Capítulo 6

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                         Rangi's P.O.V

Eu sabia que podia pedir o celular de Kyoshi emprestado, chamar um táxi e voltar para Capitol Hill, o bairro onde moro. Também sabia que Korra levantaria da cama e viria me buscar de bom grado, mesmo sendo de madrugada. Mas há semanas que eu tramava para Kyoshi me levar para a casa dela e, se aquela ia ser minha única oportunidade, eu ia aproveitá-la, por mais que ela parecesse mais incomodada e agitada do que apaixonada. Além do mais, ela me emprestou o casaco de novo, com a temperatura abaixo de zero, e tive certeza de que isso significava alguma coisa, por mais que ela não tivesse consciência disso.

– Como foi voltar ao trabalho? – ela perguntou com aquele sotaque doce e gentil, enquanto me mostrava o caminho para a sua casa.

Acho que não conheço outro adulto que não tenha carro além dela. Mais uma pecinha deste quebra-cabeça que atende pelo nome de Kyoshi.

– Complicado. Nunca tive outro parceiro além do Yun, é estranho fazer a ronda com alguém diferente.

Meu parceiro temporário se chama Mako. E ele é um porre. Até agora, meus turnos foram bem tranquilos, não precisei puxar a arma nem me meti em nenhuma situação perigosa. Estou morrendo de medo do dia em que isso acontecer, por mais que a psiquiatra do departamento me diga que isso é normal. Ela está convencida de que estou sofrendo de estresse pós-traumático e de que a culpa que sinto por ter me distraído e quase provocado a morte do Yun está ligada ao fato de eu ter escapado do tiroteio sem ferimentos.

Percebi que Kyoshi estava tremendo de frio e me encostei nela. Senti um arrepio em todo o corpo quando ela passou o braço pelo meu ombro e se aninhou em mim. Claro que deve ter sido para se aquecer, mas minha libido não se importou.

– Como vai o seu parceiro?

Odeio pensar no Yun de licença. Ele adora ação, pôr a mão na massa, mas, em seu atual estado, só pode ficar na cama vendo TV por horas e horas, com sua família cuidando dele. Toda vez em que visto o uniforme, penso que posso ir trabalhar, que acabei bem, enquanto o Yun está preso nessa situação, sem saber o que vai ser do seu futuro. Isso é tão injusto, que minha pele se arrepia toda e sinto um aperto no estômago toda vez que vou para o trabalho.

– Está melhorando. Vai precisar fazer muita fisioterapia quando sair da cama. Quebrar o fêmur não é brincadeira.

– Se você precisar de uma indicação, conheço um sujeito.

Olhei para ela por baixo dos cílios e perguntei, surpresa:

– Você conhece um fisioterapeuta?

Chegamos a um prédio bem genérico e caído e subimos alguns andares de escada. Não era bem a casa que eu imaginava.

– Bom, o Lao Ge conhece. O nome dele é Zaheer, ele é especializado em esportes. Encontrei com ele algumas vezes no Bar, quando ele foi lá conversar com o Lao Ge. Parece ser um sujeito bem sério, de acordo com o meu chefe, manda muito bem no que faz.

O Lao Ge não me parece o tipo que elogia ou respeita qualquer um, então guardei o nome para passar ao Yun e entrei com Kyoshi no apartamento. O lugar era pequeno, bem pequeno, e quase não tinha nada lá dentro. Quer dizer, é uma quitinete, não tem muito lugar mesmo, mas além da cama, de uma TV de tela plana até que bem grande, um jogo de copa pequeno e uma poltrona reclinável bem surrada, não havia nada que dissesse que aquele apartamento era de Kyoshi.

Se minha bebê ficou preocupada com a minha reação de surpresa quando vi onde ela mora, não demonstrou. Ligou a luz, atirou a chave e o celular em uma mesinha minúscula e passou a mão em seus vastos cabelos castanhos escuros.

Riscos da Paixão (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora