Capítulo 12

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     De cima da árvore, observamos o chão. As pessoas que deixaram as marcas podem ser biólogos, protetores dos animais, caçadores ou poderiam ser pessoas horríveis que raptam crianças para fins terríveis. Eu tinha muitas teorias na cabeça, mas só íamos saber indo até lá.
    
       Olho para o Hak, que faz um sinal com a mão, dizendo para ir pra frente. Começo a analisar como descer da árvore e vejo ele pulando de galho em galho com uma agilidade assustadora, se meus olhos não fossem treinados eu não mais do que borrões brancos. Exibido. Fico de pé sobre o galho e olho para a frente. Não acredito que o filho da mãe me deixou aqui... Na minha mente surge a memória quando caí de uma árvore, eu tinha me machucado tanto... Tinha doído tanto... Mas eu sou uma agente treinada, e se meu pai me mandou nessa missão, é porque ele acredita que não vou falhar... Né? Então lembro por que estou aqui. As crianças! Separadas de suas famílias, sofrendo... Então é isso! Pelas crianças! Uma onda de energia vem sobre mim e começo a pular sobre os galhos, ganhando impulso e chegando em outro, me pendurando e pousando em um, até que vejo o Hak na minha frente, parado sobre um galho. Senti que ia cair sobre ele. Não, não, não, agora não... Segura! Por pura sorte, paro sobre o outro galho me agarrando à árvore. Suspiro e sorrio.
     
     Hak olha atentamente para baixo, sigo o olhar dele e então vejo, parecem pesquisadores, estavam de uniforme e mochila. Eles apalpam o chão com uma luva extremamente grossa. Retiram algumas folhas e então encontram um buraco, com o que parecia... Um tecido fino branco. Ele se afasta e coloca um pequeno inseto ali na frente. Rapidamente uma aranha grotesca e gigante aparece e pula sobre o inseto, o homem pega a aranha e guarda em um pote. Sinto todo meu corpo arrepiar, tenho que me segurar firme na árvore para não cair, a aranha é horrorosa e fico muito assustada. Eles levantam e saem carregando o pote com a aranha tentando sair. Hak segue eles e fico lembrando das suas patas se mexendo. Respiro fundo, e enojada, vou atrás do Hak.

      É mais um caminho longo, até que chegam em uma espécie em um lugar, olho atentamente e vejo madeira, era uma cabana escondida por vinhas e musgos. Espertos, vou aderir à minha caverna. Eles abrem uma porta bem escondida e entram. Genial! De fora não podíamos ver o que se passava lá dentro. Não podíamos simplesmente entrar. Faço um sinal para o Hak: Vou. Lá. Olhar.  Ele nega com as mãos para eu não ir. Faço outro sinal: Eu. Tô. Bem. Volto. Rápido. Ele para e balança a cabeça lentamente, repetindo o sinal de rápido.
 
      Desço cuidadosamente e olho para o chão. Fico longe da cabana e começo a me aproximar. Eu odeio ficar mandando sinais assim, é muito lerdo. Normalmente quando eu e minhas irmãs  estamos em um lugar que não podemos falar, conversamos por telepatia, habilidade que herdamos do nosso pai. Não temos todo o poder que ele tem, que é muito! Mas conseguimos bater um bom papo. Com o Hak, é um pouco mais difícil, eu teria que abrir uma linha de contato com ele, mas normalmente isso dói. Não em mim, é claro! Fico sobre o galho de uma árvore e observo bem o lugar. Respiro fundo e tento ouvir, eles estavam se mexendo dentro da casa. Desço o chão silenciosamente e chego mais perto. Me agacho na parte de trás, já ouvindo a conversa.
     — Coloca a máscara, droga! Se ela te morder, você já era!
     — Tá bom, tá bom, já tô colocando!
     — Agora, pega a pipeta!
     Me aproximo pouco mais e olho pelas frestas da madeira. Hak também se aproxima e fica perto de mim. Eles mantinham a aranha no porte, e tinham um pequeno laboratório. Olho para o outro lado e vejo outras aranhas presas. Há também, tubos de ensaio com líquidos dentro. Algumas caixas tem cobras dentro, entre outros insetos bizarros. Seja lá o que eles estão aprontando, deve ser bem perigoso. Um deles vai até a estante com instrumentos de laboratório e pega uma pipeta e alguns béqueres. Ele entrega ao seu parceiro e  pega uma caixa cinza e abre, revelando várias seringas, algumas cheias com um  líquido amarelo esverdeado,  outras contendo líquido transparente e outras estavam vazias. Eles pegam a aranha, e a vejo se retorcer na mão deles. Em seguida retiram o veneno da aranha e colocam na seringa.
     — A gente tem que entregar isso logo!
     — Já tô terminando, véi!
     — É por que... Se a gente demorar muito pra entregar...
     — Eu já sei disso! —o cara dá um soco na mesa fazendo tudo balançar, alguns objetos caem no chão.
     — A aranha! — o cara se desespera.
     — Aqui. — o outro usa o pote para prender a aranha.
      Eles arrumam a mesa e extraem mais veneno da aranha.
     — Livre- se dela. — o que parece mais irritado entrega o pote de aranha ao medroso.
    O cara pega o pote e se aproxima da porta. Hak e eu nos escondemos o mais rápido possível. Ele joga a aranha no chão e murmura alguma coisa, depois pisa nela. Ele retorna para dentro da cabana, ouvimos alguns ruídos e nós aproximamos de novo. Eles estavam guardando os tubos de ensaio em uma mala cinza.
     — Vamos logo!
     — Já tô indo!
     — Vê se não esquecemos nada! Não quero voltar só porque você esqueceu de pegar um maldito frasco!
     — Isso só aconteceu uma vez, Fred!
     — Se faltar algo, você que vem buscar!
     — Vamos logo, então!
     O cara mais medroso passa na frente com a mala, e é seguido pelo irritado. Subimos na árvore e seguimos eles por cima. A partir daí começa uma competição silenciosa de quem chega primeiro. Hak toca em meu braço e sinaliza para que eu volte e análise a casa melhor, eu queria seguir os caras, e não ficar presa com aquelas aranhas. Pergunto como eu o encontro depois e ele faz sinal dizendo que eu saberia como, engraçadinho. Volto para a cabana e Hak segue com o irritadinho e o medroso.
     Entro na cabana cuidadosamente e fecho a porta. Por dentro era bem diferente. Eu tinha visto muito pouco de fora. Havia muitas outras estantes com insetos, aranhas, e cobras. Todas aquelas aranhas começavam a me assustar. Eu sentia coceira na minha pele por puro medo. Vejo um alçapão no chão. Tento abrir e vejo que precisa de chave. Olho em minha volta procurando alguma chave, mas não acho. Será que vale a pena tentar abrir isso? Pode ter algo importante ou pode não ter... Eu não podia começar a vasculhar do nada. Não podia deixar sinal de que passei aqui. Olho mais um vez e começo a fazer preces para que a chave apareça. Fica tudo mais difícil sem meus poderes pra me ajudar... Então eu vejo. Dentro do pote de aranha.
     — Nãaao.... — eu sussurro incrédula.
     Eu teria que colocar minha mão dentro. Do pote. De aranha. De aranha!!! De novo me pergunto se vale a pena entrar ali.
     — Talvez na haja nada! — sussurro para mim mesma. Mas e se tiver? Minha mente revida.
     Estou completando sozinha e tenho que tomar uma decisão. Eu não podia ficar pensando pra sempre. Se houvesse algo... Que se dane! Vou até a estante e pego o pote colocando sobre a mesinha. A aranha se mexe no pode e me assusto.
      — Ok, Karen... — sussurro tentando me encorajar — Você consegue! É só uma aranha pequenininha... — começo a abrir a tampa e a aranha se mexe. — Não... — me afasto respirando fundo —Tudo bem, tive uma ideia.
      Vou pra fora da cabana e pego dois gravetos pequenos. Vou até o pote e abro apenas um pouco, deixo um pequeno espaço por onde a aranha põe a pata tentando sair, me assusto mas me mantenho firme, então com um graveto prendo a aranha no canto do pote, ela mexe as patas e sinto uma onda de náusea me invadir. Respiro fundo e paro de olhar para a aranha. Com o outro graveto, arrasto a chave para fora do pote. Respiro e fecho o pote retirando o graveto que usei para segurar a aranha. Coloco pote na estante e sorrio aliviada por ter conseguido. Jogo um dos gravetos fora e abro o alçapão, entro e vejo... Um monte de arquivos em papel.
      Ouço vozes e me assusto, pego o graveto e levo comigo para dentro fechando o alçapão.

    
     

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