Valmir
Quando eu era criança, meus pais se divorciaram depois de anos em pé de guerra. Eu e mais três irmãos vivíamos no meio de toda aquela briga até que enfim eles decidiram desfazer o casamento.
Mas o que parecia ser o início de dias de paz, após a separação, foi na verdade o início de outro pesadelo. Meu pai, no dia que a certidão de divórcio saiu, pegou meus dois irmãos caçulas e desapareceu. Teresa tinha dois anos e Vítor tinha três e meio. Foram quase seis meses de buscas até reencontramos meus irmãos. Minha mãe, coitada, quase morreu de tristeza e desespero nesse intervalo sem qualquer notícia deles. Precisamos de muita ajuda, não só das autoridades, mas também de amigos e parentes para trazê-los de volta. E foi por isso que quando a história da Beatriz e da filha chegou em meus ouvidos, mexeu tanto comigo. Me vi voltar no tempo, revivi o sofrimento da minha mãe, o meu e da minha outra irmã que na época tinha sete anos. Eu tinha dez e até hoje nunca esquecemos dos dias angustiantes que nós três passamos sem os nossos caçulinhas.
Hoje, vendo a Beatriz lidando com a ausência da filha por longos quatros anos e meio, sinto a mesma angústia e pressa de que tudo se resolva e ela possa finalmente abraçar sua filha. Ela não imagina o quanto esses dias cruéis estão contados.
Não foi difícil achar o Germano Filho. Ele deu o nome verdadeiro durante a internação da menina, então localizá-lo a partir do momento em que descobrimos em que hospital ela foi tratada, foi bem rápido.
Nas diligências feitas à casa dele, descobrimos uma série de fraudes. O criminoso sequer usa o nome real no dia-a-dia. Diz ele que usa Daniel porque era o nome que a mãe escolheu desde antes de ele nascer, mas o pai não respeitou isso na hora de registrá-lo, portanto, a mãe o chama pelo pseudônimo desde que era recém-nascido. História esquisita que ainda vou checar.
Ele não admite que sequestrou a filha. Primeiro insistiu na história de que ela havia morrido durante o tratamento cardíaco, depois de muito interrogatório meu e da minha equipe, ele acabou vacilando e inventando uma nova versão de que fez isso porque a criança era negligenciada pela família materna. Versão que ele não conseguiu provar ou sequer repetir sem falhar. É um dissimulado, mas está se enrolando cada vez que conta uma mentira. É só questão de tempo para ele admitir cada merda que fez.
A menina está num abrigo há dois dias, mas não é para lá que eu deveria tê-la levado, já que tudo indica que ela é realmente a filha sequestrada de Beatriz. Mas não posso passar por cima das ordens do Juiz. Apesar de ele ter uma ótima reputação nesses casos de vara de família, costuma ser bem exigente com as provas e certificações.
Agora estamos aqui, avaliando as versões, aguardando o teste de DNA para finalmente levar mãe e filha a se reencontrarem.
Beatriz
Valmir liga no início da tarde e pergunta onde estou.
- Saindo do estúdio. Terminei de gravar umas cenas nesse instante. Alguma novidade?
- Sim. Está dirigindo?
- Não. Estou arrumando umas coisas ainda... - noto que ele tem algo importante a dizer e me sento, o coração já acelerando - Pelo amor de Deus, fala! Ela está bem? O resultado do exame saiu?
- Não.
- O não e para qual pergunta, Valmir?
- Para ambas. O resultado ainda não saiu e a menina não está muito bem. Ela foi levada hoje cedo com febre alta para o Hospital São Matheus e eu já não sei se tirá-la de casa foi o certo. Ela está sozinha.
- Eu vou para lá agora.
- Beatriz, espera!
- Eu preciso ver a Bê.
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Minha Vida, Meu Amor
Historical FictionBia é uma garota prestes a completar 18 anos. Alegre e extrovertida, como qualquer adolescente de sua idade. É apaixonada por Marcelo, seu melhor amigo que para sua infelicidade, a enxerga como irmã. Para provocar ciúmes no amigo, ela decide "f...