocejo.
    — Vamos por aqui né? Hoje quero dizer.
    — Sim, a mesma quantidade de ontem.
    — Então vou indo.
    Ela sai e resolvo começar também, ando por um tempão até achar a rota que desmarquei no mapa, ando um pouco e sigo analisando cada lugar, quando estava chegando ao fim da meta diária, vejo um rastro no chão sinais de que algo pesado tinha pisado ali e esmagado as folhas secas, era grande demais para qualquer animal que vivesse ali, e o espaço era muito diferente, era o rastro de pessoas, eu tinha certeza. Inspiro e sinto que tinha sido recente, pessoas tinham passado por aqui. Apenas para confirmar, subo rapidamente em uma árvore e olho para o chão, eram imperceptíveis para quase todas as pessoas, mas eu podia ver com clareza. Resolvo voltar pelas árvores até a caverna, a gente precisa de um plano.
    
    
     
      
     

O doce sabor dos insultos Onde histórias criam vida. Descubra agora