Kyoshi's P.O.V
Umas duas semanas depois daquela noite no hospital, entrei no Bar toda nervosa. O Lao Ge havia me ligado e pedido para eu chegar uma hora mais cedo, porque queria conversar comigo. Não consegui, por nada neste mundo, pensar em alguma merda que eu tivesse feito, um erro que tivesse
cometido, mas sua voz grave estava ainda mais séria do que de costume, e isso despertou meus instintos de autopreservação. Tentei me convencer de que, se ele me dispensasse, me mandasse cair fora, não ia ser grande coisa. Eu poderia cair na estrada, arranjar outra coisa para fazer, mas o Bar é o primeiro lugar onde me sinto segura, e não queria admitir que estava morrendo de medo de perdê-lo. Não ter mais esse lugar ia me deixar à deriva, de verdade. E, quando fico à deriva, arranjo encrenca... muita encrenca.O Lek e o Kai passaram uma semana em Denver. Meu irmão e Kai queriam estar ao lado da Jinora quando ela levasse o pequeno bebê para casa. Além do mais, conhecendo o pai do garoto, é bem capaz de o moleque ter a sua rebeldia. Essa semana não bastou para matar a saudade do meu irmão e, por mais que seja possível ver que ele está feliz, feliz mesmo, sinto sua falta e percebi que ele ainda se preocupa demais comigo. Tentei falar que estou bem, explicar que, se for para eu fazer besteira, não vai fazer a menor diferença se ele estiver aqui em Denver ou lá em Austin, mas, ao dizer isso, seus olhos brilharam de raiva. Amo o Lek mais do que imaginava ser capaz, mas não vou tentar iludi-lo, fazê-lo acreditar que nunca mais vou errar na vida. Só posso tentar. Tentar ser uma pessoa melhor, tentar ser honesta, tentar respeitar a lei e tentar não fugir quando as coisas ficarem difíceis. Tentar precisa bastar. Para o Lek e para mim.
Durante o dia, o Bar é bem tranquilo. Vários veteranos aposentados gostam de ficar por lá contando histórias de guerra. Nunca deixo de me surpreender com a quantidade de casos sobre ex-mulheres e amantes, muito maior do que a de relatos de guerra. O Lao Ge costuma abrir o Bar e ficar lá até o fim da tarde, quando entro para o turno da noite. Ele quer passar a noite com a família, e não posso condená-lo. Além disso, como também é um ex-soldado, o Lao Ge se dá bem com a clientela grisalha e prefere deixar o público mais animado e barulhento comigo.
Ao entrar pela porta, não vi meu chefe. O pai da Aoma, que vendeu o Bar para o Lao Ge, estava atrás do balcão de madeira, no lugar que costumo ocupar. A mãe da Aoma, cozinheira do boteco e ex-mulher do pai da Aoma, estava com a cabeça para fora da cozinha e parecia que os dois discutiam em voz baixa.
Acho que nem ele nem ela assumem o fato de que podem até ser ex um do outro, mas que na prática continuam casados. Tentei assuntar sobre os dois com o Lao Ge, mas ele só encolheu os ombros e disse que as mulheres boas são complicadas e difíceis de segurar. Não entendi nada até que, um dia, entrei no depósito de bebidas fora do meu turno e me deparei com a mãe da Aoma de pernas para o ar e aquele idiota do pai da Aoma por cima dela numa posição inconfundível. Os dois podem até não usar aliança, mas ainda são apaixonados e se amam. Pena a filha deles ser um pé no saco de primeira categoria.
Ele interrompeu o que estava dizendo para a mãe da Aoma, e ela voltou à cozinha. Os dentes dele brilharam no meio dos quilômetros de barba que cobrem seu rosto, e ele cruzou os braços em cima daquele peito que mais parece um barril. Ele parece muito mais um integrante da gangue de motoqueiros Hell’s Angels do que um anjo salvador, mas é isso que ele é. Ele salvou o Bar, salvou o Lao Ge, deu a todos aqueles veteranos um lugar para se sentirem seguros e, agora, estava tentando de tudo para salvar a própria filha rebelde, por mais que a garota não goste nada disso.
– Como vão as coisas, filha? – perguntou, com aquela voz forte.
Tirei o casaco, passei as mãos no cabelo e respondi:
– Tudo indo. Você tem ideia de por que Lao Ge me pediu para chegar mais cedo?
O pai de Aoma sacudiu a cabeça, levantou uma daquelas sobrancelhas cerradas e perguntou:
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Riscos da Paixão (Rangshi)
Storie d'amoreKyoshi sempre foi uma predadora. Sua ficha criminal é a prova de que ela foi capaz de tudo para se dar bem. Nem mesmo seu irmão Lek escapou de seus golpes. Além disso, os olhos verdes, um charme natural e o sotaque carregado sempre deram pistas de q...