𝙈𝙄𝘿𝙉𝙄𝙂𝙃𝙏 𝙍𝘼𝙄𝙉, pablo gavi.

020| freak the freak out

Barcelona, Espanha
ᶠᵉᵛᵉʳᵉⁱʳᵒ ᵈᵉ ²⁰²²

LEANNA MARTÍNEZ

Assumo uma expressão vazia, mas meu coração está batendo mais rápido do que antes enquanto observo a casa do outro lado da rua. Nenhuma movimentação desde que eu saí de lá, nem mesmo Nala latiu ou saiu correndo pela porta dos fundos.

Sinto a presença de meu pai antes mesmo dele se mover, assim como aprendi a fazer quando era criança e não queria irrita-lo por deixar os brinquedos fora do lugar. Engulo a lembrança como se fosse a bile.

— Mi hija. — ele abre os braços, esperando que eu o abrace.

— Por favor, saia. — não me viro para não ter que encara-lo.

— Como assim "saia"? Você só pode estar de brincadeira. — esbraveja ao entrar no quarto e puxar meu braço, me virando.

— Eu não quero falar com o senhor. — abaixo a cabeça, evitando a todo custo olhar em seus olhos.

— É claro que não, caso contrário atenderia minhas ligações e eu não precisaria estar aqui. — cerra os dentes.

— Achei que confiasse o bastante no seu herdeiro pra estar aqui. — respondo, tentando tirar meu braço de suas mãos, mas o aperto só se torna mais forte.

— E eu confio, diferentemente de você, ele não costuma me decepcionar com frequência.

— Se está tão preocupado em que eu me vire contra você, deveria começar tentando ser o pai que nunca foi. — meus olhos ardem com a confissão e sinto meu rosto queimar após um tapa ser desferido.

Ele me bateu.

Meu pai, que costumava ser meu herói, se tornou um monstro em apenas alguns segundos.

— Você nunca mais ouse dizer que eu não sou um bom pai para você! Tudo o que você acredita que conquistou foi graças a mim, então não haja como uma ingrata por causa de um garoto. — seus braços me empurram com tanta força sobre minha cama que quase bato a cabeça.

— Para! Para de achar que tudo o que estou fazendo é por causa dele! Você nunca foi presente na minha vida, só se importava em me criar pra mídia e nada mais! — me encolho, puxando um dos travesseiros para o colo.

— É incrível como você sempre tenta me colocar como o vilão da história. Eu te deixei em Barcelona há menos de vinte dias e isso já foi o suficiente para você virar uma mesquinha influenciável. — Carlos coloca as mãos na cintura, virando para a janela em que eu estava antes.

— Quando seu pai é um monstro, dificilmente não se é influenciada. — sussurro mais para mim do que para ele.

— Tudo, tudo o que eu fiz nessa vida foi para garantir as melhores coisas para minha família e você sabe muito bem disso.

— Inclusive trair minha mãe diversas vezes e largar eu e o Matteo em Barcelona por 5 anos sob os cuidados da sua irmã? Parabéns! Você pensa muito na sua família. — grito, passando as mãos pelo rosto e tentando enxugar as lágrimas.

— Pode tentar me incriminar, mas no fundo você sabe que isso sempre foi o melhor pra todo mundo. Agora me diga, tem certeza que vai conseguir viver sem todo esse seu luxo? Aposto que o internato em Madrid ainda tem uma vaga te esperando. — ele sorri sem graça nenhuma.

Fico em silêncio analisando sua movimentação corporal. Meu pai nunca deixou transparecer suas emoções, então sempre tentei desvendar ele pelos movimentos e sei que agora está tentando me intimidar.