Esther
Já é final de tarde e meu marido não foi liberado. Mal sei o que está acontecendo, pois não sou autorizada nem mesmo a falar com ele por telefone.
Débora chega por volta das seis, pedi que me fizesse companhia, pois não estou me sentindo bem. Deve ser queda de pressão.
- Nenhuma notícia ainda? - ela pergunta, afagando a minha barriga de quase seis meses.
- Nada. Tô enlouquecendo aqui.
- Alícia está em casa?
- Sim, no quarto dela.
- Ela melhorou?
Esfrego o rosto, atordoada.
- Reclamou de dor de cabeça mais cedo, dei um remédio, mas ela está chata hoje porque queria ir para a gravação e eu não levei. Nem tive cabeça para isso, mas quem disse que ela quer saber?
- Calma, ela é só uma criança. Não desconta toda essa tensão nela, tá?
Suspiro, assentindo.
- Eles chamaram o meu marido de sequestrador! Falaram de falsidade ideológica. E pra piorar, ele está prestando depoimento há quase doze horas.
- Não adianta você ficar assim, nervosa desse jeito. Só vai fazer mal pro bebê. Tenta se acalmar. Deve ser algum mal entendido.
- Deus te ouça, mas aqueles policiais não pareciam estar blefando.
- Comeu hoje? - Débora é sempre cuidadosa, principalmente agora, que estou gerando o afilhado dela - Aposto que nem lembrou de alimentar meu afilhado.
Confirmo que nem tive fome e ela abre o aplicativo para pedir alguma coisa.
- Alícia, vem! Tô pedindo pizza! - ela chama, caminhando até o quarto e abrindo a porta - Ei, garotinha, vem aqui dar um beijo na sua tia Débora, vem!
Alícia sai do quarto meio cismada. Está me observando de longe e Débora nota:
- O que foi?
- Você ainda está muito brava? - a pergunta é para mim.
Tive que dar uns gritos com ela mais cedo para que parasse de insistir em ir ao estúdio.
- Vem, ela não está mais brava. - Débora responde, puxando-a para um abraço e fazendo um sinal para mim, como se me mandasse pegar leve. - Está com febre... - ela diz, sentindo a temperatura no pescoço de Alicia - Não é melhor levá-la ao médico?
- Levei ontem e o pediatra não encontrou nenhuma alteração nos exames.
- É, mas já são três dias febril. Tem que ver isso. - ela insiste - Está sentindo alguma coisa, querida?
Alícia nega, mas o rosto está vermelho e hoje não quis comer nada. Além de parecer meio triste.
- E a dor de cabeça? Passou?- pergunto.
- Está doendo só um pouquinho.
Enquanto responde, fica de olho no celular da minha amiga sobre a mesa. Daqui a pouco ela pede para ligar para a Beatriz. Mas antes disso, já tiro o aparelho do alcance dela e faço um gesto de negação para Débora. Não sei o que Alícia viu de manhã e prefiro que ela não fale para ninguém sobre o que está acontecendo. A última coisa de que preciso é que uma emissora descubra que meu marido está detido.
A pizza chega e minha amiga a incentiva a comer uma fatia, mas ela não parece muito animada.
- Vou poder ir gravar amanhã? - pergunta, preocupada.
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Minha Vida, Meu Amor
أدب تاريخيBia é uma garota prestes a completar 18 anos. Alegre e extrovertida, como qualquer adolescente de sua idade. É apaixonada por Marcelo, seu melhor amigo que para sua infelicidade, a enxerga como irmã. Para provocar ciúmes no amigo, ela decide "f...