Capítulos 13

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                         Kyoshi's P.O.V

Se a Rangi tivesse ficado apenas puta comigo, irritada por eu tê-la feito acreditar, de propósito, que estávamos fazendo algo errado, algo ilegal, bastaria eu beijar seu pescoço e fazer carinho em seu braço. Certamente teria me perdoado e deixado por isso mesmo. Mas ela estava magoada, decepcionada por eu ter estragado a nossa noite. Queria poder dizer que não sabia o que ia acontecer quando a levei para o meio do nada sem dar nenhuma explicação, para um lugar que mais parecia cenário de história em quadrinhos ou de filme, mas eu sabia muito bem. Por algum motivo, todas as coisas que fiz e as que vou fazer se encontraram no mesmo ponto, e me pareceu uma boa ideia testar o que Rangi faria para ficar comigo. Não que eu fosse pedir algo errado. Caramba, passei um mês inteiro tentando impedir que essa mulher fizesse coisas das quais poderia se arrepender. Mas por causa do jeito que meu sangue ferve perto dela, do jeito como essa mulher ilumina meus lados mais sombrios, me deu vontade de desafiá-la.

Rangi ficou sentada toda rígida ao meu lado, de braços cruzados e com a postura ereta para evitar relar no meu braço, que estava apoiado atrás da sua cadeira. Não tirou os olhos do palco, no qual aparecia uma moça seminua atrás da outra, dançando. Se eu não fosse tão imbecil, ela bem que poderia ter se divertido, mas, como sou, ela ficou com os lindos lábios apertados e com um leve tremor na bochecha, porque seus dentes estavam cerrados. Sua postura mostrava que era melhor a gente ir embora e que era melhor eu deixá-la sozinha, coisa que eu sabia mesmo antes de isso acontecer. É assim que vai ser quando eu finalmente fizer algo imperdoável. Só que, aí, haverá sentimentos envolvidos e será mil vezes pior.

Mexi a mão para passar de leve os dedos ao longo de seus cabelos. Na quase escuridão do armazém, eles pareciam mais escuros e brilhosos, mas ainda eram sedosos ao toque. Disse que sentia muito e fui sincera. Se ela não quer me perdoar, não posso condená-la.

De repente, ela virou o rosto e fixou os olhos dourados nos meus. Eles brilhavam na luz escassa do ambiente, e me odiei mais um pouquinho quando me dei conta de que aquele brilho era de lágrimas. Eu já não deveria mais fazer mulheres bonitas e fortes chorarem por minha causa, e fiquei perplexa com minha vontade de me ajoelhar na sua frente e implorar perdão, explicar que eu tentei ser boa, de verdade.

Rangi puxou a cadeira mais para perto da minha, e ficamos com os quadris encostados. Passei o braço em volta dos seus ombros, e ela encaixou o rosto na curva do meu pescoço. Então encostou os lábios na minha orelha e sussurrou:

– Vai ser sempre assim com você? Nunca vou saber se está brincando ou não porque você é uma filha da puta perturbada?

Apertei seu ombro descoberto, e a Rangi espalmou a mão na minha barriga, o que deixou meus músculos tensos.

– Não sei.

Podia não ser a resposta que ela gostaria de ouvir, mas pelo menos estava sendo sincera. Nunca quis mentir para Rangi. Aliás, para ninguém.

– Você é a única mulher com quem fiquei sem segundas intenções. Passei a maior parte da minha vida tentando convencer os outros de que sou legal, honesta. Menti sobre quem sou e o que planejava a cada passo do caminho. Com você, parece que estou fazendo o contrário, tentando mostrar o tempo todo o quanto posso ser horrível. Estou sempre te dando o pior de mim, e você está sempre aceitando.

Ela suspirou colada no meu pescoço e começou a passar a ponta da língua na veia que pulsava mais forte. Senti um arrepio percorrer minha espinha.

– Por que você não consegue apenas ficar comigo aqui, agora? Por que precisa tentar provar alguma coisa, que é boa ou que é mau? Sei muito bem como você funcionava no passado e também sei muito bem que isso pode voltar a acontecer se continuarmos juntas, Kyoshi. O que eu não sei, e quero, é como é viver este momento com você. Este exato segundo no tempo em que estamos juntas, e o que aconteceu ou vai acontecer não existe. Por que não podemos fazer isso? Só por um instante?

Riscos da Paixão (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora