É assim que Eu te amo

UMA BOLA LARANJA ME ODEIA

ANNE

Os ensaios, as aulas, o coral, tudo isso está sendo demais. Minha cabeça anda pesada, não consigo me concentrar em nada, meu corpo implora por descanso. Minhas pernas estão no modo automático enquanto ando pelo corredor. Entretanto, meus ouvidos captam cada pequeno detalhe, os cochichos sobre vidas alheias, algumas risadas abafadas, passos e mais passos, armários se fechando. Tudo isso se juntando no meu celebro e formando uma enorme bola de lã.

Quando passo perto da quadra consigo escutar um som ecoado de bola quicando no chão. Estranho, hoje não é dia de treino de basquete. Resolvo entrar para ver quem estava lá dentro. Me chamem de enxerida, mas não resisto ao basquete.

O barulho segue o mesmo, às vezes o som da bola atingindo o metal da beirada da cesta.

Ao entrar o som da porta de metal se abrindo ecoa pela quadra. Imediatamente a bola para de saltar, e o seu dono olha diretamente para mim.

- Anne?

- Jacob? – Óbvio.

- O que está fazendo aqui?

- O que está fazendo aqui? – Perguntamos juntos.

- Estou treinando um pouco – ele segura a bola apoiando-a na cintura.

Meus olhos passam pelo seu corpo, ele está com uma calca simples de moletom, e veste na parte de cima, um moletom branco sem capuz. O que mais me impressiona é que não vejo sinal nenhum de suor. Ouso ele arranhar na garganta e volto meu olhar para o seu rosto, acho que ele percebeu que estava o encarando. Minha bochecha queima.

- Mas e você? O que te traz aqui?

- Estava passando pelo corredor e ouvi o som da bola, sabia que hoje não tinha treino e fiquei curiosa pra saber quem estava aqui dentro. – Sinto que minha explicação ficou mais longa do que precisava - Fiquei surpresa, não sabia que jogava.

- Eu não jogo, isso é só diversão e ajuda a tirar o estresse.

- Diversão – uma leve risada irônica sopra da minha boca – faz tempo que não sei o que é isso.

Ele me olha por um tempo, principalmente para os meus olhos. Fico desconfortável, pois sem que ali abitava uma enorme olheira por não estar dormindo bem.

- Que jogar? – Jacob estende a bola e fico surpresa.

- N-não, eu só assisto, nada de pratica – ele ri do meu nervosismo.

- Tranquilo, eu também não sou um Jordan da vida, mas me viro. – Sua boca se abre em um lindo sorriso. Sorrio de volta e me permito.

- Ok, você me convenceu – Ele sorri ao ver que aceito seu convite, sem entender muito bem meu coração se aquece levemente por isso.

Isso não tem nada haver com eu gostar de passar um tempo com ele, é só a necessidade de diversão falando mais alto

Vou em direção a ele e deixo minha mochila em um canto qualquer. Não é como se eu nunca tivesse curiosidade em jogar, sempre tive, mas me faltava coragem, além de que as escolas públicas nunca fizeram nada para nos incentivarem a esse esporte.

- Por onde começamos? – Digo animada.

- Quer tentar cesta?

- Pode ser.

Jacob tenta primeiro e acerta. Depois ele me passa a bola.

- Tenta imitar o que você viu a vida toda.

Pego a bola laranja na minha mão e me direciono na cesta. Lanço-a, mas ela bate na barra e cai no chão.

- Anda estressado? – pergunto lembrando do que ele disse uns minutos antes.