Capítulo 17

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                        Kyoshi's P.O.V

Meses atrás, quando Adora estava tentando entender seus sentimentos pela Catra, disse a ela que as pessoas que se sacrificam, que se doam aos outros, merecem cada gota de felicidade que o mundo tem a oferecer. Fiquei com a Rangi apenas por um minuto, uma fração de segundo, mas valeu muito mais do que os anos e as décadas que desperdicei sendo uma filha da puta egoísta e inconsequente. O que ela criou dentro de mim é muito mais poderoso e duradouro do que tudo o que consegui destruir sozinha. Pela primeira vez na vida, tomei a decisão certa sem pensar duas vezes, sem recorrer ao caminho mais fácil, sem precisar mentir. Não tive o instinto de fingir, apenas o desejo de proteger a mulher que, tenho certeza, vou amar para sempre. Rangi me viu, me viu por inteiro, e não se assustou com nenhuma das minhas muitas faces.

Por isso mesmo jamais vou contar que eu dei em cima e tentei enganar a sua mãe, – em meio a uma boate à 2 anos atrás na época em que eu ainda gostava de luxo e muito dinheiro – a mulher que a criou sozinha, que a educou e amou, apenas por dinheiro. Eu seria a vilã desse enredo, mesmo não tendo acontecido nada entre eu e Hei-Ran, mas só de pensar na possibilidade de que Hei-Ran fosse uma mulher fácil, eu já me sinto um monstro e prefiro poupar Rangi da dor que essa revelação, sem dúvida, causaria. Pela primeira vez na vida estou me sacrificando por um bem maior, por mais que Rangi não saiba que é isso que estou fazendo.

É engraçado. Precisei partir meu próprio coração e dar as costas para a única coisa que quis de verdade nesta vida para finalmente perceber que não sou mais quem costumava ser.

Rangi me liga todas as noites desde o dia em que fui embora da casa da mãe dela. Nunca deixa mensagem, nunca manda SMS nem aparece no Bar, mas, todas as noites, quando sabe que estou saindo do trabalho, ela me liga. Eu apenas olho para o celular e fico me segurando para não atender. Sei que ela deve estar sofrendo, confusa e perdida. A Korra me empurrou, deu um sermão e me chamou de idiota, imbecil e filha da puta várias vezes. E mesmo Asami, que é tímida e na dela, passou lá no Bar para me xingar de todos os nomes possíveis e me deu um tapa tão forte no rosto que me deixou bem atordoada, sinto sua mão até agora em meu rosto. Não me defendi, apenas aceitei, não tenho como explicar por que precisei terminar com Rangi, apesar de ter descoberto há pouco que ela é a mulher com quem quero ficar para sempre. Então, só levo as chicotadas e deixo todo mundo pensar o que quiser, até o Lao Ge, que se sentiu na obrigação de me pôr contra a parede e falar que, obviamente, estou cometendo um erro terrível. Eu desconverso, digo a todos que nosso relacionamento estava fadado ao fracasso desde o começo e que ninguém
deveria se surpreender com o fato de a minha relação com a linda policial não ter dado certo. Digo que a Rangi queria demais, que conhecer sua mãe e fingir que sou um tipo normal, com um relacionamento normal, foi demais para mim. Não sirvo para isso. Para todos sustento a versão de que, quando alguém levou uma vida como a minha, coisas boas não fazem parte da equação. Toda essa conversa costuma calar a boca dos meus amigos. Há muitas perguntas para as quais eu não tenho resposta, então parei de tocar no assunto. A turma entendeu a indireta e me deixou em paz.

Não fiquei nada surpresa ao receber a visita de um sujeito magro, com a perna inteira engessada e que andava como um velhinho de 90 anos, exceto pelo olhar penetrante capaz de transformar qualquer ateu em alguém temente a Deus. Sei que ele foi até o Bar por causa de Rangi, e não posso condená-lo pelo jeito de quem queria arrancar meus intestinos pelo nariz.

Era a segunda vez que eu via o Yun. A primeira foi quando ele me prendeu. A cara que ele fazia enquanto mancava pelo Bar para me confrontar estava cem vezes mais feroz do que à daquela noite. Mesmo se arrastando em uma perna só e sentindo a dor absurda estampada em seu rosto. Quando ele parou do outro lado do balcão e me encarou, só consegui olhá-lo e esperar para ver o que ele tinha a me dizer.

Riscos da Paixão (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora