14 - Intuição

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Beatriz

Esther não atende e nem responde minhas mensagens. Tento relaxar, mas nada me tira da cabeça que foi Alícia me ligando. Eu a fiz decorar o meu número para me ligar se algum dia precisasse de ajuda. Não acredito que perdi a ligação dela!

Marcelo tem razão, eu amo a Alícia de um jeito que nem posso admitir em voz alta. Me importo, me preocupo, sinto uma saudade absurda por estar apenas a um dia sem vê-la.

- Quer assistir um filme, dar uma volta...? - ele pergunta, me abraçando

Se eu disser que quero ir para casa vou parecer mais maluca do que já me veem.

- Um filme tá bom.

Como de costume, vamos assistir na cama. Mas dessa vez não me concentro nem por cinco minutos.

Pego o celular e pesquiso uma passagem de volta. Consigo uma para daqui a duas horas e compro imediatamente.

- Vou embora. - aviso, saindo da cama.

- Embora? - Marcelo estranha.

- Sim, preciso da minha casa.

- Embora para o Rio? Uma hora dessas?

- Acabei de conseguir uma passagem. Meu voo sai em duas horas, preciso me apressar.

- Por que?

- Não me peça para explicar. Só preciso ir.

- Bia, não faz isso.

- Eu preciso organizar minha cabeça. A gente se fala amanhã, tá bem? - beijo seu rosto.

- Essa agonia toda por causa da ligação da mãe da Alícia.

- Madrasta da Alícia! - corrijo-o.

- Bia, suas consultas estão em dia? Já falou sobre esse amor obsessivo pela Alícia com a sua psicóloga?

Não acredito que ele vai querer debater sobre isso agora.

- Tchau, Marcelo.

- Vou te levar.

- Não precisa, ainda sei como me virar nessa cidade.

Ele não tenta me impedir, mas está nitidamente chateado.

Sigo a pé pelas ruas de Neville. Está tudo em silencioso como sempre foi. Entro de mansinho na casa dos meus amigos e tento organizar minha mente turbulenta.

Chega notificação no meu celular e eu abro ansiosa, mas é o Marcelo.

"A Bê se foi, mas você está viva. Precisa aceitar isso e seguir em frente, por mais doloroso que seja. Estou aqui por você. Sempre. Te amo."

Abafo um soluço. Meu coração está angustiado, triste. De todas as pessoas que enterraram a Bê no passado, quem mais me destrói ao fazer isso é ele que a amava tanto e mesmo assim quer me obrigar a superar o que não tem superação.

Marcelo liga e acho melhor atender.

- Oi.

- Vai mesmo embora?

- Vou, cheguei aqui na casa da Lu e do Flávio. Vou pegar minhas coisas e sair.

- O que deu em você? Se arrependeu da gente?

- Não. Juro que não, mas não existe um futuro para nós. Estamos em fases diferentes... Sempre estivemos, na verdade.

- Não estamos.

- Não vou discutir. Preciso me apressar para não perder o voo.

Desligo e pego a minha mala no quarto. Apesar de não fazer nenhum barulho, Lú aparece na porta com o celular na mão. Tenho certeza que foi Marcelo quem ligou para ela, avisando que "surtei". E sempre assim que todos eles me veem. A pobre mãe que nunca sai do luto e que surta sempre que alguém a pressiona dar um passo a frente.

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