10 - Magnetismo

10.7K 761 193
                                    

Esther

Depois de muito custo, Alícia adormece. Ela queria que eu a levasse até a Bia. Não é difícil entender o motivo. A atenção e o afeto que aquela atriz dá a Alícia é algo que ela nunca experimentou nessa casa. Nem eu tive coragem de lhe oferecer esse amor. Me arrependo muito.

Me levanto e vou até o meu quarto. Daniel está assistindo uma série, enquanto faz um lanche. Parece que nada aconteceu. Me assusta ver o quanto ele está ficando idêntico à mãe: Frio, vazio.

- Vou passar um tempo na casa dos meus pais e Alícia vem comigo. - Aviso, pegando umas roupas no closet e arrumando na mala.

- Como assim? Enlouqueceu?

― Meu filho não vai nascer nesse inferno.

― Para de bobagens, Esther! E você não tem porque levar a Alícia. Ela nem é sua.

― Eu tenho dezenas de provas de que você não respeita sua filha, de que vocês a maltratam, a espancam, a humilham. Basta eu apresentar essas provas para um juiz e pronto - Então não tenta me impedir de levá-la.

Ele assente, observando eu fechar a mala.

- Está me deixando?

- Eu amo você, sabe disso. Mas não dá mais para ser desse jeito. E a cada vez que é frio com sua filha, me pergunto se fiz a escolha certa para o pai do meu filho. Ninguém merece ter um pai tão covarde.

- Você viu que foi ela quem passou dos limites, não viu?

- Tenho visto muitas coisas. Só não vejo amor.

- Não começa!

Sempre é assim. Basta eu começar a questionar alguns pontos que ele tenta me interromper.

- Sua filha é tão carente de atenção que dormiu repetindo o nome da atriz que grava com ela. Sabe por quê?

- Como vou saber, Esther? Vamos mesmo ter uma DR agora? São quase duas da manhã!

Ele é realmente um imbecil. O que fiz da minha vida?

- Cadê a família materna da Alícia? Avós, tios? Por que não tem ninguém deles por perto? Morreram junto com a mãe dela?

- Ninguém queria assumir um bebê. - ele responde, vago e aumenta o volume da tevê.

Tomo o controle remoto de sua mão e desligo:

- Mas nem quiseram manter contato? Visitá-la? O que você e sua mãe fizeram para todos sumirem da vida dela?

- Por que acha que fizemos alguma coisa? Está maluca?

- Porque ninguém que perde uma filha numa fatalidade dessa, viraria as costas para a filha da filha. Tem algo nessa história que não bate. E eu vou descobrir.

Aviso, sem dar tempo para ele replicar. Pego minha mala e saio.

Vou ao quarto dela e arrumo algumas roupas numa bolsa. Ela está agitada, resmungando enquanto dorme. Deve estar tendo um pesadelo com a bruxa asquerosa que mora nessa casa.

Não durmo. Assim que amanhece, acordo Alícia e a levo para a minha academia.

Ainda não sei o que fazer. Preciso pensar. Se eu for para a casa dos meus pais, vou ter que contar o que vive acontecendo e não sei como reagiriam.

- Por que não tenta dormir mais um pouquinho ali no sofá? - sugiro a ela que está quieta demais.

- Estou sem sono. Já posso ir gravar? - pergunta - Não quero ir para a escola hoje.

Minha Vida, Meu AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora