Hak.
— Tem certeza absoluta que é aqui? — Karen sussurra pra mim.
— Tenho. — respondo um pouco cansado.
Ela bate o pé no chão rápido e suspira toda hora. Karen olha para o relógio na parede da lanchonete mais uma vez. Tudo isso que ela está fazendo me estressa, mas também estou cansado de esperar.
Durante a manhã, recebemos um recado por meio de um código que nossa agência costuma usar. Dizia que devíamos vir a este restaurante, neste horário, sentar nessa mesa e esperar. Então nós saímos do hotel e viemos pra cá. Já pedi três canecas de café e a Karen já comeu cinco fatias de torta de frango. E nada desse cara aparecer. Ou talvez seja uma garota, eu não sei. Eu sinto que quanto mais essa pessoa demorar a Karen vai acabar é me fazendo sua próxima refeição.
— Vão querer mais alguma coisa? — o garçom parece segurar o riso, talvez se perguntando se a Karen vai querer o restante da torta.
— Na verdade... Quais opções de suco você tem? — Karen coloca a mão no queixo.
— Temos de abacaxi, limão, também temos de laranja...
— Vou querer de laranja.
— Muito bem. E você... Mais um café? — ele olha pra mim.
— Sim. — respondo a contra gosto, acho que vou odiar café pelo resto da minha vida.
— Certinho, trago em breve.
Karen observa o garçom ir até a cozinha, olhos semicerrados.
— Até que ele é um gatinho...
— Sério?
— Sério... — ela se volta pra mim — Devíamos ir embora.
— A gente não pode, Karen.
— Qual é? Já estamos aqui a horas!
— Estamos aqui só a uma hora.
— Mas pareceu muito mais que isso.
— Mas temos que ter paciência.
Ela suspira mais uma vez e olha o relógio. O garçom retorna alguns minutos depois trazendo nossos pedidos. Acenamos a cabeça e tomo meu café.
— Esse suco está bom.
Observo ela tomar o suco quase tudo de uma vez. Tomo mais um gole do café e observo meu reflexo dentro da xícara. Até que reparo em uma coisa. Há letras e números no fundo. Abaixo a xícara e olho para a Karen.
— Meu café também.
Outro gole e vejo mais algumas linhas e então percebo que se trata de outro código.
— Acho que sei quem vai nos buscar. — ela fala baixo o suficiente para somente eu ouvir.
— Quem?
— Uma noiva! — olho para ela tentando entender — Porque pra demorar tanto assim... Só uma noiva né?
— Ah... Era uma piada. — dou uma risada fraca.
Último gole e posso ver tudo o que está escrito. Decifro o código em cinco minutos e fico um pouco confuso. Há alguns números e uma cor.
— Será que aconteceu alguma coisa? Ser perdeu? Perdeu o avião? Perdeu o helicóptero...? — Karen continua divagando enquanto tento entender — Perdeu o ônibus ou o metrô...? Ou...
— Metrô? — alguns pontos se encaixam na minha mente.
— É. Vai que ele tinha que pegar um mas acabou perdendo...
— Não, não. Acho que já sei pra onde devemos ir. Garçom?
Ele leva cerca de um minuto para chegar na nossa mesa.
— Sim?
— Queremos pedir a conta.
— Claro, só um instante. — Ele pisca para a Karen que sorri em resposta.
— Você não perde uma né? — digo quando o garçom se afasta.
— Eu? — ela gargalha — Então... Qual é a sua ideia brilhante?
— É só me seguir depois.
— Aaaaah Hak! Você é muito chato! Nunca me diz nada! Eu odeio isso!
— Calma aí... Nós temos que pegar um metrô. — digo baixo.
— Foi tão difícil?
— Aqui está a conta. — o garçom traz o recibo na bandeja.
Faço o pagamento e dou uma boa gorjeta para o garçom. Ao sair, dou uma olhada no recibo, onde outro código descreve as características da pessoa que vai nos contatar, e onde devemos descer para encontrar ela.O metrô está cheio, mas não ao ponto de não conseguirmos andar. Encontramos assentos e sentamos.
— Acho que vou aproveitar e dormir um pouco. — Karen se ajeita e fecha os olhos.
— De novo?
— Eu tô cansada...
— A gente não pode dormir aqui, Karen.
Ela murmura algo que não entendo e então se senta direito.
— Olha, eu também tô cansado. Mas não podemos dormir, vamos acabar perdendo nosso ponto de parada.
Karen balança a cabeça, então faz um biquinho e olha pra frente.
— É que... Nada pra fazer...
— É... Eu sei. Mas tenha paciência porque quando a gente chegar vai ter muita coisa pra fazer. — coloco ênfase na palavra muita.
Karen vai se arrepender de ter dito isso quando chegarmos lá. Vai ser tantos relatórios que ela vai ficar mais cansada do que está agora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O doce sabor dos insultos
RomanceKaren e Hack nunca se deram muito bem. Um cara retardado que sempre surge do nada, pensa ela. Uma garota chata que cai do nada, pensa ele. Mas, uma importante missão do chefe da agência, envia ambos para longe do conforto, e colocando-os para trabal...