Beatriz
Faz uns dez dias que fizemos a campanha e desde então, eu e Marcelo estamos esquisitos. Sei que a culpa é minha por tê-lo cortado quando quis me falar de seus atuais sentimentos. É que eu levei tantos anos para calar o que eu sentia por ele que senti medo de tudo aquilo despertar de novo e eu não saber lidar. Mas sei que fiz errado. Devia ter escutado. Não estaríamos nesse clima esquisito agora, se eu tivesse sido madura. Quase nem conversamos desde que ele voou de volta para Neville um dia após aquela campanha.
Para piorar, meu colega de elenco, Rodrigo, anda me rodeando, fazendo convites para jantares e eu não sei mais como fugir dele.
Acabamos de nos esbarrar por acaso nos bastidores e ele me abraça afetuosamente.
― Oi! Cheguei atrasadíssimo! Preciso me trocar e ir pro estúdio. ― diz, apressado.
― Tá bem, bom trabalho.
Mas ele volta:
- Tudo certo para sábado, né? - ele me convidou para assistir a pré-estreia de um filme no qual é o protagonista e acabei aceitando ir.
― Certíssimo! ― por que falei "certíssimo"?
Ele sorri e me dá um beijo breve nos lábios, me pegando de surpresa.
― Te pego às oito, na sua casa então. E só devolvo depois do café da manhã... ― pisca e se vai pelo corredor.
Levo meio minuto para entender. "Só devolvo no café"... Claro, só tem planos de me deixar sair no dia seguinte. Esfrego o rosto, aflita, pois não quero esse tipo de desenrolar com o Rodrigo.
― Ele beijou sua boca?! ― ouço Alícia reclamar e olho para trás. De onde ela surgiu?
― Ah, foi sem querer. Ele ia beijar meu rosto... - desconverso.
Ela faz cara feia.
― Não foi não. Eu vi! Você tem que namorar o tio Marcelo, Bia, não esse chatinho aí.
― Ele não é chatinho, Alícia. O Rodrigo é gente boa e eu não vou namorar nenhum dos dois.
― Por que? Eu gosto do tio Marcelo. Você não gosta dele?
- Gosto como amigo, não para namorar. Vamos almoçar?
Agradeço mentalmente por ela engatar outro assunto, mas me pego pensando no meu amigo e em todos esses desencontros de sentimentos que viemos enfrentando ao longo dos últimos anos.
Não sei aonde foi parar todo aquela paixão que eu sentia. Depois que a Bê foi levada, eu fiquei vazia.
Lidar com esse interesse súbito do Marcelo agora é muito confuso para mim.
Eu já tinha notado que algo vinha mudando. O jeito que ele me olha inteira... Isso era o que mais quis na vida, quando era louca por ele. Hoje não como agir porque sei que não estou apta a me relacionar com ninguém, nem mesmo com ele. Existem questões na minha vida que não me dão espaço para mais nada. Ele sabe disso.
Passo a noite de sexta pra sábado praticamente em claro, agoniada porque sei que não vou ficar empolgada até hoje à noite, então, conversando com minhas amigas num grupo só nosso, acabo abrindo o jogo, contando sobre o Rodrigo e minha falta de ânimo para ir ao nosso encontro. Eu devia ter cancelado.
― Por que não diz que apareceu um imprevisto? Não está pronta para esse passo, ninguém tem que te pressionar a fazer. Desmarque! ― A Lú tem a calma e sensatez que nenhuma de nós temos.
― Aproveita e vem nos ver. Pegue o primeiro voo e vem, anda! Estamos com saudades. ― sugere Alana.
Gosto da ideia. Não digo nada, mas compro minha passagem de ida e às oito da manhã, já estou voando para lá. Não consigo falar com Marcelo quando desembarco. Queria ir para a casa dele, mas como ultimamente temos nos falado pouco, tenho medo de surpreendê-lo com uma garota. Então parto para a casa de Flávio e Lú.
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Minha Vida, Meu Amor
Historische fictieBia é uma garota prestes a completar 18 anos. Alegre e extrovertida, como qualquer adolescente de sua idade. É apaixonada por Marcelo, seu melhor amigo que para sua infelicidade, a enxerga como irmã. Para provocar ciúmes no amigo, ela decide "f...