Capítulo 19

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                        Kyoshi's P.O.V

Acordar o Lao Ge ao nascer do sol para explicar a loucura que aconteceu na
primeira noite desde que voltei de viagem foi a parte mais fácil. Conversar com o pai e a mãe de Aoma sobre o envolvimento da filha foi bem mais difícil. A mãe queria pagar a fiança e tirar a menina da cadeia o mais rápido possível, e o pai ficou tão furioso com a falta de noção da filha que queria deixá-la mofando lá. Passei o contato do advogado que me ajudou quando me meti em confusão no ano passado e lhes desejei boa sorte, independentemente do caminho que escolherem. O serviço desse advogado
custa uma pequena fortuna, mas ele tem a reputação de ser um oponente impiedoso nos tribunais de Denver. Tenho certeza de que, uma hora ou outra, o pai de Aoma vai ceder e salvar sua filhinha.

O Lao Ge resolveu fechar o Bar por alguns dias, até as coisas se acalmarem e eu colocar minha cabeça em ordem. Preciso desse tempo mais para lidar com o fato de ter perdido a Rangi para sempre do que para digerir o fato de ter tido uma arma apontada contra mim pela segunda vez desde que havia começado a trabalhar no Bar. Mas não contei isso ao Lao Ge. Em vez disso, perguntei se podia ir na casa dele uma noite dessas. A Cora fez o jantar, e a filha dele ficou correndo pela cozinha, batendo frigideiras. Fiz um cheque de cem mil dólares e perguntei se ele queria ser meu sócio.

Meu chefe ficou em silêncio por um momento, tentando decidir se ia ou não aceitar o dinheiro, até que a Cora saiu da cozinha e gritou:

– Pega essa grana, Lao Ge.

O velho, então, parou de maquinar. Ele pegou o cheque e me deu um aperto de mão. Pela primeira vez, desde que virei adulta, tenho oportunidades infinitas e dentro da lei. Quase não sei o que fazer com tanta sorte. A sensação de satisfação, de ter um rumo na vida, durou apenas até eu ir para casa e entrar em meu apartamento vazio, com um telefone que não toca.

Passei semanas sem ter notícias e nem ver a Rangi. Voltei a trabalhar. Pedi para Luz restaurar meu carro e até comecei a procurar um novo lugar para morar. Olhei alguns apartamentos e casas, mas não me apaixonei por nada. Levei um tempinho até entender que não queria me mudar para um lugar temporário. Queria um lar, mas não para viver lá sozinha. Quanto mais o tempo passa, mais penso que, às vezes, só amor não é o suficiente.

O Lek me liga uma vez por semana para ver como estou. É legal nossos telefonemas não consistirem mais em meu irmão entrar em pânico, preocupado com as encrencas em que vou me meter. Agora, ele só quer se certificar de que eu ainda estou andando para a frente, mesmo de coração partido. O Lek me diz para desistir logo e contar a verdade à Rangi, mas sempre respondo que a única pessoa que vai se beneficiar dessa minha sinceridade sou eu. Além de não ter minha mulher de volta, se eu der com a língua nos dentes, isso afastaria uma mãe de uma filha, e me recuso a obrigar a Rangi a entrar nesse tipo de furacão. Ela não precisa sentir a dor de perceber que eu tentei enganar a sua mãe. Além disso, sei por experiência própria que uma pessoa verdadeiramente má pode fazer coisas muito boas se tiver uma segunda chance e souber aproveitá-la.

Uma hora, o Lek desistiu de tocar no assunto e resolveu se concentrar nas coisas boas que têm acontecido comigo. Quando contei que estava pensando em comprar uma casa no bairro de Baker, onde fica o Bar, ele quase chorou.

– Não vou questionar nada que você resolva fazer com esse dinheiro, Kyoshi, mas fico absurdamente feliz que tenha resolvido usá-lo para criar raízes.

A ideia de ter raízes, de construir algo permanente aqui no Colorado, é muito estranha, mas me parece a coisa certa a fazer e é um jeito de mostrar à meu irmão, de provar a todo mundo que duvida de mim, que acordei para a vida oficialmente e vou aproveitar ao máximo cada instante a partir de agora.

Riscos da Paixão (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora