Capítulo 14

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Rangi's P.O.V

- Então, você e a minha irmã, hein?

Passei a noite inteira me preparando para esta conversa. Até este momento, tinha dado sorte, a conversa sobre os bebês havia predominado, e o Lek queria saber das novidades que estavam acontecendo na vida do pessoal, mas eu tinha certeza de que não ia conseguir passar a noite toda sem tocar no assunto.

A Jinora e a Cora estavam perdidas nas conversas sobre ser mãe. A Catra estava tendo um papo sério com uma amiga próxima dela, que tinha lindos cabelos roxos. Asami tinha me mandado uma mensagem há uma hora, dizendo que ia tentar nos encontrar, mas que estava com uma emergência do hospital. Um menino havia entrado no Pronto-Socorro com o corpo coberto de queimaduras graves. Então, mesmo que saísse do trabalho a tempo de tomar um drinque conosco, não ia ficar muito no Bar. E tudo isso levou o Lek a aproveitar a oportunidade para perguntar o que estava rolando entre mim e Kyoshi e a cair matando em cima de mim.

Seus olhos têm o mesmíssimo tom de verde esmeralda polido que os da irmã, o que era um pouco desconcertante. Além disso, ele ficou me encarando sem parar. Não consegui entender se o garoto queria uma resposta simples, uma explicação ou, ainda, se apenas estava afirmando que eu ando dormindo com a irmã dele com frequência. Limpei a garganta, meio nervosa, e comecei a rolar a garrafa de cerveja entre as mãos.

- Eu gosto dela - respondi. Me encolhi um pouco quando o Lek levantou as duas sobrancelhas cor de areia. Depois encolhi mais os ombros, meio sem jeito. - Me preocupo muito com Kyoshi.

Pelo andar da carruagem, eu estava prestes a me apaixonar perdidamente por ela, por mais que essa carruagem sacolejasse de vez em quando. Nunca sei qual versão de Kyoshi vou encontrar quando vou à sua casa depois que o Bar fecha ou quando ela aparece na minha porta no meio da noite. Às vezes é a Kyoshi charmosa, divertida e meio cafajeste que só quer se divertir. Outras, a menina quieta e mal-humorada presa ao passado, engasgada pelo arrependimento e pelo remorso, mas nada disposta a superar essa situação. Outras, ainda, é a mulher bruta e mandona que quer muito mais do que estou disposta a oferecer, a mulher que ainda gosta de fazer joguinhos. Também há vezes em que encontro a mulher inteligente que quer muito mais da vida do que ser barwoman em um boteco.

Tolero todas essas versões de Kyoshi porque, na maioria das vezes, encontro a sujeita com quem quero passar o resto da minha vida: a Kyoshi espirituosa, metida a esperta, diabólica e cativante que só aparece quando ela deixa de se preocupar com tudo o que já fez e ignora tudo de errado que pode acontecer com esse lance inegavelmente significativo que rola entre nós. Por esta, vale a pena aguentar todas as outras, mesmo que ela só apareça muito de vez em quando.

- Se preocupar com Kyoshi pode ser uma tarefa bem exaustiva - Lek comentou, com a rouquidão intensificada pela tequila que passou a noite inteira bebendo.

Se eu bebesse tanto quanto ele, estaria em posição fetal debaixo da mesa. O Lek ainda não estava nem alegrinho e ficou me encarando de um jeito sugestivo. Percebi que ele tentava decidir o que pensar a respeito do meu envolvimento com sua irmã mais velha.

- Pode ser mesmo.

Mas quando a Kyoshi que quero amar aparece, ela faz a exaustão valer a pena.

Nós dois olhamos para o balcão, de onde Kyoshi observava nossa conversa com os olhos espremidos. O Bar estava bem lotado e, por isso, quem nos atendeu foram a Kirima e uma nova garçonete. Kyoshi só passou na nossa mesa para dar um abraço no irmão e um beijo bem dado na minha boca. Depois lançou um olhar de reprovação para o Lek e voltou para trás do balcão. Essa foi uma declaração que não passou despercebida. Eu tinha certeza de que o Lek ia querer dar sua opinião, mas até então nada havia acontecido como eu imaginava. Em vez de me interrogar ou me reprovar de forma ostensiva, o irmão de Kyoshi me pareceu estranhamente curioso ao observar a minha maneira de observar sua irmã.

Riscos da Paixão (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora