16 - Amor

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Esther

Chego bem cedo para buscar Alícia. Sei que andei sendo hostil com a Bia e queria desfazer essa má impressão, já que ela nunca me deu motivos. Na verdade eu me sinto ameaçada pela amizade instantânea delas, mas sei que essa atriz deixa a minha enteada bem mais tranquila e segura, coisa que eu nunca ousei a fazer.

Por incrível que pareça, hoje não tinha trânsito no trajeto que sempre faço, da academia até aqui. Logo que estaciono, decidida a esperar no carro, vejo Marcelo cruzando a rua e indo em direção à Sorveteria que Bia e Alícia amam. Decido ir até ele.

― Ei!

Ele se vira e me espera na entrada.

― Tudo bem? ― me pergunta, olhando para minha barriga.

― Estamos ótimos. ― respondo ― E loucos por um sorvete de pistache.

Ele ri e me direciona até uma mesa vazia.

― Será que elas demoram? ― pergunto, enquanto escolho meu sorvete, num cardápio.

― Um pouco, eu acho. ― responde. Sua expressão está estranha, preocupada...

Então pressiono um pouco e ele conta que acabou de ver sua amiga numa cena quente e ficou puto de ciúmes. Acho graça.

― Era só uma cena. Não faça essa cara de marido traído, vai.

Ele bufa e depois ri de si mesmo.

― Acho que foi assim mesmo que me senti. ― admite e ri de novo ― Ela mal falou comigo, ficou meio estranha... como se tivesse sido pega no flagra.

― Deve ser constrangedor ser surpreendida numa cena dessas, seja ela real ou não. Mas daqui a pouco passa. A amizade de vocês ou sei lá o que mais vocês tenham, é muito bonita. Não entendo como não estão casados e cheios de filhos. Vocês são tão bons juntos, tão bons com crianças...

― Talvez porque banquei o imbecil quando ela era louca por mim, na adolescência. Nem me dei conta. Hoje é ela que não se dá conta de que é a mulher da minha vida e seguimos nesse impasse.

― Quem terminou com quem?

Ele me olha sem entender.

― Como assim?

― Vocês não namoraram na adolescência?

― Não, sempre fomos só amigos. Faz poucas semanas que fiquei sabendo o quanto ela foi apaixonada por mim no passado e então as coisas ficaram meio confusas. Mas nunca rolou nada antes.

― Nossa, de onde Alicia tirou essa história de que vocês tiveram um bebê?

― A Bia teve o bebê. - ele explica - Ela se envolveu com um babaca qualquer, talvez para chamar minha atenção, não sei. O fato é que engravidou aos dezoito anos. O cara sumiu no mundo e eu me tornei pai da filha dela no exato momento em que fiquei sabendo que estava sendo gerada. Amei tanto aquela branquelinha que cheguei a esquecer que não fui eu que tinha feito.

Ele desabafa, emotivo. Queria que meu marido tivesse pelos filhos um décimo desse amor que Marcelo sentiu por uma filha que ele nem gerou.

- Dá para sentir o quanto você a amava.

- Ser pai da Bê naqueles onze meses foi a melhor decisão que já tomei na vida. ― ele suspira, brinca com o cardápio de sobremesas e diz ― Pena ter durado tão pouco toda aquela alegria.

Vejo-o secar os olhos, nitidamente emocionado. Fico curiosa para saber o que de fato aconteceu com a menina, mas quando penso em perguntar, vejo Alícia e Bia entrando na sorveteria. Acho que não é boa ideia continuarmos falando de algo que certamente destroça a alma dela.

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