Marcelo
Um mês sem ver a Bia é o bastante para me deixar agoniado. Sei que nos falamos todos os dias por mensagens ou ligações, mas preciso abraçá-la, sentir seu cheiro.
Durante essas semanas longe, fiquei remoendo o que a Alícia falou sobre nós, sobre o beijo que ela tanto queria ver... Tem horas que acho que preciso abrir o jogo, outras, acho que não é o momento. Ela está focada demais na novela, nos resultados incríveis da campanha que acabou de fazer. Não sei como driblar isso e ter a atenção dela em mim, no que eu estou sentindo.
Ontem ela me ligou animadíssima, contando que finalizou a compra da casa e já contratou profissionais para a reforma. Gosto de vê-la assim, animada.
― Quando vem ver, hein? ― perguntou.
― Não sei... Vou ver se consigo na próxima semana.
― Ah, por favor! Deixa para me abandonar quando você se casar. Preciso te ver!
Ela encasquetou com essa ideia de que estou prestes a ter um relacionamento sério. Quem me dera!
― O Bernardo está indo para aí esse fim de semana. - Aviso - Acho que vai para ficar...
Ela se anima logo. O fato é que o Bernardo passou na seleção do emprego e precisa se mudar para o Rio urgente. A Bia não vai mais ficar só.
Ouço barulho do portão rangendo e olho pela janela. É a tia Marta. Desligo o celular e vou recepcioná-la.
― Oi, filho. Atrapalho? ― pergunta.
― Nunca, tia. Entra.
Ela está com uma expressão cansada, triste. Convido-a para dentro e lhe sirvo um copo de suco.
― A senhora está bem?
― Ah, o Bernardo, como você sabe, ele está de partida para o Rio de Janeiro. Estou com o coração na mão. Meus dois filhos naquela cidade grande, perigosa... O que eu vou ficar fazendo aqui?
― Exatamente, o que prende a senhora aqui?
Ela suspira.
― Vivi muita coisa boa aqui. Me casei, criei meus filhos, vi minha neta nascer... O que aquela cidade tem para me oferecer?
― Seus filhos amam aquela cidade, dá uma chance. A Bia está numa fase boa. Está apaixonada pelo trabalho, sabe? Pela primeira vez a vejo contente depois de todos esses anos de tristeza. O Bernardo está de romance. A namorada é linda, doce... a senhora precisa conhecer. Além do mais, a casa é grande e, posso contar um segredo?
― Conta,
― Olha lá, hein! Não vá dizer que cotei. Sua filha projetou uma fábrica, quer dizer, ela chama de "Usina Doce". É a primeira coisa que quer ver pronto para a senhora não ter desculpas de que aqui tem trabalho, tem clientes. Ela tem um plano para a senhora continuar trabalhando no que gosta, só que com todo o conforto e espaço que merece. Sabe por quê? ― dou um tempo para ela absorver essas informações ― Por que ela já perdeu muita gente importante. Ela precisa da senhora por perto.
― Você não acha que eu vou tirar a privacidade dela?
― De modo algum.
― Eu sou chata, controladora... A Bia é adulta, não precisa de mim por perto.
― Faça um teste. Se não der certo, se a senhora não se adaptar, e só voltar para cá. Mas eu duvido que queira voltar. A senhora vai gostar de lá, eu aposto.
Ela passa algum tempo pensando em tudo que acabei de dizer. Sei que quer ir, mas também sei que sente medo de atrapalhar.
― E vocês dois? Nada mudou ainda? ― me surpreende.
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Minha Vida, Meu Amor
Historical FictionBia é uma garota prestes a completar 18 anos. Alegre e extrovertida, como qualquer adolescente de sua idade. É apaixonada por Marcelo, seu melhor amigo que para sua infelicidade, a enxerga como irmã. Para provocar ciúmes no amigo, ela decide "f...