𝙈𝙄𝘿𝙉𝙄𝙂𝙃𝙏 𝙍𝘼𝙄𝙉, pablo gavi.

037| there's a letter

 Barcelona, Espanha
ᵃᵇʳⁱˡ ᵈᵉ ²⁰²²

LEANNA MARTÍNEZ

Tia Alice permanece na porta, seus olhos carregados de desconfiança enquanto ela observa Pablo e eu no escuro. O ar no quarto parece mais denso, carregado com a tensão do que acabamos de descobrir.

Antes que qualquer um de nós possa responder à pergunta de Alice, Gavi quebra o silêncio.

— Eu... encontrei algo — ele diz, hesitante, enquanto tira uma carta dobrada do bolso.

Pelo que podemos ver através da luz do poste, o papel é velho, amarelado, e está claramente manuseado, como se alguém o tivesse lido repetidamente ao longo dos anos.

O rosto de Tia Alice endurece ainda mais ao ver a carta. Ela dá um passo à frente, a mão estendida, claramente querendo pegá-la. Mas Pablo recua ligeiramente, mantendo a carta fora do alcance dela.

— O que você está fazendo? — Alice sibila, sua voz baixa, mas carregada de raiva. — Isso não é da sua conta, garoto. Essa carta não é para você.

Pablo mantém a calma, mas posso ver que ele está nervoso.

— Essa carta é sobre a Cecília, não é? — ele pergunta, os olhos fixos nos de Tia Alice. — E sobre a mulher que você não quer que a gente saiba.

Ela hesita por um momento, e é nesse breve instante que percebo a profundidade do que está acontecendo. Tia Alice está desesperada para manter o controle sobre algo, e essa carta é a chave.

— Leia — digo a Pablo, sabendo que precisamos saber o que está escrito, mesmo que isso signifique ir contra Alice.

Ele abre a carta lentamente, os olhos correndo pelas linhas escritas em uma caligrafia elegante, mas ligeiramente tremida. A sala fica em silêncio enquanto ele lê em voz alta:

"Minha querida Cecília,
Se você está lendo isso, então as coisas não aconteceram como planejamos. Eu temo pelo que está por vir, mas preciso que você saiba que meu amor por você foi real. Tudo o que fiz foi para nos proteger, mas agora vejo que talvez tenha sido um erro. Há coisas que você não sabe, coisas que podem destruir tudo, mas por favor, confie em mim quando digo que você precisa se afastar. Eu nunca quis te envolver nisso, mas agora é tarde demais. Seja forte, meu amor, e lembre-se de que, acima de tudo, eu sempre te amei.
Para sempre sua, Dulce.”

O silêncio que se segue à leitura da carta é pesado, cada um de nós perdido em pensamentos sobre o que aquelas palavras significam. Tia Alice parece à beira de um colapso, mas, em vez de ceder, ela respira fundo, recompondo-se rapidamente. A mudança em sua expressão é quase imperceptível, mas vejo o leve endurecimento em seus olhos, um sinal de que ela está se fechando novamente.

— Isso... — ela começa, a voz mais controlada do que antes. — Não muda nada. Essa carta é antiga, cheia de medos que já não importam mais. Cecília e essa mulher... elas cometeram erros, e agora todos estamos pagando o preço.

Gavi franze a testa, claramente não satisfeito com essa resposta vaga.

— Mas quem é essa mulher? E por que ela achava que vocês estariam em perigo por causa dela? — ele pressiona, tentando arrancar mais informações.

Alice, porém, dá um passo para trás, como se estivesse se afastando não apenas fisicamente, mas também emocionalmente. Ela balança a cabeça lentamente.

— Isso não é algo que vocês devam carregar. Cecília fez o que achava melhor na época, e eu estou tentando proteger todos nós agora. Essa história... — ela hesita, procurando as palavras certas. — É muito mais complicada do que vocês imaginam. E não é algo que possa ser resolvido revirando o passado.