VERÃO

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MAGHIE

Faz 9 anos que participo de campeonatos, mas o nervosismo de entrar em campo continua o mesmo. Pior que esse nervosismo é o de participar de um pênalti, pior ainda se a bola decisiva estiver em seu pé.

O jogo final começou equilibrado, as duas equipes fazendo um bom primeiro tempo, até a equipe adversária fazer o primeiro gol e conseguir desestabilizar todo nosso time. Ouvimos poucas e boas no intervalo, o suficiente para entrarmos dentro de campo e buscar a virada. Não conseguimos ela, mas o empate que levaria aos pênaltis conquistamos pelo menos.

Entretanto, a vitória depende que essa bola na minha mão toque na rede do gol. Beijo e bola para trazer sorte e a coloco no chão. Me afasto. O juiz apita. Inspiro. Espiro. Corro. Chuto. A bola sobe em direção ao gol. O goleiro pula na direção que eu chutei. A bola roça nos dedos do goleiro, mas pela força que chutei ela passa por eles e finalmente entra. Ela entrou! A bola entrou! Nós conseguimos!

Ouso os gritos da arquibancada saio do transe e vou correndo para minha equipe que já estava correndo até mim. Vencemos penso, finalmente conseguimos!

Ando pelos corredores com minha perna queimando de dor, dei o meu melhor até os 45 minutos do segundo tempo.

Vou até meu armário afim de guardar alguns livros da minha mochila, além de tentar escapar de algumas pessoas que não param de me cumprimentar. Ao fechar a porta do meu armário um homem aparece milagrosamente atrás da porta de alumínio. Solto um leve gritinho pela surpresa e me recomponho. Encaro o homem bem vestido, um terno que provavelmente custa mais que meu rim. Ele olha para o celular com o cenho franzido, parece tentar resolver algo pois seus dedos não param de digitar alguma coisa na tela. O homem bem vestido guarda seu celular, olha para mim e abre um leve sorriso.

- Sabe qual é a posição mais importante do futebol? – Ele pergunta sem ao menos dizer um "oi". Abro a boca para responder, mas ele me atropela – Meio-Amador. Sem ele não tem jogo, não tem ataque, se não tem ataque não tem gol. Um bom meia tem uma boa visão de jogo, não só para criar alguma jogada, mas também para antecipar a marcação.

- Concordo, mas porque estamos falando sobre isso? – Pergunto um pouco sem paciência.

- Simples. – Ele sorri – Nesse jogo você participou praticamente do começo de todas as finalizações. Além disso conseguiu disputar 8 de 6 bolas. – Esses são bons números, admito.

- Esse é o meu trabalho.

- Um trabalho bem feito.

- Aonde o senhor quer chegar?

- Bem, já que perguntou. Eu faço parte da comissão técnica do time de futebol da UCLA¹– Caralho! – Queria dizer que gostei de te ver jogar, há poucos meias campistas a solta, seria interessante ver o seu pedido de aceitação na nossa universidade.

- Infelizmente estou no primeiro ano ainda senhor.

- Espero que esteja jogando até lá então – Ele estende sua mão até mim, a aperto – Foi um prazer te conhecer Maghie.

Ele diz isso tudo e sai andando pelo corredor. Como caralhos ele sabe meu nome? Penso ainda parada no corredor digerindo tudo. Ando em direção a saída ainda um pouco desnorteada, mas o som do piano da sala de música faz com que meu corpo trave. Percebo pela voz ecoando pelo corredor que a música se trata de Summetime Sadness. Vou até ao local que a música reverbera, percebo que essa voz me é família, mas não consigo decifrar de quem se trata.

A porta está entreaberta, o que se torna fácil adentrar na sala sem ser percebida. Vejo que poucas luzes estão ligadas, isso faz com que o ambiente fique com um leve breu, mas com pontos de iluminação especifico. Parece que estou em um clipe minimalista. O sujeito que canta não percebe que entrei pois não para de tocar e cantar por um segundo.

É assim que Eu te amoOnde histórias criam vida. Descubra agora