Hak.
- De barriguinha cheia? - Karen surge ao meu lado, já vestida.
- Sim. Tô de barriga cheia, obrigado.
Ela sorri em resposta. Mas está mais silenciosa do que de costume. Me levanto e vou ao banheiro, no momento em que olho para a cômoda lembro o que aconteceu. Vou até o espelho e procuro meu reflexo. Vejo apenas as minhas roupas. Isso é um inferno! Karen iria fazer piada agora. Ah Karen! Merda! O que foi que a gente fez? Nunca pensei que um dia eu fosse transar com ela, não me sinto totalmente atraído, além de que, meu irmão, mesmo que não queira admitir, é apaixonado por ela. Não era pra eu tocar nela. Mas então ela me dá seu sangue e isso acontece.
Lavo o rosto e volto para o quarto, e tento esquecer seus gemidos no meu ouvido e o sabor do seu sangue. Tento não lembrar da sua mão apertando meu ombro com força enquanto eu a penetrava loucamente, como se minha vida dependesse disso. Mas as memórias continuam vindo, e junto com elas a excitação. Não! Eu me recuso a pensar nisso! havia uma questão muito importante agora.
- Olha o sofá ali. - aponto ao ver ela deitada na cama.
- Eu tô vendo. Muito obrigada por me mostrar. - sua voz soa engraçada pois está com a bochecha esmagada no travesseiro.
- É pra você deitar lá.
- Ah... Legal, por que você não experimenta antes de mim?
- A gente não pode dormir na mesma cama Karen.
- Porque a gente acabou de transar? Acredite em mim não tô afim de ir de novo. - ela gargalha.
- Nem eu, mas não quero deitar na mesma cama que você. - de jeito nenhum que encosto nesse corpo de novo.
- Calma dentuço! Eu tenho várias idéias. A primeira por exemplo é a gente dividir a cama com travesseiros. Eu fico de um lado e você do outro.
- Hmmm... - até que a danada teve uma boa ideia - Tá bom, então levanta e vamos fazer isso logo.
- Tô esperando o serviço de quarto.
- De novo?
- Fiquei muito tempo sem comer comida decente, estou com fome de meses! Então sim, pedi comida de novo. Você já está de barriga cheia mas eu não.
- Sobre isso, a gente tem que conversar.
- Não estou afim de repetir, pronto?
- Nem eu.
- Então?
Suspiro exasperado.
- Foi bom. - ela levanta e se senta na cama - Não foi o melhor sexo da minha vida, mas deu pro gasto.
- Digo o mesmo de você. Em uma escala de um a dez, você está em 9,9. - sorrio - Perdeu ponto por ser chata.- Obrigada! - ela levanta a sobrancelha - Não te recomendo pra minhas amigas, por que não quero que elas saibam que nós dois já transamos.
- De boa, já peguei elas mesmo. Elas já sabem do meu potencial.
Gargalhamos durante um bom tempo. Então a camareira chama para entregar a comida da Karen. Ela olha para a torta de frango como se aquilo fosse a coisa mais bela que ela já viu.
- Dentuço! - ela vocifer, do nada.
Levanto as mãos sem entender seu pequeno surto.
- Não me sinto bem te elogiando sabe.
- Eu sei, eu também não, a gente devia falar algumas coisas feias um pra o outro agora. Pra equilibrar.
- Sim, exatamente.
- Cabelo de palha de milho! - aponto.
- Sanguessuga!
- Unha de cavador!
- Te chamaram no hospital, querem as bolsas de sangue de volta!
- Como sabe disso?
- Ladrão? - ela me olha confusa o garfo está parado no ar.
- Não... Eu tava brincando...
- Seu monstro! Você roubou o sangue de pessoas que realmente precisam!
- Eu precisava mais!
- Zé Ruela.
- Mariquinha!
- É...Droga! Deu branco. - ela põe a bandeja sobre o criado mudo e começa a pegar os travesseiros.
- Ganhei!
- Me ajuda aqui! Seu animal!
Pego alguns travesseiros e começo a organizar fazendo um pequeno muro. Peguei o cobertor mais macio e coloquei do meu lado.
- O defunto tá com frio? - ela ironiza.
Apenas me deito e me enrolo. Mas como nem tudo são flores, o meu cobertor é puxado de cima de mim. Seguro com força e vejo um sorriso sarcástico na cara da Karen.
- A gente tem que dividir o cobertor certinho.
- Não. Eu quero dormir.
- Você só dorme de dia!
- Eu durmo na hora em que eu quiser!
- Cavalo!
- Má noite pra você, branquela.
- Você pegou a coberta mais quentinha!
- É por que sou mais rápido.
- E você acha que isso é um elogio? - engraçadinha, vou morder ela de novo, na costela!
- Você é do gelo! Nem sente frio.
- Quando eu tô doente eu sinto.
- E você tá doente?
- Um pouco.
- Então fica longe de mim pra não passar pra mim.- Acho que é meio tarde pra você, e aliás, você não pode ficar doente. Já tá morto.
- Essa piada é velha.
- Mas nunca perde a graça.
- Humm.
Karen se levanta e apaga a luz, depois se deita e se ajeita no seu lado da cama.
- Durma mal, dentuçinho. - ela apaga o abajur.
- Durma mal, esquisita.Maldita Karen! Parece até que ela fez uma conjuração! Eu realmente não consigo dormir. Vamos ser adultos, Hak. O sexo foi bom, sim, ela é um papel em branco, certamente, mas é um desenho muito gostoso... E a cômoda não para de me acusar! Karen não é experiente como as meninas que costumo ficar, mas também não foi tão ruim. Mas o fato de ter sido com a garota que meu irmão gosta me mata. Não houve sentimentos, disso eu tenho certeza, mas ainda assim... Me sinto o maior talarico da história.
Levanto e vejo a Karen apagada na cama. Dormindo igual a um... Não um bebê, com certeza, igual uma pedra. Ela tá tão parada que até parece estar morta. Ela deve estar bem cansada, e depois de eu ter bebido o sangue dela, deve estar no mínimo com uma vertigem.
Vou até a grande janela e observo as luzes da cidade. A Karen disse que conseguiu mandar um recado para o Josh, mas até agora nada. Talvez ela tenha falhado. Queria sair e ver se encontro uma maneira de sairmos daqui, mas não é uma boa ideia deixar a Karen sozinha, ainda mais agora que está vulnerável.
Volto para a cama e me deito. Olho para o teto e fico analisando lustre do quarto, cada detalhe, cada cristal de vidro. Tento relaxar, até que um sono leve, toma conta de mim.Em algum momento do meu sono, sinto alguém se aproximando do nosso quarto. Na mesma hora fico em alerta, está chegando perto da porta, ouço duas batidas.
- Serviço de quarto! - uma voz aguda feminina ressoa no quarto.
Karen continua na mesma posição. Não se mexe, sequer acordou. Nós não pedimos serviço de quarto. Não é possível que já tenham nos achado. Ou seria o Josh?
Cutuco a Karen até que ela abre os olhos, ainda sonolenta.
- O que... - ela murmura, mas eu peço silêncio.
- Shiiiiiiu!
Mais duas batidas.
- Serviço de quarto!
- Tô indo! - Karen parece um pouco mais desperta e se levanta.
- Karen! Pode ser uma armadilha! - sussurro pra ela.
- Não é. - ela abre a porta e eu me desespero - Hmmm... Parece estar bom, muito obrigada!
- De nada senhorita.
Ela fecha a porta e trás a grande bandeja. Ela olha para comida e seus olhos se arregalam, um sorriso largo toma conta de seu rosto.
- Não é uma armadilha?
- Fui eu que pedi.
- Quando?
- Agorinha de manhã.
- Eu não vi.
- Claro, você tava dormindo. Mas não é essa a questão.
- E qual é a questão?
- Olha. - ela sorri de novo.
Me inclino e vejo um monte de comida na bandeja.
- Muita comida para um ser humano, ainda bem que você tem um buraco negro no estômago.
- Olhe mais atentamente, use seu cérebro.
Olho mais uma vez e vejo. Achei que fossem apenas os buracos normais da torrada. Mas algumas se uniram e formaram uma palavra. Chionos.
- O que é?
- Pense melhor.
O que é Chionos? Chionos... Chionos... Chronos? Não...De repente eu entendo. É o que a Karen é, o apelido, o poder dela. Isso só pode significar que estamos perto de ser resgatados. Restam agora as instruções.
- Bom, vou decodificar o resto com meu estômago.
- Come com cuidado. Pode ter outras mensagens aí.
- Tranquilo.
No meio da comida, vimos mais uma peça do quebra cabeças. Havia um endereço. Estava escrito em dez idiomas diferentes, e em dois códigos diferentes. Além disso, bem escondido da torrada, na geleia, na manteiga, no café... Mas agora temos certeza. Basta seguir a orientação e ser resgatados, voltar para casa, e dormir por três dias seguidos.
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O doce sabor dos insultos
RomanceKaren e Hack nunca se deram muito bem. Um cara retardado que sempre surge do nada, pensa ela. Uma garota chata que cai do nada, pensa ele. Mas, uma importante missão do chefe da agência, envia ambos para longe do conforto, e colocando-os para trabal...