Barcelona, Espanha
ᵃᵇʳⁱˡ ᵈᵉ ²⁰²²LEANNA MARTÍNEZ
— Então agora temos o seu interesse, não é? — Pablo questiona intrigado, cruzando os braços enquanto se recosta na cadeira.
Tia Alice funga, evitando nosso olhar a todo custo. Ela analisa os móveis, a cor da parede, os rodapés do chão, tudo milimetricamente, como se nunca tivesse os visto antes.
Isso ativa uma chave dentro de mim, ela com certeza sabe muito mais do que gostaria de falar e pelo que conheço, não vai dizer muito. É preciso pressiona-la.
— Abre a boca, tia! O que você sabe sobre essa mulher? — pergunto novamente, mais impaciente do que da última vez.
Minha tia suspira profundamente, o som pesado como se carregasse o peso de um segredo antigo.
Ela finalmente desvia o olhar dos rodapés e encara o nada, os olhos fixos em algum ponto distante no tempo. As rugas em seu rosto parecem mais profundas, como se o passado que ela tenta esconder fosse gravado em sua pele.
— Eu... — começa ela, a voz trêmula, — eu não devia estar aqui. Nunca quis me envolver, mas... — ela faz uma pausa, a garganta se apertando com as palavras que se recusam a sair. — Ela é perigosa, mais do que vocês podem imaginar.
Pablo estreita os olhos, endireitando-se na cadeira. Ele já estava impaciente, mas agora havia algo mais, um medo sutil, porém crescente. Ele sabia que, se Tia Alice estava prestes a revelar algo, isso mudaria tudo.
— Perigosa como, Alice? — Pablo pergunta, a voz firme, tentando manter o controle da situação.
Ela engole em seco, finalmente nos encarando. Seus olhos estão marejados, mas há uma determinação ali, uma decisão de que já passou da hora de contar o que sabe.
— Ela não é quem vocês pensam. Essa mulher... ela tem um passado... um passado que pode destruir todos nós.
O silêncio que segue é pesado, carregado de tensão. Eu sinto um frio subir pela espinha, e sei que, de uma forma ou de outra, o que Alice está prestes a dizer vai mudar tudo.
— Quem é ela, Tia? — insisto, dessa vez com a voz mais baixa, temendo a resposta.
Tia Alice se ajeita na cadeira, passando as mãos trêmulas pelo rosto. Quando finalmente fala, sua voz é quase um sussurro, como se o ar ao redor pudesse roubar o segredo de seus lábios.
— Ela é... ela é alguém que vocês não conhecem. Mas que prometeu voltar para terminar o que começou.
Titia pausa por um instante, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as próximas palavras. Ela percebe o impacto que sua revelação teve, mas há um leve tremor em suas mãos que ela tenta esconder.
Os olhos dela se desviam rapidamente para a porta, como se esperasse que alguém pudesse entrar a qualquer momento. Algo não parece certo, uma inquietação toma conta de mim.
Gavi continua a encará-la, cético. Ele se levanta, caminhando lentamente pela sala. Eu sei que ele também sente que algo está errado, mas ele ainda não encontrou a peça que falta para encaixar tudo.
— Quem exatamente é essa mulher? — ele pressiona, com o tom mais frio do que antes.
Tia Alice engole em seco, e a hesitação em seu olhar só confirma minhas suspeitas. Ela não está sendo completamente honesta. Eu a conheço bem o suficiente para saber que há algo mais por trás dessa história. Talvez seja o jeito como ela se retorce na cadeira ou o fato de que sua voz não carrega a certeza de alguém que está simplesmente contando um fato. Não, isso é diferente. Ela está escondendo algo... ou alguém.
— Vocês não entenderiam, não agora. — ela tenta se esquivar, mas sua voz vacila.
Me aproximo dela, observando cada micro expressão em seu rosto.
— Tia, nós queremos saber a verdade. Toda a verdade. Quem é essa mulher e por que você está tão nervosa?
Ela se mexe na cadeira, cruzando os braços, como se estivesse se protegendo. Há um momento de silêncio, onde a tensão parece quase palpável. Ela finalmente cede, mas o que diz não é o que esperávamos.
— Ela... — a voz falha novamente, mas desta vez, há algo mais sombrio ali. — Ela não age sozinha. Há alguém mais... alguém que vocês não esperam.
Pablo para, seu olhar fixo em Tia Alice.
— Quem, Alice? Quem está por trás disso?
Ela hesita mais uma vez, mas dessa vez eu noto algo em seus olhos — um medo que vai além de qualquer coisa que já vi nela. E então percebo: Tia Alice não está apenas escondendo algo sobre essa mulher. Ela está protegendo alguém. Alguém que ela não pode trair.
— Você não quer nos dizer quem é, porque sabe que isso pode prejudicar alguém próximo a você. — afirmo, tentando conectar as peças. — Alguém que você quer proteger a todo custo.
Seus olhos se arregalam por um instante, como se eu tivesse acertado em cheio. Ela olha para mim, e eu vejo a verdade nos olhos dela antes mesmo que ela possa negar.
— Alice, quem você está tentando encobrir? — Pablo pergunta, a voz baixa e intensa, não deixando a raiva transparecer.
Titia ergue o queixo, os olhos brilhando com uma mistura de desafio e medo. Ela respira fundo e, em vez de responder à pergunta de Pablo, diz com firmeza:
— Isso não é da conta de vocês.
O silêncio que se segue é cortante. Sinto o sangue ferver de raiva. Como ela ousa? Como ela pode brincar com a gente assim, quando sabemos que ela está escondendo algo?
Antes que perceba o que estou fazendo, minha mão se move por conta própria e acerto um tapa na cara dela. O som ecoa na sala, e todos ficam em choque, inclusive eu.
Tia Alice leva a mão ao rosto, onde a marca do tapa começa a aparecer, mesmo sob a luz baixa da lanterna, mas seu olhar não se amolece. Em vez disso, ela me encara com uma intensidade sombria, quase desafiadora.
— Se é assim que vai ser, então não vou dizer mais nada. — sua voz é baixa, mas carregada de rancor.
Pablo me segura pelo braço, tentando me afastar, mas o maldito nó de frustração na minha garganta só cresce. Ele sabe que preciso de respostas, e que Tia Alice está encobrindo algo — ou alguém. E agora, depois disso, talvez ela nunca mais diga o que realmente sabe.
— Você acha que pode fugir da verdade, tia? — sussurro, encarando-a de perto. — Mas nós vamos descobrir, com ou sem a sua ajuda.
Ela não responde, apenas vira o rosto para o lado, recusando-se a nos encarar novamente. A tensão na sala é sufocante, e sei que cruzamos uma linha da qual não há retorno.
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𝙈𝙄𝘿𝙉𝙄𝙂𝙃𝙏 𝙍𝘼𝙄𝙉, pablo gavi.
RomanceLeanna sempre sonhou em expandir seus horizontes além das fronteiras de Madrid. Criada em Barcelona pela tia-avó quando criança, ela retorna à vibrante cidade com a esperança de impulsionar sua carreira de modelo e escapar dos negócios opressivos de...