Capítulo 18

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Karen.

Já faz um tempo que não vejo o Hak. Se eu não o conhecesse bem diria que foi pego. Mas como sei bem quem é o Haknógrafo, é assim que eu o chamo, ele deve ter achado algo muito interessante.

Eu não suporto ficar parada, gosto de estar em movimento, lendo, estudando, cantando, ouvindo música ou dançando, comendo... Mas ficar esperando não é algo que me agrade. Eu preciso usar minha cabeça e fazer algo além de ficar esperando o Hak voltar.
Levanto determinada, e vou em direção a casa de madeira que fica no meio de uma clareia na floresta. Onde alguns homens, dos quais estamos desconfiados, se reúnem para falar de veneno. Parece até eu e minhas irmãs nós reunindo para fofocar.
Enquanto subo na árvore, lembro mais uma vez da minha família. No início eu não sofria tanto mas ultimamente eu tenho sentido tanta saudades que chega a doer. Pulo pelos galhos e chego na cabana dos pesquisadores. Vou atrás da cabana e vejo que um dos caras está estudando algumas substâncias, ele tem uma expressão mortal no rosto, nunca vi alguém tão irritado, espera já vi sim. Não sei o que o deixou irritado, contanto que não seja comigo, não ligo.
Me pergunto onde o outro, o parceiro dele está. Volto para as árvores e sigo o caminho das mini Karens. Toda vez que as vejo, sinto uma vontade de chutar a bunda do Hak. Chego na casa de madeira. Como eu queria saber se eles estão aí. Vou na parte detrás da casa e encosto o ouvido na parede, não ouço nenhum barulho. Seria tão mais fácil se eu pudesse me teleportar para dentro.

Hak.

Coloco uma máscara no rosto e fico diante da árvore aonde o velho capitão estava, penso nas minhas opções. Definitivamente não tem como eu saber o que há lá, só entrando pra descobrir. Não há plantas e nem scaner. Tudo o que tenho sou eu mesmo. No fim escolho confiar nas minhas capacidades. Eu vou ter que fazer o possível para continuar discreto, dessa vez mais que nunca nessa missão, a Karen já foi ouvida por eles, ela conseguiu contornar, mas ainda assim foi perigoso.
Coloco nos botões, na mesma sequência que o capitão tinha colocado. A voz robótica pergunta e respondo com a voz mais séria e grave que consigo, o robô carinhosamente pede que a entrada da escada seja limpa. Com a bota, repito o movimento feito pelo capitão. A escada se abre para mim. É tudo escuro lá dentro. Perfeito pra mim.

Karen.

Após sondar a casa com o ouvido eu posso finalmente constatar: está vazia! Um sorriso invade meu rosto, vou poder roub... Quero dizer, pegar emprestado sem intenção de devolver... Pães! Pãezinhos doces e deliciosos que matam a fome melhor do que aquelas frutinhas. Coloco a máscara e vou até a entrada e dou meu jeito de abrir a porta. Entro e fecho a porta, de forma cuidadosa para não me trancar aqui. Tudo está como da última vez, exceto por uma maleta que estava sobre o armário. Ando pela casa e então vou para o lugar que eu mais ansiava pra ir. A cozinha!
- Que saudades!- sussurro.
Não vejo nada de interessante, além da comida é claro, mas sei que já roubei demais. Se eu pegar mas alguma coisa eles podem suspeitar. Então, com um aperto no coração, saio e vou até a entrada novamente. Realmente não há ninguém aqui.
Atento os ouvidos e saio da casa. Vou para uma árvore e começo a pensar para onde eles poderiam ir. Fecho os olhos e relembro do mapa, de todos lugares que andamos e marcamos. A gente parou de andar assim que vimos os caras. Mas lembro de uma direção que não andamos, e é pra lá que eu vou.

Hak.

A escada se fecha atrás de mim, jogando um pouco de poeira para dentro do lugar. Enxergo o lugar, a escada é realmente longa. Começo a descer tomando cuidado para não fazer barulho. Lá embaixo há um extenso corredor, as paredes parecem ser de concreto. Caminho silenciosamente e observo tudo ao meu redor, aonde o velho foi?
Vejo algumas portas e ponho meu ouvido pra escutar, não ouço nada e então giro a maçaneta, está aberta. Entro e está escuro, mas encontro um monte de bagunça, vassouras e panos. Isso tá mais bagunçado que meu quarto. Saio e continuo andando. Ouço um assobio e passos, verifico outra maçaneta e entro fechando a porta o mais silencioso possível. Me escondo atrás da porta e observo o quarto que entrei. Dessa vez não sei tanta sorte, tem lixo aqui. A porta se abre e mantenho a respiração calma e lenta. Um saco de lixo é jogado, depois outro e outro. A porta é fechada e o assobio continua. Que lugar bizarro.

Karen.

Enquanto ando, calculo em minha mente o quanto estou andando, para anotar no mapa. Eu espero que o Hak não fique de kiriki por eu ter saído da caverna. Ele certamente tomaria um susto ao me ver. Em certo momento meu pé escorrega no galho e quase caio de cima da árvore. Por instinto, segurei o galho com as mãos, respiro fundo e volto para cima. Eu tenho que tomar mais cuidado. Seria ridículo cair aqui e ficar sangrando até alguém aparecer. Me equilibro sobre o galho e dessa vez vou um pouco mais devagar.
Penso que talvez seja melhor em terra, meu pavor volta, as últimas vezes que cai de um lugar... Da dor que senti, mas lá os médicos fizeram milagres, aqui eu estou sozinha.
Desço ao chão e dou passos rápidos. Era mais difícil averiguar tudo aqui de baixo, então dou passos mais devagar. Fico atenta a tudo, como em um jogo de sete erros, tento achar algo que não se encaixe ali. Tudo parece ser perfeitamente normal, começo a listar o que vejo, na minha mente, um tronco de árvore com fungos sobre ele, há algumas plantas lindas e coloridas, insetos rastejando ou voando, Luise morreria se estivesse aqui. Há outros animais escondidos nas árvores. Mas uma coisa chama minha atenção. Um barulho de helicóptero.

Hak.

O homem que jogou o lixo no quarto parece ser a única alma viva desse lugar, olho atentamente antes de virar o corredor. Encontro mais portas, ouço uma discussão ao longe e sigo o som, primeiro porque pode ter uma informação importante para a missão, e segundo, porque eu gosto de uns boa briga. A frente parece ter uma bifurcação. Mas antes que eu decida, ouço mais passos e vindo em minha direção. Me concentrando, uso o vento para fazer o rosto do indivíduo olhar para uma direção oposta, me agacho e o homem passa sem perceber minha presença, sigo pela parede e me concentro na conversa. Escolho o caminho de onde ela vem e sigo andando.

Karen.

Não penso duas vezes. Sigo a direção do helicóptero o mais rápido que posso. Corro por entre as árvores e pulo sobre os galhos, me concentro no caminho para não cair e no céu para não perder ele de vista. Quando percebo que ele está prestes a pousar, me escondo atrás de alguns arbustos. Olho através de algumas folhas e vejo ele descer em uma clareira, ainda maior que a da casa de madeira. Vejo um homem sair segurando uma mochila e uma espécie de aparelho nas mãos. Um outro homem sai, e se inclina para pegar algo no helicóptero, me assusto com o que vejo, o homem está segurando uma criança que está inconsciente. Eles andam e o helicóptero levanta vôo, se afastando. Já os dois homens, seguem para o lado. Vou contornando e seguindo eles, até que param em um lugar. Eles falam ao telefone. Contorno e fico atrás deles. O chão próximo a eles treme, pedrinhas começam a saltitar e então um quadrado se forma na terra, que começa a descer em forma de quadrado. Um elevador! Com cautela, me aproximo deles e fico quieta e respiro devagar. A estrutura desce e vai escurecendo. Não faço ideia de onde vou parar.

Hak.

Finalmente encontro a porta de onde os sons de conversa ecoam. Pelo que ouço há pelo menos dez pessoas falando. O idioma usado por eles é o inglês, vejo alguns sotaques e termos diferentes, com certeza são de países diferentes. Não posso ficar da porta escutando, preciso entrar e ver. Olho ao redor procurando dutos. Encontro um e sem pressa uso meu velho canivete para abrir e entrar. Fecho e sigo me arrastando ali. Espero não ter pego o duto errado. Me movo com o maior cuidado para não fazer barulho e chamar atenção. Então, para minha alegria, começo a ouvir toda a conversa em alto e bom som.
- Eu só acho que temos do que o suficiente!
- Você não entende, a gente tem que ter a melhor arma, você não sabe do que eles são capazes.
- Eu sei exatamente, mas a gente tem que ser mais cauteloso.
- A gente já tá demorando demais nisso, quanto mais a gente demora, mais damos chances do inimigo encontrar a gente.
A discussão entre eles parece acalorada, e agora sei que tô no lugar certo.

O doce sabor dos insultos Onde histórias criam vida. Descubra agora