Capítulo 11

26 8 43
                                    

Karen.


   Como os poderes surgiram? Genética? Aliens? A partir de qual momento, as pessoas passaram a ter habilidades especiais? Por que organizações boas e más escondem isso da população comum? Essas habilidades ajudariam as pessoas? Acabaram com fome? Com o crime? E se todas a pessoas já possuem uma habilidade dentro de si, mas simplesmente nunca soube como usar? Talvez você já tenha habilidades que te fariam ir muito longe, mas nunca se esforçou o suficiente? Posso dizer que todo ser humano nasce com a mais perfeita habilidade que existe: a criatividade.

      Enquanto caminho, penso em várias coisas, olho cada árvore e pedra, mas a minha mente não para. Não havia qualquer sinal de humanos ali. Lembro das minhas irmãs e sinto saudades, pouco mais de uma semana tinha se passado. E realmente, eu nunca tinha passado mais de uma noite longe delas. Sinto falta do calor e da fofura da May, assim como as comidas que ela faz. Sinto falta de conversar com a Luise, e da sabedoria dela. Sinto falta de dormir junto com elas, era o que fazíamos quando tinha pesadelos, ou quando uma tempestade assustava elas.

      Vejo frutinhas em arbustos, eu precisava de açúcar. Uso meu poder para fazer uma tigela de gelo. O bom é que meu poder não permitia que o gelo derretesse, bem, só se eu permitisse, eu só precisava impedir que o calor fizesse as moléculas se agitarem. Colho as frutinhas que encontro, e permaneço olhando cada lugar.
      Sinto saudades do meu avô, eu adoro ouvir ele contar histórias, e é sempre engraçado ver ele fugir da cuidadora para não tomar o remédio. Dou risada dessa lembrança. Também sinto falta do meu pai. Ele sempre é profissional e rígido em relação aos negócios da empresa ou da agência. Mas sempre cuida de nós. Lembro do Ian e do Kieran e respiro fundo. Ainda tinha minha plantinha carnívora, a Kiki.  Como vou sobreviver ao resto da missão? Quanto mais rápido a missão terminar, mais rápido poderei revê-los.
      Sinto uma forte motivação, e ando pela floresta. Minha tigela está cheia, seguro com mais cuidado e levo comigo, abraçando a tigela. Mas de repente, alguém pula na minha frente, instintivamente eu chuto o intruso, que segura meu pé. Meus cabelos caem sobre meus olhos, mas mantenho a tigela perto de mim.
      — Karen! — era a voz do Hak — Sou eu!
      Ele solta minha perna e afasta os cabelos da minha cara, seus dedos tocam de leve a pele do meu rosto.
Chuto ele novamente, e outra vez ele segura minha perna.
      — Você me deu um baita susto! — exclamo.
      — Eu achei uma coisa! Você tem que vir comigo.
      — Tá bom...
      Ele se vira e eu chuto de leve a bunda dele.
     — Oxe! Por que tu fez isso?
     Caminho do lado dele, olhando para ele de soslaio.
     — Você realmente me assustou!
     Caminhamos de volta para a caverna e então entro. Hak usa algumas plantas para deixar a caverna mais camuflada do que já era. Coloco a tigela sobre uma pedra e sento sobre outra pedra.
     — O que você achou que é tão importante?
     — Pegadas!
     — Hmmm.. continue.
     — Um rastro de pessoas!
     — Sério?
     — Sim! A gente precisa averiguar pra ver do que se trata.
     — Espera, quão perto isso tá da gente?
     — Muito longe.
     — Isso é bom e ruim.
     — Tá! A gente precisa ir lá conferir. Precisamos saber quem eles são, mas eles não podem perceber que a gente tá lá.
     Ele olha fixamente pra mim.
     — Você tem que ser sutil.
     — Eu sei ser sutil, Hak.
     — Não, você não é! — ele ri.
     — Pense o que quiser.
     — Você fica distraída e cantando.
     — Mas eu olho pra ver se não tem ninguém.
     — Hmmm não sei...
     — Eu já disse! Pense o que quiser, eu não ligo. — pego a tigela e faço um pilão de gelo — Mas pense, como eu consigo pegar tantas comidas da May?
     Ele me olha com um sorriso descarado, mas eu apenas começo a amassar as frutas dentro da tigela, tomando cuidado para não quebrar nada. Foi o tipo de coisa que aprendi com a May. Amassando as frutas com paciência para que ficasse bem homogêneo.
     — O que você tá fazendo? — ele se aproxima de mim.
     — Geleia de frutinhas... Ou sei lá o que.— continuo amassando cuidadosamente.
     — Não devia ser numa panela?
     — Você trouxe uma panela?— cada pergunta...
      — Ah...
      — Ela está congelando aqui na tigela, poderia virar tipo um sorvete, mas sem leite... Não dá.
      — Seria bom...
      — Talvez a gente possa substituir!
      — Mas e a missão, Karen? Você é muito enrolada!
      — Eu estou faminta! Se eu não me alimentar, vou devorar você!
      — Quero ver você tentar!
      Continuo amassando até que vejo que está perfeita. Realmente leite agora seria perfeito. Mas por ora essa "geleia" de frutinhas congeladas seria útil. Usar meu poder estava me deixando cansada, mas não ao ponto de me sentir mal. Um cochilo e eu me sentiria nova. Faço duas colheres pequenas e dou uma para o Hak.
      — Obrigado!
      — Mas não é pra comer tudo! — rujo pra ele.
     Comemos tudo e sentimos uma onda de energia, açúcar era o que nós precisávamos. Hak abre o mapa.
      — Foi aqui que vi as pegadas.
      — Entendi, quando devemos ir lá?
      — O mais rápido possível, mas antes temos que nos preparar.
      — Pode falar.
      — Precisamos ir devagar, eles não podem perceber que estamos lá. — concordo com a cabeça — A gente não tem nenhum dispositivo, então temos que improvisar.
     — Roubar deles, entendi.
     — É... Isso aí, roubar — ele ri — Temos que ir encapuzados. Nossa identidade, principalmente a sua, não deve vazar.
     — Tudo bem.
     — Não podemos usar nossos poderes, isso pode fazer com que eles localizem a gente.
     — Entendi, eu não devo congelar ninguém e você não pode morder os pescoços deles.
     — Se formos vistos de alguma forma... — ele olha fixamente para mim de novo,  reviro os olhos — Temos que apagar eles. Apagar! Não matar.
     Ele abre a mochila e revela armas, duas. Ele entrega uma para mim.
     — Elas vão deixar eles desacordados.
     — Já aprendi algumas técnicas com. Luise.
     — Tá, mas essa é para o caso de você estar muito longe.
     — Apagar a memória deles também é bom.
     — Não temos dispositivos pra isso.
     — Mas temos uma telepata! — sorrio pra ele, ele arregala os olhos, lembrando.
     — Mas isso não machuca?
     — Que fofo se importando com eles! — dou risada.
     — Tô falando de você! Isso deve te cansar muito, e doer também.
     — Ah... Não acredito, você tá preocupado comigo?
     Me lanço sobre o Hak apertando ele com força. Ele esperneia e tenta se soltar.
     — Tô só preocupado com a missão!
     — Awn dentuçinho! Que fofo!
     — Não é nada disso!
     — Admite que não quer que eu machuque!
     — Karen me larga!
     Ele parecia desconfortável com meus seios encostados nele, solto ele e ele solta o ar que parecia estar prendendo.
     — Quando voltarmos vou contar para todos!
     — Entendeu o que é pra fazer?
     Ele se vira e não olha pra mim, se eu conhecesse ele bem diria que... Não! Ele ficou excitado comigo?
      — Roubar, apagar memórias...
      — Ser sutil, Karen! Ser sutil. O plano principal é que não vejam a gente.
      — Taaa, eu sei, Banguela!
      Ele vira o rosto pra mim e aponta.
      — Não!
      — Não, o quê?
      Ele olha pra mim.
      — Banguela não!
      — Mas combina com você!
      — Tem nada a ver!
      — Tem tudo a ver! Agora vamos!
      Pego uma das armas, minha vontade era testar nele, mas aí ia ser muita sacanagem.
      — Então, Dentuço, é só apontar e atirar né? Moleza!
      — Não, você aponta pra sua perna e aperta o gatilho.
      Aponto a arma pra ele.
      — Karen....
      Abaixo a arma.
      — Fica frio.
      — Você que é a rainha do gelo.
      — E eu sou enrolada né?
      Ele abre a mochila e pega um tecido escuro, me entrega um e abre o outro.
      — Esconde essa cara aí.
      — Já se olhou no espelho, Hak?
      — Agora vamos.
      Colocamos a máscara e o Hak me ajuda a esconder todo meu cabelo. Então, ele me guia para fora da caverna, então começamos a andar até o lugar que ele tinha dito, era uma caminhada longa, e eu já tinha andado muito.
      — Não deveríamos descansar?
      — A gente vai perder muito tempo nisso. Não podemos perder eles de vista.
      Minhas pernas doíam. Eu queria parar para descansar, mas a Luise tinha me dito que se a gente está fazendo exercícios e para, a gente não consegue continuar. O que era verdade. Era melhor aproveitar o calor da jornada e chegar logo ao destino, se eu parasse minhas pernas ficariam mais cansadas.
      — Falta muito? — sussurro para o Hak.
      — Estamos quase chegando.
      Mentiroso! Demoramos ainda muito tempo até realmente estarmos perto. Mas, finalmente chegamos perto. Hak sobe em uma  árvore e sigo ele. De lá ele aponta para mais longe no chão.
     — Não vejo nada!
     — Mas está ali, confie em mim.
     Continuo olhando procurando ver o que ele vai, mas não importava, se ele dizia que tinha era porque tinha. Este era o momento de descobrir, o dono ou os donos daquelas pegadas.
     
    
    
     
     
     

O doce sabor dos insultos Onde histórias criam vida. Descubra agora