Hak.
Levanto ao entardecer, quando o sol já está quase se pondo, e a luz começa a sumir entre as árvores, saio da caverna deixando uma Karen dormindo confortavelmente com uma pasta verde fedorenta nas costas. Eu não consigo entender como ela consegue ser tão desatenta e desastrada. Olho para cima e vejo o céu ganhando tons laranjas, uma vez que a noite está chegando. Apesar de dormir e me alimentar, me sinto muito cansado, voar tem gastado minha energia, eu sentia que em breve a sede de sangue iria começar. Sangue de animais ajudam, mas não é o suficiente. Já fazia mais de uma semana nessa missão. Preciso usar menos meus poderes.
Volto na caverna e pego o mapa, vejo as marcações, tínhamos checado uma grande área. Mas não tínhamos achado nada. Josh não nos mandaria a uma missão que não tivesse certeza, ainda mais uma missão para qual a sua filha também fosse. Talvez a base seja subterrânea. Se for o caso, teríamos que achar uma possível entrada. Ou talvez eles estejam disfarçados de biólogos ou pesquisadores. Nesse caso teríamos que nos infiltrar entre eles e investigar. Marco a área que devíamos olhar dessa vez, e lembro que no dia anterior a Karen se distraiu, eu tenho que chamar a atenção dela nisso.
— Bom dia, morceguinho.
Ela acordou... Ainda bocejando.
— Nossa! — tampo o nariz — Você precisa de um banho!
— Você também, dentuço!
— É, mas não sou eu que tá com uma mancha verde nas costas! — dou risada — E você ainda está de sutiã. — me sinto um pouco incomodado.
— Eu vou procurar um lugar pra tomar banho.
— Que bom!
— É melhor não me seguir, dessa vez!
— Tá repreendido, ver você nua de novo! — ela ri e anda até a caverna — Mas antes... — chamo ela antes que entre — Coloca uma blusa e vamos fazer nossa missão primeiro.
Ela balança a mão e entra na caverna. Karen parecia não se importar tanto com isso, nada nunca tinha rolado entre a gente, e nunca vai rolar, amém! Mas ela não deixava de ser mulher, mesmo em uma missão como essa, limites eram necessários. Ela volta vestida e se aproxima de mim para ver o mapa.
— Você hoje vai por aqui.
— Tá bom. — ela diz com outro bocejo.
— Eu ativei a função no seu medidor, então assim que você cumprir a meta do dia ele vai vibrar.
— Tá... Mas ainda estou com fome.
— Come alguma fruta...
— Isso não enche barriga!
— Se vira!
Ela me olha de cima a baixo, pega o dispositivo e sai. Admito que também estava com fome. Ando e vejo algumas frutas nas árvores, subo até elas e pego. Concordo com a Karen, eu preciso comer muitas frutas para ficar satisfeito, mas eu não ia falar isso para ela. Enquanto ando, encontro algumas frutas que poderiam ser melhores e vou comendo.
Começo a averiguar a área, dessa vez dentro da floresta, era muito mais difícil fazer isso aqui, uma vez que as árvores tampam a minha visão. Olho cuidadosamente cada árvore, cada tronco e cada pedra, vejo alguns animais que ora fugiam, ora rosnavam para mim. Eu só mostro que não sou sinal de perigo e sigo procurando. Era muito pior sem os equipamentos, eles leriam qualquer tipo de modificação no ambiente, fazer tudo a olho nu era pauleira.
Ao terminar a área que eu tinha demarcado no mapa, volto para a caverna, a Karen não tinha voltado ainda, então penso que seria uma boa ideia caçar. Usando todo treinamento que aprendi, consigo pegar e matar um coelho, ele era até fofo, mas para fome não havia fofura, eu teria que lavar e abrir o coelho também. Nesse instante Karen chega com expressão cansada, pela cara não tinha achado nada.
— E aí, Karen?
Ela faz bico e balança a cabeça negativamente. Vai para a caverna e volta com o uniforme reserva limpo.
— Vou tomar banho agora.
— Espera, vou com você.
— Como é que é? — ela olha confusa.
— Tenho que lavar esse bicho. — mostro o coelho para ela.
Ela franze a sobrancelha, parecia triste pelo animal, mas em seguida ergue as sobrancelhas novamente e balança a cabeça.
— É uma peninha... Mas que bom que você achou algo pra gente comer.
Começamos a andar, seguindo o barulho do rio.
— Esfomeada! — exclamo para ela.
— Tô mesmo!
Andamos um tempo até achar o rio.
— Vou ficar aqui lavando.
— Eu vou descer um pouco.
— Que bom!
Ela me dá língua e segue o rio.
— Crianças...! — digo alto o suficiente para ela ouvir.
Começo a abrir e a cortar o coelho. As águas do rio levavam o sangue. Imagino que está indo até a Karen. Imagino ela tomando banho e a água com sangue escorrendo pelo seu corpo. Não era algo provável de acontecer mas, minha mente não parava. De alguma forma maluca, era excitante.
Ao voltar para a caverna, recolho alguns gravetos e cascas de árvore secas, para fazer uma fogueira, limpo bem o local por que eu não queria começar um incêndio ali. Uso algumas pedras para ajudar, e faço uma estrutura improvisada para colocar o coelho para assar. Jogo sal na carne e espalho bem, ajeito sobre o suporte e espero que asse. Olho pra meu uniforme e vejo a sujeira, eu também preciso de um banho. Quando a Karen voltar eu vou tomar o meu.
Observo as chamas dançando e aos poucos assando a carne. Nesse momento sinto a Karen retornar, e junto com ela, um cheiro forte de jasmim, ela chega ao meu lado e para. Olho para ela, e ela sorri, seus cabelos longos pareciam ainda estar úmidos.
— É tão bom estar limpinha!
— Tem certeza de que tomou banho direito? — dou risada. Cara esse cheiro de jasmim tomou conta do ambiente.
— É claro! — ela sacode os cabelos, fazendo algumas gotas de água cair em mim.
— Sei não! — passo a mão no rosto — Esse cheiro de jasmim não é pra disfarçar o cheiro?
— Ahahaha — ela ri de forma sarcástica — Eu odiei ficar com o cheiro daquelas folhas que você passou em mim.
— Ok!
Ela revira os olhos e senta na minha frente, vejo o reflexo das chamas em seus olhos, o calor do fogo parecia que estava ferindo ela de alguma forma, ela pisca e se levanta, senta um pouco mais longe do fogo e me encara.
— Tá olhando o que?
— Nada, só tô cansado.
Ela continua me olhando, viro a carne e levanto.
— Tá, agora é minha vez de tomar banho.
— Pode ir... — seu rosto passava uma ideia de inocência, mas eu conheço bem a peça.
— Vou esperar a carne assar.
— Eu fico de olho para você! — ela põe a mão sobre o peito como se fizesse uma promessa, não vou cair nessa.
Incontáveis vezes essa garota devorou bolos inteiros que a Maggie fez. Certeza que tem um verme gigante na barriga dessa garota.
— Não vou te deixar sozinha com a carne Karen!
— Mas não é pra gente? — ela parece surpresa, aponta para mim e para ela.
— Pra gente!!! Nós dois!!! Não só pra você!
— Foi o que eu disse!
— Deu muito trabalho pegar!
— Eu sei Hakizinho...
Semicerro os olhos e encaro ela, ela também me encara com olhos sorridente. Passamos um tempo assim, até que a carne está totalmente assada. Pego a carne e divido, dou um pedaço para Karen, mas ela dá um gritinho, uma vez que a carne ainda estava quente. Ela sopra e morde um pedacinho, e assim vai.
— Vou tomar meu banho agora!
Entro na caverna e pego meu uniforme reserva, vou em direção ao rio levando o meu pedaço. Sigo a correnteza até que começo a ouvir um forte barulho de água, após um tempo andando, encontro a parte mais funda do rio. Sento em uma pedra e começo a comer, não era um banquete mas estava bom. E iria matar minha fome. Termino de comer e tiro o uniforme, ficando totalmente nu. Entro na água e começo a esfregar a poeira da minha briguinha com a Karen. Olho para a outra margem e vejo as flores de jasmim, provavelmente foi ali que a Karen as pegou. Depois uso um pouco do meu poder de vento para me secar. Visto o uniforme limpo e lavo o sujo.
Quando retorno, a Karen já está dormindo profundamente, então eu ando com cuidado para não acordar a fera e guardo o uniforme recém limpo. Abro meu saco de dormir e deito. Eu me sentia realmente cansado, e durmo quase que instantâneamente.
Acordo com a Karen cantando do lado de fora, era noite, por que ela faz isso? Saio da caverna e vejo ela analisando o mapa.
— O que tá aprontando? — solto um bocejo.
— Vamos por aqui né? Hoje quero dizer.
— Sim, a mesma quantidade de ontem.
— Então vou indo.
Ela sai e resolvo começar também, ando por um tempão até achar a rota que desmarquei no mapa, ando um pouco e sigo analisando cada lugar, quando estava chegando ao fim da meta diária, vejo um rastro no chão sinais de que algo pesado tinha pisado ali e esmagado as folhas secas, era grande demais para qualquer animal que vivesse ali, e o espaço era muito diferente, era o rastro de pessoas, eu tinha certeza. Inspiro e sinto que tinha sido recente, pessoas tinham passado por aqui. Apenas para confirmar, subo rapidamente em uma árvore e olho para o chão, eram imperceptíveis para quase todas as pessoas, mas eu podia ver com clareza. Resolvo voltar pelas árvores até a caverna, a gente precisa de um plano.
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O doce sabor dos insultos
RomanceKaren e Hack nunca se deram muito bem. Um cara retardado que sempre surge do nada, pensa ela. Uma garota chata que cai do nada, pensa ele. Mas, uma importante missão do chefe da agência, envia ambos para longe do conforto, e colocando-os para trabal...