Capítulo 8

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Rangi's P.O.V

- Você acha que se a situação fosse inversa, e o policial Yun estivesse no
beco enquanto você subia a escada de incêndio, ele ficaria se chicoteando com a mesma violência que tem usado?

Olhei para a psiquiatra do departamento e me segurei para não revirar os olhos. Ela tem me feito variações dessa pergunta toda semana. Acho que está cansada de ouvir a mesma resposta, mas não vou mudá-la.

- O Yun não teria se distraído. Podia passar uma manada de elefantes naquele beco que ele sequer teria piscado.

A médica me olhou por baixo dos óculos estilosos e suspirou. Ela estava frustrada comigo, isso era óbvio. Me deu vontade de dizer "bem-vinda ao clube". O Yun também se cansou da minha autocomiseração e das montanhas de arrependimento que sinto pelo que ocorreu com ele. Disse, com todas as letras, para eu sumir e não voltar enquanto não pusesse minha cabeça no lugar. Meu amigo está de saco cheio de eu me lamentar pelos cantos e dos constantes pedidos de desculpas que saem da minha boca. Não para de repetir que acidentes acontecem e que eu preciso aceitar esse fato. Ele me deu um sermão de uma hora, falando como era imbecil eu ter me enfiado na casa de uma criminosa por vontade própria e não quis nem me ouvir dizer que ficar com Kyoshi é a única coisa que acalma os sentimentos ruins que fervem dentro de mim.

Preciso usar toda a minha concentração, minha energia e emoção para acompanhar essa mulher. Ela muda tão rapidamente de charmosa e sedutora para desafiadora e brutalmente sincera que, se eu não ficar esperta, perco as dicas do que está acontecendo de verdade em sua cabeça, as dicas que atravessam sua máscara tão bem construída. Mas já espiei a verdadeira Kyoshi sem disfarces e vi o suficiente para entender algumas coisas. Um dos fatos mais importantes com o qual precisei lidar é que ela não mente ao dizer que era uma pessoa mal. Até pode estar se esforçando para não prejudicar ninguém nem fazer nada contra a lei, mas dá para enxergar isso toda vez que ela manda eu me afastar... O perigo que vive por baixo da superfície, não muito fundo. Kyoshi já fez muita maldade e está convencida de que vai continuar fazendo maldades. Vai ver, tem razão. Outra coisa da qual tenho certeza é que não me importo com isso. Seja ela boa ou mal ou qualquer alternativa intermediária, me sinto muito fascinada, muito atraída e seduzida por ela, de um jeito que nunca estive por ninguém. Já vi nela bondade suficiente, vontade de ser uma pessoa melhor e de levar uma vida melhor do que a atual, na qual ela tem muito a perder. Por isso, a ameaça da sua maldade não basta para eu me afastar dela. Na verdade, me atrai. Gosto do seu lado mau, por mais que esteja começando a entender que isso é algo que ela odeia e a faz não gostar muito de si mesma.

A psiquiatra, que estava sentada em uma cadeira de couro chique, inclinou o corpo para a frente, apoiou o cotovelo no joelho, pousou o queixo em cima da mão e me lançou um olhar inquisidor.

- Você se acha uma boa policial, Rangi?

Eu estava deitada em seu inconfundível divã de couro, mas sua pergunta fez com que eu me endireitasse na hora.

- Sempre quis ser policial - respondi.

Ela ficou me olhando, e eu me remexi toda sem jeito.

- Não foi isso que eu perguntei. Nós deveríamos conversar sobre você, sobre por que não consegue dormir, por que não consegue aceitar que o que aconteceu naquela batida poderia ter acontecido com qualquer dupla de policiais, mas só ouço você dizer "Yun isso", "Yun aquilo". Quem te ouve fica com a impressão de que o Yun é que comanda o show, e você é uma mera figurante. Isso não é ser um bom policial. E, definitivamente, é pouco para uma jovem inteligente e talentosa como você. Já parou para pensar no que vai acontecer se o Yun não puder retornar por questões de saúde? O seu futuro, que é muito promissor, vai acabar porque o dele está comprometido?

Riscos da Paixão (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora