Hello darkness my old frind... Eu cantarolava enquanto caminhava na escuridão. Era o tipo de coisa que eu não deveria estar fazendo em uma missão como essa. Eu deveria estar silenciosa, olhando com atenção, mas após uma hora de caminhada eu já não aguentava mais, era o mesmo deserto frio, com animais fazendo barulho e algumas estrelas pintando o céu, nenhuma alma viva em todo cenário e o tédio agora parecia um ser gigante e mau que me esmurrava. Então comecei a cantar para passar o tempo.
Olho para o aparelho que estava medindo quantos metros eu tinha que andar. Ainda faltava um pouco. Hak estaria em algum lugar do deserto fazendo a mesma coisa, espero do fundo do coração que ele tenha achado alguma coisa.
Cheguei ao limite de metros e olhei em volta. Era a mesma coisa, lagartos estranhos andando, cangurus pulando, emas dormindo e uma aranha gigante vindo na minha direção, era a mesma coisa de sempre e eu tava morrendo de sono. Espera, eu disse que tinha uma aranha gigante correndo na minha direção? Olho pra trás e vejo o ser mais feio e nojento, em proporções muito maiores do que eu conhecia, meu corpo inteiro gelou, senti cada pelo do meu corpo se arrepiar, meus pulmões pararam e vi cada detalhe daquele bicho asqueroso, as patas se moviam com facilidade, senti algo dentro de mim gritar, ouvi um grito alto e estridente, percebi que o grito saia de mim.
Começo a correr em direção a floresta, eu ainda gritava, a aranha continuava atrás de mim, eu não entendia o porquê de aquela aranha estar me perseguindo, olho para trás e acabo trombando em algo, talvez uma árvore. Aquilo tinha doído. Caí no chão sentindo meus seios reclamarem do impacto.
— Por que você está correndo?
— Uma aranha... — tento respirar e olho atônita — gigante... Atrás... De mim...
— Que aranha? — Hak franze as sobrancelhas com ar de confuso.
— Estava... Atrás de mim...
Hak olha para o chão e avista o bicho.
— Ah... Achei...
Ele pisa na aranha que é um pouco maior do que o pé dele, a aranha tenta reagir. Ele gira o pé no chão arrancando uma das patas da feiosa no processo. Ele retira o pé e a aranha começa a tremer com as patas restantes. Em todo momento eu estava paralisada no chão, apenas vendo a cena.
— Viu só? Tá morta.
Balanço a cabeça ainda em choque, o fato dela ainda estar tremendo me apavorava, mesmo que eu a tenha visto morrer. Hak respira fundo, e sai. Ele volta com um isqueiro no mão, pega algumas folhas secas e retira as que estão perto do bicho, ele acende o isqueiro e põe fogo. Ficamos ali olhando o inseto queimar, leva um tempo até que cada parte da aranha se queime.
— Prontinho? — Hak olha pra mim mas eu ainda estava assustada.
— Ainda falta uma pata...
Ele suspira novamente e põe fogo na pata restante. Levanto devagar e voltamos para o acampamento. Apesar de ter visto a aranha em chamas, eu continuo olhando freneticamente para todos lados, o medo de aparecer outra do nada... Os animais da Austrália são de outro nível! Que saudades da minha casinha...
— Eu não encontrei nada de interessante na ronda que fiz. E você?
Hak fala da missão... Como todo esse susto eu esqueci do que eu tinha ido fazer.
— Nadica de nada. — faço um bico frustrado.
— Então a gente tem que aumentar a área de...
— Aaaaaaaaaah— grito e salto para o lado oposto.
— O que deu em você?
— Eu senti algo tocando em mim, mas não era nada... — ufa!
— Como eu dizendo, vamos aumentar a área que a gente vai andar amanhã. O dia está amanhecendo. Vamos dormir.
— Não acredito que você me fez virar uma vampira também... — abro meu saco de dormir e começo a averiguar com uma lanterna.
— Mas eu não te transformei!
— Eu tô dormindo de dia e trabalhando de noite! — sacudo o saco de dormir apenas para garantir.
— Você quer andar debaixo do sol? Boa sorte!
— Não mesmo, mas essa rotina é horrível!
— Depois de um tempo você se acostuma.
— Humm...
Me ajeito e olho para cada canto antes de me deitar. Eu sentia uma paranóia que me dizia que havia alguma aranha algum lugar, e que poderia cair na minha cabeça. Fecho os olhos, mas a sensação não vai embora. Ao longe o sol começava a iluminar tudo. Qualquer coisa é só abrir os olhos. Apesar de toda a agitação, eu fui tomada pelo sono, que de maneira poética, me tomou em seus braços.
Sinto formigamento por todo o meu corpo, olho e vejo centenas de aranhas que caíam do céu, elas andavam sobre meu corpo, começo a gritar de terror, as aranhas começam a entrar pela minha boca...
— Acorde!! Karen, acorde!!!
Hak me segura e balança meu corpo me forçando a acordar. Dou de cara com seu rosto e paro os gritos. Meu coração palpitava forte, eu podia ouvir cada batida martelando meu ouvido. Eu respirava muito rápido.
— Tinha um montão de aranhas andando em mim!!!
— Não tinha não! Foi tudo um sonho!
— Um sonho não! Um pesadelo!
— Tá! Mas o pesadelo já passou!
Respiro fundo e me levanto, olho meu corpo e passo a mão nas costas esperando não encontrar nada, prendo o cabelo em uma enorme polpa que rapidamente se desmancha pelo peso dos fios.
— Preciso de algo para prender ele...
— Que tal uma corda?
— Não seja ridículo.
Hak solta uma gargalhada e pega um cordão.
— Vem cá.
Aperto os olhos, eu estava com medo, mas eu não queria pular toda vez que meu próprio cabelo encostasse em mim, então me aproximo do Hak, ainda com olhos apertados e viro de costas para ele. Ele coloca suas mãos em meus ombros me forçando pra baixo.
— Abaixa!
Muito a contra gosto, me abaixo. Ele começa a pegar meu cabelo, mas alguns fios caem, quando ele tenta pegar estes, outros seguem o mesmo caminho.
— Droga!
— Não é tão fácil quanto parece né? — dou um sorriso.
— Eu desmancho cabelos! Não arrumo!
— Para de chororô! Vou te ensinar.
Ele suspira e solta o cabelo.
— Primeiro você pega por baixo.
Os dedos do Hak roçam na minha nuca, me causando arrepios. Mas não me distraio.
— Segure firme com uma mão e pegue os da frente.
Ele segura com força, quase me puxando, ele segura meu cabelo com as duas mãos.
— Quantos quilômetros tem isso?
— Segura tudo com uma mão e começa a enrolar o cordão.
Sinto ele começar a prender meu cabelo, aos poucos meu cabelo fica firme no lugar, até ter uma rabo de cavalo bem preso.
— Agora a parte mais difícil.
— Essa não foi a parte mais difícil?
Dou risada da situação e pego a base do rabo de cavalo e começo a enrolar formando uma polpa.
— Agora prende aqui.
— Tá bom.
Seus dedos tocam de leve minha orelha antes de ele começar a prender a polpa, depois de muito bem enrolada, levanto e ouço o Hak suspirar, talvez de frustração.
— Prontinho, agora você está especializado em prender cabelos!
— Não que eu vá precisar — ele me dá um meio olhar e um meio sorriso.
— Bla bla bla blá...
A noite chegava novamente, pego o mapa e voltamos a analisar.
— Temos que olhar nesta área.
Hak aponta para o local no mapa. Eu sentia cansaço só de olhar para o tanto que eu teria que andar.
— Eu vou por aqui — digo e levanto.
— Ok. Boa sorte para você, medrosa.
— Boa sorte para você, Zé Mané.
Decido pegar a direção do rio para baixo, certeza que me levaria a algum lugar. Todos precisam de água. Até homens horríveis que pegam crianças para planos malignos.
Chego ao deserto novamente, mas próximo ao rio, há algumas vegetações, pequenas, mas estão aqui, alguns animais bebem das águas do rio.
Olho para o medidor e sinto o desespero, ainda havia muito para andar, até porque eu teria que andar muito mais hoje. Pelo menos minhas pernas vão ficar bem fortes! Eu poderia chutar melhor meus inimigos! Arrasar ainda mais nos ensaios com as cheerleaders.
O que o Kieran acharia delas? Paro instantâneamente e começo a varrer o ar com a mão. Respiro fundo. Esse não era o momento de pensar nisso, sinto uma dor no peito e respiro novamente. Eu realmente não devo pensar nisso.
A missão! Eu e o dentuço do Hak tínhamos que encontrar a base dos homens maus! Temos que achar eles e prender eles! Fazer eles confessar e depois... Bam! Sinto minha testa bater em algo. Eu tinha trombado em uma árvore. Me afasto e esfrego a testa, olho para frente e vejo que eu estava em outra floresta, ela era muito maior. Havia muitas espécies de árvores e de plantas, eu podia ouvir o som forte da água. Olho para o medidor e percebo que andei muito mais do que deveria, mas encontrei outra floresta... E das boas! Tiro uma screenshot da coordenada e começo a voltar, embaraço em algumas plantas e acabo machucando minhas mãos em alguns espinhos. Alguns galhos se prendem a meu cabelo e consigo sair da floresta. Estava tão distraída que entrei fundo ali.
Após andar muito, muito mesmo! Chego ao acampamento e procuro pelo Hak, Achei uma floresta!
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O doce sabor dos insultos
RomanceKaren e Hack nunca se deram muito bem. Um cara retardado que sempre surge do nada, pensa ela. Uma garota chata que cai do nada, pensa ele. Mas, uma importante missão do chefe da agência, envia ambos para longe do conforto, e colocando-os para trabal...