Esther
Hoje é o primeiro dia de gravação, finalmente. Não aguentava mais a Alícia querendo saber quantos dias faltavam para chegar hoje.
Quando entro no quarto para ajudá-la escolher uma roupa, a vejo prontíssima.
― Vamos?!
― Vamos lá. Está linda! ― ela é muito independente. Se arruma sozinha faz tempo.
― Tô mesmo, tia?
― Lindíssima!
― Será que a Bia vai estar lá?
― Acho que vai. Ela tem que gravar também.
― É...
Quando estamos em frente ao estúdio, Alícia aponta alguém:
― Ali a Bia! ― Diz empolgada ― Deixa eu descer, tia.
― Onde está vendo a Bia?
― Parada ali, olha. ― aponta o carro na entrada. Está aguardando o portão ser aberto para entrar ― Buzina, tia.
Eu buzino, a atriz olha sem entender. Peço que ela espere.
― Não esqueça a bolsa, hein. ― mas Alícia já está saindo com a bolsa no ombro ― Vai pela calçada! ― A vejo correr até o carro da tal Bia e se pendurar na janela do carro, numa tentativa de abraçar a nova amiga.
Essa garotinha é tão carente...
Bia abre a porta e estende os braços para minha enteada. Alícia simplesmente voa para os braços dela. Fico observando por alguns segundos as duas. Essa é a segunda vez que se veem, mas parecem que se conhecem a séculos! A atriz a abraça apertado, a beija várias vezes sem tirar minha enteada do colo. Pergunta alguma coisa a menina e ela olha pela janela e aponta para mim.
A atriz acena, sorrindo. Aceno de volta e religo o carro, dando a ré.
― Já era, roubei para mim. ― brinca ela, acenando.
Sorrio mais uma vez e vou para casa.
Beatriz
Ontem não tive como escapar de mais uma daquelas terapias que odeio. Nada contra os psicólogos, mas a minha acha que é a dona do mundo, que sabe o caminho para qualquer cura, inclusive a minha. Como se alguém fosse capaz de dizer meia dúzia de palavras e fazer passar a saudade que sinto da minha filha e sarar as feridas que a ausência dela me deixou.
Por mim, eu já teria desistido dessas terapias a muito tempo, mas faço pela minha mãe, pelo Bernardo e pelos meus amigos que acreditam que eu fico mais "equilibrada" com as terapias em dia. Então, se é para tranquilidade deles, eu aceito esse sacrifício. Mas não posso mentir para mim mesma. Conversar com aquele ser que acha que pode me manipular com suas teorias absurdas, é a pior parte do meu carma de viver sem minha filha.
Sequer mencionei que começariam as gravações da Alícia hoje. Melhor ela se esquecer disso porque já me encheu com esse assunto o suficiente na consulta anterior. Mulherzinha chata!
Então, quando estou na portaria do estúdio, ouço uma voz chamando meu nome e de repente, Alicia está na janela, sorrindo pra mim:
― Bia, estava com muita saudade de você, sabia?
E eu nem sei mensurar o tamanho da minha. Tento abraçá-la pela janela, mas preciso de um abraço de verdade. Abro a porta e puxo essa menina linda para o meu colo. Abraço, beijo, sinto o cheirinho dela. Faço tudo que minha psicóloga disse para eu não fazer. Não para me vingar daquela chata, mas porque a Alicia me faz bem. Ela colore o meu mundo, me faz ter vontade de viver novamente. Não vou deixar uma psicóloga de merda estragar a nossa amizade que está apenas começando, mas já sinto que será linda.
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Minha Vida, Meu Amor
Historical FictionBia é uma garota prestes a completar 18 anos. Alegre e extrovertida, como qualquer adolescente de sua idade. É apaixonada por Marcelo, seu melhor amigo que para sua infelicidade, a enxerga como irmã. Para provocar ciúmes no amigo, ela decide "f...