Kyoshi's P.O.V–A lataria não é grande coisa, e o interior está meio detonado, mas o motor está cem por cento. Com um pouco de amor e cuidado, pode ficar uma belezinha.
Pus a cabeça para fora do vidro daquele carro Dodge Challenger r/t 1971 preto que eu estava pensando em comprar e olhei para Luz. Não conheço ela muito bem, mas Korra me garantiu que ela é legal e que não me passaria para trás. Além disso, o Lao Ge estava comigo e, mesmo com uma menina pequena e loira gritando e correndo à sua volta, sua filha de outro casamento, meu chefe não tem jeito de quem pode ser passado para trás, ainda mais que ele está pensando em investir uma bela quantia nessa oficina muito em breve. O Lao Ge estava com os olhos fixos na filha, para garantir que ela não pegasse nada daquele chão cheio de graxa e pusesse na boca, e mandando mensagens pelo celular. Não prestava muita atenção nem em mim nem na mecânica.
– Eu gosto. É um clássico.
Mesmo com a lataria toda enferrujada e o interior todo detonado.
Luz balançou a cabeça e se apoiou no para-lama. Ela é bem mais baixa do que eu, estava com o cabelo meio desgrenhado e uma tatuagem irada na lateral do pescoço. Fala muito, mas é óbvio que adora os carros da sua oficina e não deixaria qualquer um dar palpite em seu estoque.
– Eu ia guardar este para um projeto de restauração, mas acabei de receber uma joia que vai me dar bastante trabalho. Prefiro abrir mão deste e investir todo o meu dinheiro no outro.
Balancei a cabeça, como se estivesse entendendo tudo, e pensei em seu dilema. Gosto de carros bacanas como qualquer pessoa que é amante de carros, mas só preciso de uma lata velha que funcione e me leve de um lado para o outro. Já tive uma opinião bem diferente sobre esse assunto. Antes de entrar em coma, só me importava com ostentar, com o preço do possante e com o que os outros iam pensar de mim se eu andasse por aí em um carro que custa mais do que certas casas.
– Quanto você quer por ele?
O motor estava em bom estado, mas não havia sido restaurado nem turbinado, então tive esperanças de que Luz fizesse um preço razoável. Antes que ela pudesse responder, fui atinginda na canela por um corpinho risonho que me observava com imensos olhos azuis. A Ray levantou os bracinhos gorduchos e ficou me olhando até eu pegá-la no colo. Depois começou a rir e a cutucar meu nariz. Essa menina é uma mistura perfeita do Lao Ge e sua ex-mulher. Agora que está andando e falando, dá um trabalho e tanto.
Luz sorriu e falou:
– Cinco mil.
Era mais do que eu queria gastar. Eu tinha o dinheiro, porque quase não tenho despesas, mas comprar o carro significaria menos grana para quitar minhas dívidas médicas. A Ray deu outra risada e bateu na minha bochecha com aquelas mãozinhas minúsculas. Estava cantando alguma música infantil, e não consegui controlar o sorriso.
– É o melhor preço que você pode fazer? – perguntei.
A dona da oficina olhou para mim e para a bebê. Um leve sorriso se esboçou em seus lábios, ela abaixou o queixo e respondeu:
– Normalmente não faço desconto, mas já que você é amiga da Korra e da galera lá, e é obvio que a Ray te acha uma pessoa de bem, então vou baixar para quatro e duzentos.
A Ray é nova demais para saber com quem anda, mas eu é que não ia dizer isso para Luz. Passei a menina para meu outro braço para apertarmos a mão e fechar o negócio. Então olhei para o Lao Ge que, de repente, havia aparecido bem do meu lado. A menina estendeu os braços imediatamente e começou a falar “pa-pai, pa-pai”, e o meu chefe a tirou do meu colo.
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Riscos da Paixão (Rangshi)
RomantizmKyoshi sempre foi uma predadora. Sua ficha criminal é a prova de que ela foi capaz de tudo para se dar bem. Nem mesmo seu irmão Lek escapou de seus golpes. Além disso, os olhos verdes, um charme natural e o sotaque carregado sempre deram pistas de q...