Minha Vida, Meu Amor

11 - Dia Estranho

Beatriz

Amanheço um pouco melhor. Marcelo tem esse poder de amenizar minhas dores. Sempre teve. Mesmo quando era ele mesmo quem as causava. Eu podia estar com ódio do mundo porque ele havia, mais uma vez arrumado namorada nova, mas bastava me abraçar, me dar um beijo barulhento que tudo sossegava dentro de mim.

Durante o café da manhã, minha mãe me interroga, tentando descobrir o que me deixou mal ontem. Digo que foi estresse no trabalho. Ela não entenderia se eu dissesse que estou preocupada com Alícia.

Peço Marcelo para aparecer mais tarde para assistir as gravações, mas logo que chego aos sets, me recordo que hoje preciso ir numa agência, assinar um contrato novo, outra propaganda, dessa vez, de uma marca de jeans. Vou precisar sair mais cedo das gravações.

Ele decide me levar, mas acho que se arrepende assim que chegamos. Uma equipe inteira aparece me checando. Acho que precisam ver se sirvo ou não para o que querem.

― Daqui a pouco eles mandam você tirar a roupa. ― ele comenta incomodado, apertando minha cintura.

― Só estão vendo se vale a pena me dar essa grana toda. - brinco.

Um cara de óculos e e roupas coloridas aparece me cumprimentando e me dando as boas vindas. Diz que se chama Nico e que além de fotógrafo, também é o dono desse estúdio.

― Pele de pêssego! ― comemora, tocando meu rosto e cabelos ― Você é perfeita!

― Obrigada. ― agradeço, meio tímida.

― Mas essas olheiras não passam na prova...

- Dormi pouco.

- Tudo bem. - ele fita Marcelo - Dá para compreender a noite mal dormida. No seu lugar também aproveitaria. - ele meio que sussurra essa última frase.

Sinto meu rosto corar com essas insinuações.

- Não é o que está pensando.

- No dia das fotos preciso que elas desapareçam. - ele diz, incisivo e se vira para o Marcelo - Entendeu, Ébano? Preciso que a deixe descansar a noite inteira na véspera.

Marcelo está bem constrangido.

Ele fita o Marcelo de baixo a cima. Tira os óculos e fita novamente, com a mão direita na cintura, mordendo uma das pernas dos óculos.

― Estamos precisando de alguém exatamente como você para fazer as fotos com a Bia. Que tal fazermos um teste? Já fotografou alguma vez na vida?

― Não. - Marcelo responde.

― Sim. Ele fez umas fotos há uns dez anos. Mas depois não quis mais. Disse que não tinha o dom. ― lembro, rindo.

― Dá uma voltinha, ébano. ― ele pede, já apelidando o Marcelo.

― Não, não. Sem voltinhas. Só vim mesmo acompanhar a minha amiga.

Nico leva as mãos ao peito, fazendo uma cara de susto:

― Meu Deus! O que aquela modelo está fazendo completamente nua em pleno salão!? ― ele aponta de repente.

Nós dois viramos para olhar, mas não há ninguém. Quando o olhamos de volta, ele está avaliando o traseiro do Marcelo. Gargalho. Marcelo fica sem jeito.

― Material perfeito! ― ele sussurra para mim.

― Também acho. ― admito, baixinho, só para o meu novo amigo engraçadíssimo.

- Vamos lá na sala de reuniões para falarmos da campanha que vocês irão fotografar?

― Vocês, não. ― Marcelo corrige depressa ― Só a Bia.