Kyoshi's P.O.V- Você falou com a mãe recentemente? - perguntou Lek, sentado no banco
do passageiro, enquanto tentava se entender com o cinto de segurança
do meu carro antigo e olhava para fora.Meu irmão ia voltar para Austin com a Suzu no sábado e pediu para passar o dia comigo antes de ir embora.
Tenho saudade do Lek, mas ficar o dia inteiro no meu apartamento jogando conversa fora não me pareceu nada divertido. Por isso, fui buscá-lo e pedi para ele ir comigo realizar uma tarefa que, há um mês, eu estava louca para realizar. Até ali, a conversa havia sido bem tranquila e superficial, mas, quando meu irmão tocou no assunto família, tive certeza de que não ia continuar assim por muito tempo.
- Falei com ela há uns dois meses. A mãe me ligou de alguma cidade no estado de Nevada. O sujeito com quem estava a tinha largado em uma parada de caminhoneiros, e ela queria dinheiro para voltar para casa.
Só que não sou burra e sei que "dinheiro para voltar para casa" significa dinheiro para enfiar em um caça-níqueis até o próximo caminhoneiro aparecer.
- E você mandou?
Lek parecia furioso. Sempre fica assim quando nossa mãe aparece na conversa. Pelo forma como fomos criados, poderíamos não ter tido nenhuma chance. Tenho muito orgulho do meu irmão, por ele ter saído daquele buraco sozinho.
- Não. Falei que eu poderia ir buscá-la, se ela voltasse e ficasse comigo até conseguir se reestabelecer. Então, a mãe desligou na minha cara e nunca mais me ligou.
Meu irmão suspirou, virou para fora de novo e comentou:
- Bem ela mesmo.
Como não era possível discordar e não tinha nada a acrescentar, a conversa meio que parou por aí até chegarmos a um bairro bem desagradável e barra pesada. O Lek me olhou de novo e espremeu os olhos.
- Por que você quer conversar com essa menina mesmo? Ela roubou dinheiro do Lao Ge e me parece uma ingrata sem o menor remorso. Por que está perdendo seu tempo com ela?
Há semanas eu pensava na Aoma, no jeito como ela sumiu e no fato de ninguém, nem seus pais, terem notícias dela. Não conseguia me livrar da impressão de que havia algo por trás de seu comportamento terrível, além do fato de a menina ser uma pirralha mimada e ingrata. Sabia muito bem que esse nível de pirraça, frieza e falta de consideração pela consequência
de suas atitudes na vida de outras pessoas tinha causas profundas e
sombrias. Tão profundas e enraizadas que poucas pessoas conseguem entender ou reconhecer. Sou íntima do autodesprezo e conseguia senti-lo tomar conta daquela jovem.Eu inclinei a cabeça na direção do meu irmão e mandei um olhar inquisidor.
- Muita gente poderia perguntar por que você perdeu não só o seu tempo, mas boa parte da sua infância, comigo, Lek. No fim das contas, todos precisamos que alguém tente nos salvar, mesmo que esse alguém não consiga. Só o fato de terem tentado já é bem importante.
O Lek piscou os olhos, igualzinhos aos meus, cruzou os braços e respondeu:
- Você mesma se salvou. Lutou para sair do coma. Mudou de vida quando veio morar em Denver. Pediu desculpa mais de um milhão de vezes por tudo o que aconteceu no passado. Você foi sua própria salvadora, Kyoshi. Ninguém precisou fazer o trabalho sujo por você.
Parei o carro na frente de uma casa geminada que, obviamente, já tinha
tido dias melhores. Não era um trailer enferrujado no Kentucky, mas bem
que poderia ser. Desliguei o motor e encostei o corpo no banco do carro,
para conseguir olhar Lek. Ele me observava com atenção e, pela tensão
em seus ombros e pelos punhos cerrados sobre seu colo, vi que aquela conversa toda o deixava frustrado. Era assim que meu irmão ficava sempre que eu me metia em encrenca, e ele precisava tomar medidas drásticas e desesperadas para me livrar da confusão. Pus minha mão grande em cima de um dos seus punhos cerrados e pequenos, e falei:
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Riscos da Paixão (Rangshi)
RomanceKyoshi sempre foi uma predadora. Sua ficha criminal é a prova de que ela foi capaz de tudo para se dar bem. Nem mesmo seu irmão Lek escapou de seus golpes. Além disso, os olhos verdes, um charme natural e o sotaque carregado sempre deram pistas de q...