𝙈𝙄𝘿𝙉𝙄𝙂𝙃𝙏 𝙍𝘼𝙄𝙉, pablo gavi.

007| scared again

Barcelona, Espanha
ᶠᵉᵛᵉʳᵉⁱʳᵒ ᵈᵉ ²⁰²²

LEANNA MARTÍNEZ

Minhas mãos tremelicavam enquanto eu lia e relia a proposta de trabalho que havia acabado de chegar em meu e-mail. Versace, era como estava denominado o remetente. Meu coração com certeza estava batendo mais do que deveria, nunca estive tão nervosa.

Precisei de vários minutos para realmente processar o que estava acontecendo. Eu estava sendo convidada para modelar a nova coleção de inverno da marca e isso é absurdamente maior do que qualquer coisa que eu já fiz na minha vida.

Um grito, um sonho, um novo trabalho e um Gavi me encarando estranho.

— Terminei de colocar o lixo, espero que esteja gritando de felicidade e não porque descobriu que temos mais trabalho. — ele continua me olhando estranho.

— Eu tenho um trabalho, você não tem um trabalho. Quer dizer, você meio que trabalha então.. — me enrolo toda para conseguir formular uma frase

— E eu achei que não poderia ser pior. — Pablo resmunga, fechando a lixeira.

— Ai Dios mio! Você sabe quem acabou de me contratar? Sabe? — pergunto animada, balançando o celular na frente de seu rosto.

— Se parar de esfregar seu telefone na minha cara e me contar, quem saiba eu tenha noção. — comenta ele, respirando fundo.

Seu semblante muda de confuso a surpreso em menos de segundos assim que lê o que estava na tela. Ele estava feliz por mim, eu pude ver, mesmo que não estivesse demonstrando ou talvez pensando que me odeie. Mas o brilho em seus olhos era inegável.

— Isso é.. Wow.. — ele parece buscar as palavras. — Parabéns. — diz por fim.

— É incrível, não é? — digo, dando pulinhos de alegria e arrancando um sorriso do garoto, por mínimo que fosse.

Buzinas atrapalham minha "dancinha da vitória", fazendo com que eu me virasse para ver de quem se tratava.

— Esqueceu do treino, campeão? — Pedri questiona, com o braço apoiado na porta e seus óculos escuros na ponta do nariz.

— Merda. Tenho que me trocar, estarei de volta em alguns minutos. — ele larga tudo pra trás e sai correndo.

— Desculpe pelo não cavalheirismo do meu colega.

— Já acostumei. — respondo. — Pedri, você não sabe o que acabou de acontecer!

— Ele te beijou? Esse é o meu garoto! — ele comemora com um soquinho no ar.

— Quê? Não! Que horror. Tava falando sobre meu mais novo trabalho. — encosto no carro, mostrando o e-mail para ele.

— Dios mio, garota! Vai lá e arrasa, sem duvidas a melhor modelo que eles já contrataram. — sorri animado, mostrando seus dentes brancos e perfeitamente alinhados.

— Pare de dar em cima dela, você já tem muita louca para dar conta, não precisa de mais uma. — Pablo volta correndo, vestido com uma calça de moletom e uma camiseta verde musgo.

— Não estou tentando roubar a sua garota, cabeção. Precisa de carona, Lea? — ele se volta para mim, com uma sobrancelha levantada.

— Nem morto e não temos tempo para isso. — Gavira resmunga do banco do carona.

— Sim Pedri, se não for muito incômodo. Eu realmente preciso chegar antes do término do horário de almoço. — digo, ouvindo o outro bufar.

— Por que você não contrata o seu próprio motorista particular e deixa o meu em paz? — diz revirando os olhos e me arrancando uma risada sarcástica.

O garoto no banco do motorista o olhava incrédulo, como se não acreditasse no que acabou de ouvir.

— Esperem aqui, prometo que não vou demorar muito. — peço, enquanto ouço Pablo bufar e se afundar no banco outra vez.

•••

Cá estava eu. Em frente ao prédio de administração da Versace na Espanha. O vento gélido atingia minhas pernas, me causando arrepios e aumentando meu nervosismo. O caminho para cá foi totalmente desgastante, implicações não poderiam faltar em nosso diálogo, o que só me deixou mais apreensiva.

Um suspiro e eu estava na recepção. O piso de mármore abaixo de mim, fazia barulho a cada passo que eu dava. O relógio gigante na parede sincronizava com o barulho que meu salto fazia no chão, tudo parecia extremamente calculado.

— Boa tarde, me chamo Leanna e..

— Terceiro andar, primeira porta a direita. — o recepcionista me corta, enquanto voltava a balbuciar algo no telefone.

Sigo suas instruções, tudo aqui é maravilhoso. Desde as paredes em tons terrosos, até a vista perfeita de Barcelona. Foram necessárias algumas batidas na porta para que ela se abrisse por completo, revelando três silhuetas.

— Querida, você deve ser a Leanna, não? — uma mulher, não muito mais velha, vem até mim.

— Isso, Leanna Martínez, prazer! — cumprimento a senhora.

— Perfeito! Me chamo Carmen e cuidarei de vocês daqui em diante. Espero que estejam cientes de que estamos falando de um contrato de seis meses, ou seja, qualquer quebra resultará em uma multa significativa. Não toleramos atrasos e muito menos descuidados com nosso trabalho. Alguma dúvida? — a mais velha se dirige a todas, uma das modelos levanta a mão.

— Estamos falando de quantas horas de trabalho e um salário de quanto? — a ruiva prossegue.

— Acredito que receberão um contrato por impresso, com tudo explicado, vírgula por vírgula. Agora, se não se importarem, quero que conheçam nossa equipe de fotografia. — Carmen aponta para a porta, onde entram mais duas pessoas.

Com os olhos arregalados, desviei o olhar por alguns segundos. Abri a boca e voltei a fechar. Não poderia crer no que estava diante de nós, ou melhor, em quem.

Ele parecia diferente, os cabelos antes compridos agora estavam mais curtos e cobertos por um boné, deixando apenas algumas madeixas aparecendo atrás da orelha. Os olhos amendoados e extremamente pretos eram e continuam sendo inconfundíveis.

Ao invés de sua famosa raquete de tênis, agora uma câmera ocupava suas mãos. Ele sorri, aquele maldito sorriso. Por uma fração de segundos todos pareceram sumir, restando apenas nós dois. O silêncio é quebrado quando ele vem até mim.

— Anna, você está maravilhosamente incrível. — me abraça, seu sorriso estava ainda maior.

— Fernando! Não esperava te ver tão cedo. — rio exasperada, era realmente uma surpresa.

Nunca em um milhão de anos eu esperava ver aquele rosto de novo. O semblante de alguém que me magoou muito na adolescência estava ali novamente, me encarando com o mais profundo olhar, aquele que seria capaz de ferir até mesmo o animal mais perigoso.

— Pelo visto vocês se conhecem. — comenta uma das modelos.

— Pode isso, produção? — a outra questiona, me deixando envergonhada.

— Meninas, não briguem por mim, por favor! Só tenho olhos pra uma pessoa. — ele pisca para mim, minhas bochechas estão ruborizadas agora.

— Bom, já que vocês se conhecem, acho perfeito que estejam no mesmo grupo de trabalho. Você modela, ele fotografa e Angie cuida da iluminação. — Carmen sorri simpática, me fazendo querer voar em seu pescoço.

— Mal posso esperar para ter você inteira para mim novamente, amore mio.