Capítulo 17

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    Ao me deitar, tenho dificuldade em pegar no sono. Sinto como se a minha cabeça estivesse machucada, doía muito encostar minha cabeça no chão, mesmo com o apoio do saco de dormir. Colo minhas mãos, mas ainda assim sinto dor. Respiro e inspiro calmamente, na esperança de que isso faça a dor parar. Após um longo tempo, on sono finalmente me invade.
    Acordo aparentemente não sentindo nada, mas quando ergo a cabeça, sinto a dor latejando do lado direito. Sinto um gosto amargo na boca. Um enjôo também me invade. Não estou bem. Deito novamente incapaz de aguentar a dor e o enjôo. Olho para o lado e vejo que o Hak já se levantou.Vejo que a sacola de pães que eu trouxe, estava faltando um. Eu preciso chegar até a mochila para pegar os analgésicos. Não os tomei ontem, achando que o sono se encarregaria de curar a dor que ainda restava. Pelo visto o sono não funcionou tão bem. Na segunda vez que tento levantar, a dor bate e rebate dentro da minha cabeça como um sino de igreja sendo tocado. A dor é tanta que caio no saco de dormir, fazendo a dor reverberar.
     — Eu desisto... — murmuro em meio as pancadas de dor.

                           Hak.

    Olho para a direção da casa de madeira. E torço para que o plano da Karen tenha dado certo, espero que eles não lembre que ela esteve lá, e também não percebam seu pequeno furto. Deixei ela dormindo e espero que ela esteja bem. Como um dos pães, tenho certeza que ela arrancará um fígado meu por não ter falado com ela, ela é muito ciumenta com suas comidas.
    Volto para a caverna esperando que ela já esteja de pé, mas encontro ela ainda deitada, porém acordada. Será que ficou com preguiça?
    — Levanta preguiçosa.
    — Por favor fale mais baixo... — sussurrou.
    — Desculpa. — sussurro de volta — Ainda tá com dor?
    — Sim... Você pode pegar os analgésicos para mim? Parece que minha cabeça vai explodir...
    — Também né, a coitada não tava acostumada a ser usada... — brinco com ela.
    Ela gargalha mas logo faz careta e para de rir gemendo de dor.
     — Engraçadinho.
     Pego o remédio e o cantil de água. Ela tenta levantar mas parece ser uma batalha difícil para ela. Levanto sua cabeça levemente e sento, deixando sua cabeça sobre meu colo. Ela pega o comprimido e põe na boca, em seguida bebe a água.
     — Espero que não conte a ninguém isso.
     — Que estou em seu colo? Jamais!
     — E também, que ajudei a tirar sua roupa ontem.
     — Concordo, iria estragar minha reputação.
     — Quer comer agora?
     — Estou sem fome.
     — O quê? — minha voz sai alto.
     — Não grite...
     — Desculpa... Mas como assim você está sem fome? Como isso é possível?
     — Estou enjoada, mas os analgésicos vão ajudar.
     — Nossa... Você tá realmente mal, não quer nem comer.
     — Eu acho que também preciso dormir um pouco mais.
     — Dorminhoca.
     — Quanto a missão... Acho que você deveria ir sozinho, eu vou ficar bem aqui.
     — Eu ia sozinho mesmo.
     — Nossa.
     Deixo alguns pães perto dela.
     — Não acredito que vou dizer isso, mas... Tenta comer.
     — Vou tentar. Me conta as fofocas de lá.
     — Tá bom.
     Deixo a Karen descansado e vou em direção a casa, esperando que o capitão não tenha saído ainda.

     No caminho da casa de madeira, vejo um dois caras fazendo o mesmo percurso. Era o medroso. Mas pelo jeito que caminhava, não parecia muito bem. Parece que não foi só a Karen que saiu ferrada disso tudo. Ele caminha com dificuldade, às vezes tropeça e cai. Levanta e continua andando. Como naquela música: nóis trupica mas num cai, pode botar fé que desse jeito vai...

     De cima das árvores continuei acompanhando o cara. Leva muito tempo pra chegar na casa do meio da clareira. Ele faz a batida e o capitão aparece irritado na porta.
     — Não faça tanto barulho!
     — Desculpe chefe!
     — Onde está o outro?
     — Não conseguiu levantar.
     — Ainda bem... Vamos, entre logo, essa luz está queimando meus olhos.
    Eles entram e vou para o telhado ouvir a conversa, mas não houve muito disso. Ouvi nada mais do que resmungos e som de objetos se arrastando no chão. Parece que estão arrumando para sair.
     — Me ajude aqui, garoto. — o velho capitão murmura, não ouço resposta do garoto, talvez ele balance a cabeça, ou não, já que está com dor.
     — Posso ir com o senhor? — a voz do medroso soa trêmula.
     — Desculpe garoto.
     Eles não disseram mais nada. Só os barulhos de objetos de madeira podem ser ouvidos. Lembro da Karen sozinha na caverna e com dor de cabeça, mal conseguindo se levantar. Se alguém a encontrasse... Sei que ela me surpreendeu ao lidar com três homens apenas batendo papo mentalmente. Pelo teor da conversa desses dois, o velho realmente achou que um dos dois é que tinha rido dele. Uma vontade de rir me invade ao imaginar como foi toda a situação, me sinto triste por não ter visto nada. Não quis admitir, mas não senti segurança em deixar a Karen sozinha, mas sei que ela sabe se cuidar.
     — Espero que dê tudo certo, senhor.
     Ouço eles se aproximarem da porta e permaneço quieto. Observo o cara mais novo seguir seu caminho de volta para a cabana, ainda tampando os olhos e cambaleando. O velho capitão tem uma mala na mão e uma mochila nas costas e tranca a porta da casa. Ele se dirige a uma direção e eu, sigo casa passo seu.

     Ele anda determinado pela floresta, não posso ver seu rosto, mas pela forma como suas costas estão, posso crer que sua expressão é concentrada. Sobre as árvores, tomando cuidado para não ser visto e nem ouvido, vejo que há um padrão nas árvores, é bem sutil, mas consigo ver o caminho por mim mesmo. Aprendi com o Josh a sacar coisas assim.
     A caminhada é tão longa que a noite chega e o capitão para, tira um saco de dormir na mochila e se deita ali mesmo no chão. Deve ser doido de dormir no chão, se uma aranha te pegar tu já era. Não pensei que seria tão longe. E se a Karen achar que algo aconteceu? E se ela vier atrás de mim? Deito no galho e me convenço de que a Karen vai saber se virar. De que ela sabe que eu sei me virar.

                          Karen.

     Acordo me sentindo cansada, mas sem dor. Não faço ideia de que horas são. Quando me deitei de novo era dia, e agora a noite voltou.
Me sinto confusa e faminta. Hak não está aqui e me sinto sozinha. Ainda sinto o gosto amargo na boca, mas a dor foi embora e isso já basta.
     Me levanto esperando a dor, mas dessa vez ela não vem. Respiro me sentindo aliviada. Me sinto fraca. Não sei quanto tempo faz que comi. Devo ter dormido por horas seguidas. Meu pai jamais deixaria isso acontecer. Vou até o pacote de pão. O safado do Hak pegou alguns!
Como um pãozinho e acabo babando. A fome que eu sinto é tanta que o devoro em segundos. Minha vontade é pegar outro pão. Mas sei que tenho que guardar. Olho pra o canto e vejo algumas frutas. Sorrio, ah o safadinho deixou algumas frutinhas pra mim, que fofo! Mas ainda não perdôo ele ter pego os pães.
     Sinto que um banho pode me ajudar. Ainda ando um pouco cambaleante, eu me sentia morta. Tiro a roupa sem muita cerimônia, vou até o meio do rio e mergulho . Deixo que o ar saia em pequenas bolhas da minha boca. As bolhas fazem cócegas no meu rosto. Volto pra superfície e respiro o ar. Repito esse processo algumas vezes e então mergulho outra vez. Com as mãos sinto o solo sob a água, encontro argila e pego com a mão cheia. Volto a superfície e esfrego a argila no meu rosto, corpo e me limpo. Volto para o fundo para pegar mais e esfrego o cabelo. Eu iria continuar me sentindo cansada até poder dormir de novo. Mas depois de tanto tempo, eu não sinto sono. Enquanto me seco ao sol, penteio meus cabelos com as mãos. Hak tá demorando muito pra voltar. Seja lá pra onde o cara foi deve ser longe. Espero que ele tenha sucesso.

                           Hak.

      Fico apenas deitado e não durmo, fico sempre atento. O capitão também parece não dormir, é difícil, sabendo que algum animal peçonhento pode morder ele a qualquer momento. No meio da noite ele levanta e retorna sua caminhada. E eu continuo seguindo ele. Já tínhamos andando muito quando ele para de repente diante de uma árvore. Ela parece ser mais velha. Ele aperta alguns botões e presto muita atenção, decoro a sequência. Faço uma nota mental para anotar no verso do mapa, onde o telefone do tal Erik já estava anotado. Uma voz robótica sai de dentro da árvore, ele pede um código. O homem fala uma série de números que logo decoro também. A voz robótica agradece e pede para que ele limpe a entrada, o capitão dá alguns passos e passa o pé no chão arrastando folhas e terra. O barulho que faz quando ele arrasta o pé, é de algo arranhando metal. O lugar que ele limpou levanta como um alçapão, revelando uma escada. Ele entra e penso como ir atrás dele. Eu posso entrar e descobrir um grande segredo ou posso acabar sendo pego.

      O que devo fazer?
   

     
    
    
    
   
   

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