Beatriz
Esther não atende e nem responde minhas mensagens. Tento relaxar, mas nada me tira da cabeça que foi Alícia me ligando. Eu a fiz decorar o meu número para me ligar se algum dia precisasse de ajuda. Não acredito que perdi a ligação dela!
Marcelo tem razão, eu amo a Alícia de um jeito que nem posso admitir em voz alta. Me importo, me preocupo, sinto uma saudade absurda por estar apenas a um dia sem vê-la.
- Quer assistir um filme, dar uma volta...? - ele pergunta, me abraçando
Se eu disser que quero ir para casa vou parecer mais maluca do que já me veem.
- Um filme tá bom.
Como de costume, vamos assistir na cama. Mas dessa vez não me concentro nem por cinco minutos.
Pego o celular e pesquiso uma passagem de volta. Consigo uma para daqui a duas horas e compro imediatamente.
- Vou embora. - aviso, saindo da cama.
- Embora? - Marcelo estranha.
- Sim, preciso da minha casa.
- Embora para o Rio? Uma hora dessas?
- Acabei de conseguir uma passagem. Meu voo sai em duas horas, preciso me apressar.
- Por que?
- Não me peça para explicar. Só preciso ir.
- Bia, não faz isso.
- Eu preciso organizar minha cabeça. A gente se fala amanhã, tá bem? - beijo seu rosto.
- Essa agonia toda por causa da ligação da mãe da Alícia.
- Madrasta da Alícia! - corrijo-o.
- Bia, suas consultas estão em dia? Já falou sobre esse amor obsessivo pela Alícia com a sua psicóloga?
Não acredito que ele vai querer debater sobre isso agora.
- Tchau, Marcelo.
- Vou te levar.
- Não precisa, ainda sei como me virar nessa cidade.
Ele não tenta me impedir, mas está nitidamente chateado.
Sigo a pé pelas ruas de Neville. Está tudo em silencioso como sempre foi. Entro de mansinho na casa dos meus amigos e tento organizar minha mente turbulenta.
Chega notificação no meu celular e eu abro ansiosa, mas é o Marcelo.
"A Bê se foi, mas você está viva. Precisa aceitar isso e seguir em frente, por mais doloroso que seja. Estou aqui por você. Sempre. Te amo."
Abafo um soluço. Meu coração está angustiado, triste. De todas as pessoas que enterraram a Bê no passado, quem mais me destrói ao fazer isso é ele que a amava tanto e mesmo assim quer me obrigar a superar o que não tem superação.
Marcelo liga e acho melhor atender.
- Oi.
- Vai mesmo embora?
- Vou, cheguei aqui na casa da Lu e do Flávio. Vou pegar minhas coisas e sair.
- O que deu em você? Se arrependeu da gente?
- Não. Juro que não, mas não existe um futuro para nós. Estamos em fases diferentes... Sempre estivemos, na verdade.
- Não estamos.
- Não vou discutir. Preciso me apressar para não perder o voo.
Desligo e pego a minha mala no quarto. Apesar de não fazer nenhum barulho, Lú aparece na porta com o celular na mão. Tenho certeza que foi Marcelo quem ligou para ela, avisando que "surtei". E sempre assim que todos eles me veem. A pobre mãe que nunca sai do luto e que surta sempre que alguém a pressiona dar um passo a frente.
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Minha Vida, Meu Amor
Historical FictionBia é uma garota prestes a completar 18 anos. Alegre e extrovertida, como qualquer adolescente de sua idade. É apaixonada por Marcelo, seu melhor amigo que para sua infelicidade, a enxerga como irmã. Para provocar ciúmes no amigo, ela decide "f...