Barcelona, Espanha
ᶠᵉᵛᵉʳᵉⁱʳᵒ ᵈᵉ ²⁰²²LEANNA MARTÍNEZ
As luzes do estúdio me deixam tonta por um instante. Enquanto Carmen grita de um lado e Angel passa correndo pro outro, poso para a câmera na minha frente. Estamos fotografando um catálogo inteiro de peças de inverno, o que chega a ser um tanto quanto exaustivo.
Apoio o braço no banquinho ao meu lado, me inclinando para perto do outro modelo. Minhas mãos estão em seu ombro, criando um tipo de abraço despojado. O sobretudo que estou vestindo, atrapalha um pouco a movimentação, o que faz com que Fernando precise me tocar para achar a pose perfeita.
Nesse momento, eu congelo. Não consigo mover um músculo se quer e muito menos respirar normalmente quando ele está perto assim.
— Romeu, puxe-a para perto. Precisamos de mais emoção, vocês tem que parecer um casal. — Carmen grita novamente, me fazendo revirar os olhos.
— Você quer que ela se funda a mim? Porque é o que vai acontecer se eu a trazer mais perto. — seu tom é profissional.
— Se for preciso, sim. Lembre-se de que este é o seu trabalho. — nossa agente é ríspida, cessando o assunto.
Terminamos as fotos um pouco depois do horário previsto, devido à grande demanda de peças e o tempo entre o ensaio e as trocas de roupas, uma vez que roupas de inverno são muito mais complexas e pesadas do que as que costumamos fotografar normalmente.
Deixo o prédio logo após me certificar de que estava tudo em seu devido lugar e peço um carro de aplicativo. Me deixo descansar no banco assim que entro no automóvel, fora só nesse momento que soltei a respiração que nem sabia que estava prendendo.
Chego em casa e as luzes estão apagadas, o que é bastante estranho já que titia deveria estar aqui nesse horário. Ascendo o interruptor e deixo as chaves na mesinha, fechando a porta atrás de mim.
— Titia? A senhora está em casa? — grito, passando o olhar pela cozinha.
Nada.
Verifico meu celular para ver se há alguma mensagem que eu tenha deixado passar, mas novamente não há nada.
Me encaminho para a sala, na esperança de que titia esteja lá. E ela definitivamente está, mas não da forma que eu esperava. Seu corpo está estirado logo após o último degrau da escada e seu rosto está apagado.
— Tia! Tia, por favor acorda! — corro até onde ela se encontra, verificando sua pulsação.
Um grito sufocado escapa da minha garganta e eu viro o rosto. Por um momento, sinto como se tudo dentro de mim estivesse ruindo, eu me agacho ao lado de seu corpo desacordado, deixando as lágrimas rolarem.
Pego meu celular que estava caído em algum lugar no chão e disco o único número que lembro de cor, o do papai. Mas ele não atende, talvez esteja em alguma reunião importante. Então passo pelos contatos, procurando o número da mamãe, mas ela também não atende.
— Por favor, Matt! Você é minha única esperança. — digo para mim mesma em meio a soluços.
O telefone toca até cair, meu irmão também não estava me atendendo. Tento mais uma vez todos os números da família, mas sem sucesso. O desespero me atinge, minhas mãos começam a soar e respirar se torna mais difícil.
É agonizante.
— Tia, me desculpa. Eu não devia ter te deixado sozinha. — lamento em meio ao choro, passando as mãos pelos seus cabelos escuros.
Eu preciso fazer alguma coisa.
Passo as mãos nos olhos, tentando espantar as lágrimas e desembaçar a vista, para poder ao menos enxergar o teclado do celular. É quando uma ideia inusitada surge em minha cabeça.
Clico no número não salvo nas chamadas recentes, na esperança de que pelo menos ele me atenda e me xingue, que fale comigo e que me ajude.
— Você me ligando? Tá carente? — ele atende depois do terceiro toque.
— Por favor, eu preciso de você. — sussurro, porque não consigo falar mais alto.
O celular despenca das minhas mãos, ficando ao meu lado e me deixando sem esperanças. Abraço meus joelhos e me permito chorar, pois espero que essa dor saia de mim. É possível ouvir Gavi murmurando algo do outro lado da linha, mas está longe demais para que eu possa decodificar.
Não precisou de muito tempo para que o garoto viesse, afinal ele mora do outro lado da rua. Ele para na entrada da sala, analisando a cena que estava diante de si. Assim que a imagem parece fazer sentido na sua cabeça, ele corre até mim.
— Lea, Dios mio! O que aconteceu? — ele se agacha preocupado.
— Eu não sei, cheguei em casa e ela estava caída. — digo em meio a soluços, me agarrando em sua jaqueta.
— Você tentou ligar ou avisar alguém? — suas mãos acariciam minhas madeixas.
Nego com a cabeça e escondo o rosto em seu peito.
— Você foi o único que me atendeu. — soluço. — Eu tô desesperada, Gavi.
— Imagino que sim. — ele nos levanta. — Vou chamar uma ambulância, tudo bem?
Passa os dedos em meu rosto, enxugando algumas lágrimas e então se encaminha para outro cômodo, a fim de fazer a ligação. Cubro a boca com as mãos, sufocando um grito.
•••
Faz mais de duas horas que estamos aqui e os médicos não dizem nada, muito menos me deixam vê-la. A palpitação em meu peito cresce a cada hora e toda vez em que me lembro do momento que a vi no chão.
Titia sempre foi meu porto seguro. Bem, até meus quatorze anos, quando decidi cozinhar o jantar porque me sentia grata por tudo que ela fazia por mim e quase coloquei fogo em sua casa. A partir desse dia, ela jurava que eu estava planejando mata-la e pediu uma medida protetiva.
Fiquei triste, sim. Foram longos meses de pura dor e sofrimento. Mas não podia deixar isso se estender por mais tempo, afinal foi ela quem me criou e deu todo o amor e carinho que meus pais deixaram faltar. Voltei para Barcelona com o único propósito de concertar as coisas e até agora, parece que tudo que fiz foi piora-las.
Me levanto da poltrona, assustando Pablo que estava ao meu lado e que disse que ficaria comigo até conseguirmos uma resposta. Começo a andar de um lado para o outro, abraçando meu próprio corpo.
— Ei, ei, ei! — ele me puxa para que fiquemos frente a frente. — Se acalma.
— Ela não pode morrer, Gavi.. — escondo meu rosto em seu peito, puxando sua jaqueta quando ele me abraça.
— Por mim, ela ia direto pro inferno. — ele murmura algo inaudível.
— O que? — levanto minha cabeça na esperança que ele repita.
— Não se preocupe, vai ficar tudo bem com ela. — beija o topo da minha cabeça. — Mas agora você precisa descansar.
— Eu não posso sair daqui, e se acontecer alguma coisa? — o encaro.
— Tenho a certeza de que se acontecer algo, não vai ser você quem vai resolver. Vou te levar pra casa e se eles tiverem alguma notícia, vão ligar. — ele sorri sem nenhuma emoção, usando o polegar para expulsar as gotículas de água que estavam escorrendo pelo meu rosto.
— Por favor, esteja certo.
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Oii, atualizando pra comemorar que ganhamos o jogo de hoje e teve gol do Ferran (pra minha felicidade).
Não esqueçam de deixar o feedback, por favor. ♡
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𝙈𝙄𝘿𝙉𝙄𝙂𝙃𝙏 𝙍𝘼𝙄𝙉, pablo gavi.
RomansLeanna sempre sonhou em expandir seus horizontes além das fronteiras de Madrid. Criada em Barcelona pela tia-avó quando criança, ela retorna à vibrante cidade com a esperança de impulsionar sua carreira de modelo e escapar dos negócios opressivos de...