Capítulo 21

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                       Kyoshi's P.O.V

Seis meses depois...

Viver com uma policial é uma experiência bem interessante. Já me acostumei a ter o uniforme da Rangi ao lado de suas peças de seda e de algodão no meu armário. Já não pulo mais de susto ao ver armas e acordo, ao nascer do sol ou no meio da noite, quando ela sai para trabalhar em seus horários estranhos. Ainda estou aprendendo a lidar com as consequências emocionais que esse trabalho lhe causa. Há noites que volto para casa, e ela está arrancando os cabelos de tanta adrenalina, e mal dá tempo de eu passar pela porta antes de Rangi pular em cima de mim querendo liberar essa energia acumulada. E há dias em que ela volta para casa e mal me olha. Nessas horas, a encontro toda encolhida no chuveiro, chorando, e preciso tirá-la de lá e abraçá-la até que ela consiga se acalmar. Logo entendi que, nesses dias, os malvados levaram a melhor. Para minha sorte, os dias em que Rangi pula em cima de mim e arranca minha roupa são muito mais numerosos, e simplesmente aprendi a amá-la em ambos os momentos. Ainda acho que esse emprego dela é uma droga, mas minha garota ama tanto o que faz que eu fico de bico calado... a maior parte do tempo.

O Yun tem se esforçado muito, com a ajuda de um fisioterapeuta bastante hábil, que tem sido útil de diversas maneiras desde que ele voltou a trabalhar. Para minha surpresa, Rangi perguntou se o amigo se importava de ela continuar como parceira do Mako. Minha namorada acha que, em sua carreira, já havia se apoiado demais no Yun e, com outro parceiro, queria se obrigar a ser a policial que deve ser. Além disso, falou que seu coração não aguentaria ver uma arma apontada para ele de novo. O Yun, sendo o amigo incrível e o homem que é, levou tudo isso na boa. Ele sempre quis que Rangi desenvolvesse todo o seu potencial, e é exatamente isso que ela está fazendo.

Joguei minha chave na tigela chique de cerâmica que Rangi escolheu para colocar perto da porta. Mesmo com um local específico para pôr as chaves, ainda tenho que atravessar a cidade de vez em quando para abrir seu carro, porque ela continua se trancando do lado de fora das coisas e dos lugares regularmente. É muito fofo, e seu jeito de me agradecer sempre me faz sorrir. Minha policial sensual dá trabalho, mas eu não mudaria nada nela.

Nessa noite, foi minha vez de chegar tarde em casa. Tem tanta coisa rolando na minha vida que, às vezes, fica difícil de acompanhar. O negócio dos carros que o Lao Ge toma conta está bombando. Recuperamos o dobro do nosso investimento inicial em poucos meses. Para ser sincera, sinto o maior orgulho de dar uma vida nova a negócios que precisavam de uma ajuda. Ainda trabalho uma vez por semana no Bar, mas só porque não quero deixar de ir lá. Aquele lugar é minha segunda casa, para os momentos em que preciso me sentir acolhida, e não tenho coragem de sair completamente. Costumo trabalhar nas noites de quarta ou quinta-feira, e a Kirima e o Wong continuam brigando. Parece que estou assistindo a um reality show ao vivo e em cores, só que muito mais divertido. A Kirima acabou de se inscrever em um site de namoro pela internet, e o Wong vive dando umas opiniões mal-humoradas e despeitadas sobre isso, criticando as escolhas de caras da Kirima.

Também encontrei um botequinho no Ba-Tro que estou louco para transformar em um bar de charutos à moda antiga. Cabem no máximo umas cinquenta pessoas no lugar, que é discreto e escondido na medida certa para eu transformá-lo em um point exclusivo que os modernetes vão amar frequentar. Como o Lao Ge sempre foi muito legal comigo, convidei ele para ser meu sócio e fiquei perplexa com sua recusa. Ao contar isso para a Rangi, ela apenas sorriu e disse que o lugar era meu. Verdade, o Lao Ge quer que eu tenha algo só meu, que pode dar certo ou errado, se todos os nossos investimentos não vingarem. Ele estava tentando cuidar de mim do seu jeito. Então, nessa noite, conversei com Adora, porque finalmente assinei o contrato de aluguel do boteco e quero que ela vá lá reformá-lo. O papo levou muito mais tempo do que eu esperava, e entrei em casa sem fazer barulho para não acordar a Rangi, caso ela já estivesse dormindo.

Riscos da Paixão (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora