Capítulo 24

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Hak.

     — Tem certeza absoluta que é aqui? — Karen sussurra pra mim.
     — Tenho. — respondo um pouco cansado.
     Ela bate o pé no chão rápido e suspira toda hora. Karen olha para o relógio na parede da lanchonete mais uma vez. Tudo isso que ela está fazendo me estressa, mas também estou cansado de esperar.
      Durante a manhã, recebemos um recado por meio de um código que nossa agência costuma usar. Dizia que devíamos vir a este restaurante, neste horário, sentar nessa mesa e esperar. Então nós saímos do hotel e viemos pra cá. Já pedi três canecas de café e a Karen já comeu cinco fatias de torta de frango. E nada desse cara aparecer. Ou talvez seja uma garota, eu não sei. Eu sinto que quanto mais essa pessoa demorar a Karen vai acabar é me fazendo sua próxima refeição.
      — Vão querer mais alguma coisa? — o garçom parece segurar o riso, talvez se perguntando se a Karen vai querer o restante da torta.
     — Na verdade... Quais opções de suco você tem? — Karen coloca a mão no queixo.
     — Temos de abacaxi, limão, também temos de laranja...
     — Vou querer de laranja.
     — Muito bem. E você... Mais um café? — ele olha pra mim.
     — Sim. — respondo a contra gosto, acho que vou odiar café pelo resto da minha vida.
     — Certinho, trago em breve.
     Karen observa o garçom ir até a cozinha, olhos semicerrados.
     — Até que ele é um gatinho...
     — Sério?
     — Sério... — ela se volta pra mim — Devíamos ir embora.
     — A gente não pode, Karen.
     — Qual é? Já estamos aqui a horas!
     — Estamos aqui só a uma hora.
     — Mas pareceu muito mais que isso.
     — Mas temos que ter paciência.
     Ela suspira mais uma vez e olha o relógio. O garçom retorna alguns minutos depois trazendo nossos pedidos. Acenamos a cabeça e tomo meu café.
     — Esse suco está bom.
     Observo ela tomar o suco quase tudo de uma vez. Tomo mais um gole do café e observo meu reflexo dentro da xícara. Até que reparo em uma coisa. Há letras e números no fundo. Abaixo a xícara e olho para a Karen.
     — Meu café também.
     Outro gole e vejo mais algumas linhas e então percebo que se trata de outro código.
      — Acho que sei quem vai nos buscar. — ela fala baixo o suficiente para somente eu ouvir.
      — Quem?
      — Uma noiva! — olho para ela tentando entender — Porque pra demorar tanto assim... Só uma noiva né?
     — Ah... Era uma piada. — dou uma risada fraca.
     Último gole e posso ver tudo o que está escrito. Decifro o código em cinco minutos e fico um pouco confuso. Há alguns números e uma cor.
     — Será que aconteceu alguma coisa? Ser perdeu? Perdeu o avião? Perdeu o helicóptero...? — Karen continua divagando enquanto tento entender — Perdeu o ônibus ou o metrô...? Ou...
     — Metrô? — alguns pontos se encaixam na minha mente.
     — É. Vai que ele tinha que pegar um mas acabou perdendo...
     — Não, não. Acho que já sei pra onde devemos ir. Garçom?
     Ele leva cerca de um minuto para chegar na nossa mesa.
     — Sim?
     — Queremos pedir a conta.
     — Claro, só um instante. — Ele pisca para a Karen que sorri em resposta.
     — Você não perde uma né? — digo quando o garçom se afasta.
     — Eu? — ela gargalha — Então... Qual é a sua ideia brilhante?
     — É só me seguir depois.
     — Aaaaah Hak! Você é muito chato! Nunca me diz nada! Eu odeio isso!
      — Calma aí... Nós temos que pegar um metrô. — digo baixo.
     — Foi tão difícil?
     — Aqui está a conta. — o garçom traz o recibo na bandeja.
     Faço o pagamento e dou uma boa gorjeta para o garçom. Ao sair, dou uma olhada no recibo, onde outro código descreve as características da pessoa que vai nos contatar, e onde devemos descer para encontrar ela.

    O metrô está cheio, mas não ao ponto de não conseguirmos andar. Encontramos assentos e sentamos.
     — Acho que vou aproveitar e dormir um pouco. — Karen se ajeita e fecha os olhos.
     — De novo?
     — Eu tô cansada...
     — A gente não pode dormir aqui, Karen.
     Ela murmura algo que não entendo e então se senta direito.
     — Olha, eu também tô cansado. Mas não podemos dormir, vamos acabar perdendo nosso ponto de parada.
      Karen balança a cabeça, então faz um biquinho e olha pra frente.
     — É que... Nada pra fazer...
     — É... Eu sei. Mas tenha paciência porque quando a gente chegar vai ter muita coisa pra fazer. — coloco ênfase na palavra muita.
     Karen vai se arrepender de ter dito isso quando chegarmos lá. Vai ser tantos relatórios que ela vai ficar mais cansada do que está agora.

O doce sabor dos insultos Onde histórias criam vida. Descubra agora