Barcelona, Espanha
ᶠᵉᵛᵉʳᵉⁱʳᵒ ᵈᵉ ²⁰²²PABLO GAVI
Estremeço ao sentir o vento gelado bater contra minha nuca. É mais uma das manhãs de treino após um jogo não muito bem sucedido. Tento amarrar as chuteiras já dentro de campo, mas fica só por tentativa mesmo, permaneço com elas desamarradas.
Meus colegas estão rindo e se divertindo com as brincadeiras, eu estou fingindo que gosto de estar aqui, quando na verdade tudo o que eu realmente queria era estar em posição fetal na minha cama. Eu me apeguei tanto a alguém que parecia ser real, que agora não consigo viver direito, é como se tivessem arrancado um pedaço de mim.
Vejo Pedri pelo canto dos olhos, sei que está me encarando. Talvez essa seja a pior parte de ter um amigo que conhece cada momento seu, ele sempre vai saber quando algo está errado.
— Você não pode ficar assim pra sempre. — cruza os braços ao parar na minha frente.
— E queria que eu estivesse como? Pulando de felicidade? — o encaro.
— Claro que não, mas também não quero te ver lamentando pelos cantos como se alguém importante tivesse morrido. — ele analisa meu rosto, colocando a mão em meu ombro.
— Leanna morreu pra mim. — as palavras machucam ao serem ditas.
— Sei que foi uma bomba para você, assim como está sendo para mim. Mas dizer uma coisa dessas é burrice, ela não é o Carlos. — franze o cenho.
— E eu não sou um idiota, ela escolheu ele, então é assim que tem que ser. — volto à minha cara de pôquer, na tentativa de encerrar a conversa.
— Ele é o pai dela, Pablo. — solta os braços ao lado do corpo.
— Não me interessa o grau de parentesco, ele continua sendo um criminoso. E se ela escolheu o lado dele, é porque concorda com suas atitudes. — digo com o tom um pouco mais alto.
— Já passou pela sua cabeça oca que ela pode estar confusa? Ela nos conhece só há vinte dias, dá um tempo pra ela pensar. — pergunta suavemente, para manter a conversa apenas entre nós.
— Então você tá defendendo eles? — balanço a cabeça incrédulo.
— Não é essa a questão, cara. — solta um suspiro.
— Me fala o que é então, porque você também estava naquele avião e sabe muito bem tudo o que passamos. Eu achei que íamos morrer! — rebato, sentindo meu corpo sendo tomado pela lembrança daquela noite.
Era final de ano e estávamos tomando a liderança do campeonato, muito felizes com a vitória das últimas partidas. Mas tudo isso mudou quando o piloto nos disse que havia algo estranho com o avião e com as rotas, não era uma turbulência qualquer, ou aterrissavamos a força ou era fim de jogo.
— E por acaso a gente morreu? — questiona sarcástico.
— Pedri, eu juro que se não sair da minha frente agora, eu faço essa sua pergunta se tornar realidade. — fecho os olhos, tentando amenizar minha raiva.
— Calma senhor estresse, só estou dizendo que vai se arrepender. — ergue os braços em sinal de rendição.
— Você já se apaixonou alguma vez? — pergunto sinceramente, já sabendo da resposta.
— Por mim mesmo, todos os dias. Mas acredito que não seja essa a resposta esperada, portanto não. — ele abre um sorriso.
— Então pare de opinar na vida alheia. — levo as mãos a cintura, retribuindo seu sorriso.
— Peraí! Acabou de admitir que está apaixonado por ela? — ele grita, me fazendo revirar os olhos.
— Não, paixão é fútil, mas foi o melhor exemplo que achei pra te fazer calar a boca. — respondo rápido, escondendo a verdade.
— Se tivesse me beijado também teria funcionado. — da de ombros.
— Me erra! — jogo a garrafinha de água nele, acertando seu peitoral.
Espero o treino terminar e corro o mais rápido que posso para o vestiário, a fim de sair logo desse lugar. Aqui sempre foi meu ponto de paz e recuperação, não costumo interligar a vida pessoal com a profissional, mas agora é realmente impossível, pra todo lugar que eu olho, vem uma lembrança dela na mente.
Encontro minha carona no estacionamento, acompanhado de alguém que não sei se gostaria de estar vendo nesse momento.
— Gavi! Estávamos te procurando! — Gabbi salta em meus braços quando me aproximo o suficiente.
— E eu tava perdido por acaso? — cruzo minhas mãos na frente do corpo.
— Tão adorável. Estou indo visitar a dona Cecília, quer ir comigo? — ela pergunta contente.
— Quem sabe quando ela estiver a sete palmos do chão? Aliás, não quero ver essa mulher nem em vida e nem em morte, o mesmo serve pra sua amiga e pra família assassina dela. — sorrio falsamente, assustando-a com minhas palavras.
— Pablo! — Pedri me dá um pisão.
— Então você sabe? — Gabriella perde a força na metade da pergunta.
— E você em nenhum momento pensou em me contar, não é? — digo indignado.
— Ai Dios Mio, tadinha da Lea. — leva a mão à boca, desesperada para pegar seu telefone com a outra.
— Tadinha dela? É sério o que você acabou de dizer? Tadinha dela?! Porra Gabriella, você é tão.. tão.. — grito exasperado, deixando minha dignidade de lado.
— Tão o que? Continua. — desafia, prestes a jogar o celular na minha cara.
— Mesquinha.
— Olha Gavira, você é tanta coisa que se eu fosse listar aqui, precisaria de um dia inteiro. E eu posso ser mesquinha sim, mas eu conheço a índole da minha melhor amiga e sei que ela jamais teria alguma coisa a ver com as armações do pai dela. Sabe por quê? Porque de todos aqueles imbecis, ela é a única que sempre preza pela verdade e pelo bem das pessoas, mesmo que não pareça. Mas é muito fácil pra você falar quando tem uma família perfeita e pais que te amam mais do que tudo, não é? Então me chame de mesquinha por defender a Leanna quanta vezes quiser, mas saiba o que guarda por trás dessa palavra e procure entender a história toda ao invés de agir como um babaca. E "tadinha dela" sim! Porque sabíamos que você agirira dessa forma e essa com certeza não era a melhor hora para sair explanando pra todo mundo. — ela despeja tudo no meu colo e sai andando sem olhar para trás.
— E vocês planejavam contar quando? — esbravejo.
— Quem sabe quando amadurecerem e agirem feito os adultos que deveriam ser. — grita já longe.
— Eu avisei, podia ter dormido sem essa.
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Oie! Hoje o Barça não venceu e não foi guerreiro, mas erguemos a taça!!
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𝙈𝙄𝘿𝙉𝙄𝙂𝙃𝙏 𝙍𝘼𝙄𝙉, pablo gavi.
RomanceLeanna sempre sonhou em expandir seus horizontes além das fronteiras de Madrid. Criada em Barcelona pela tia-avó quando criança, ela retorna à vibrante cidade com a esperança de impulsionar sua carreira de modelo e escapar dos negócios opressivos de...