{II} Um Cavaleiro inútil?

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"Tenho pouca fé, coração na mão

Hoje eu vou a pé, sem direção

O que se passa na mente da gente

Ninguém entende, nem peço que entenda

Até porque não teria graça se você me desvendar..."

 Clube Dos Sonhos Frustrados, Day Limns

P.o.v. Pedro

— Olha que está aqui a essa hora, caiu da cama, Tófani? — Ouvi a voz do meu general atrás de mim, estava tão concentrando que nem o ouvi chegando.

Pedro: — Como adivinhou, general? — Respondi sem me virar completamente. — Ahn, quero dizer, não, claro que não.

Marte deu uma risada.

Marte: — Olha para mim, soldado, — Eu o fiz. — Como você está?

Pedro: — Estou bem, senhor.

Marte: — E quando todos os soldados foram dispensados, você esta aqui no centro de treinamento? 

Pedro: — Eu gosto daqui.

Marte: — Você é igual aos seus pais, principalmente a sua mãe. Eu me lembro que quando eles se casaram, estavam no treino no dia seguinte. — Ele deu uma risada nasal. 

Meu peito se aquecia todas às vezes que ouvia algum cavaleiro mais velho ou o general Marte falar assim dos meus pais, eu me orgulhava de ser filho deles e queria que um dia se orgulhassem assim de mim.

Pedro: — Fico feliz que me veja neles, senhor. — Sorri. — Inclusive eu queria lhe pedir uma coisa.

Marte: — Diga.

Pedro: — Posso ser escalado na vigilância essa noite?

Marte: — Na vigilância noturna... Por que você quer?

Pedro: — Por que eu ainda não fui escalado essa lua?

Marte: — Não sei, Tófani.

Pedro: — Eu só não quero que ninguém pense que eu sou um cavaleiro inútil, general Marte.

Marte: — Ninguém pensa isso.

Pedro: — Eu ouço os múrmuros, senhor, eu matei o maior inimigo de nosso reino e isso custou parte do meu equilíbrio, mas isso não significa que eu não possa fazer nada.

Marte: — Entendo, tem certeza que dá conta?

Pedro: — Absoluta.

Marte:— Tudo bem, fale com a capitã da guarda pra escalar você para essa noite.

Pedro: — Muito obrigado, senhor.

Marte:— Bom, hoje a tropa está dispensada e eu vou para os meus aposentos descansar, você deveria ir também.

Pedro: — Quem sabe mais tarde.

Continuei mais um tempo golpeando com minha espada sem fio aqueles blocos de madeiras giratórios.

— Pedro? — Ouço a voz e paro imediatamente o que estou fazendo, identifico, a único pessoa da tropa que me chama pelo nome.

Pedro: — Maria Luísa. — Me viro pra ela. — O que você está fazendo aqui?

Malu: — Apenas fazendo o meu trabalho, já você...?

Pedro: — Treinando.

Malu: — A tropa está dispensada hoje.

Pedro: — Eu sei, mas gosto de me manter em forma, aliás, o General Marte disse para você me escalar na vigilância noturna.

Malu: — Tem certeza?

Pedro: — Malu, — Apelei para o apelido. — Por favor, você é a última pessoa que eu esperaria que me considerasse um cavaleiro incapaz de fazer uma simples vigilância...

Malu: — Eu nunca te consideraria um cavaleiro inútil, Pedro, jamais. — Ela se aproxima e toca meu ombro. — Você é o maior herói do nosso reino.

Pedro: — Essa pessoa é você.

Malu: — Do que eu saiba, foi você quem aniquilou o maior inimigo do reino.

Pedro: — Mas foi você quem enganou os piratas por luas e até conseguiu um aliado para o nosso reino.

Malu: — Mas nem estive no confronto final.

Pedro: — Você estava machucada.

Malu: — Pouco importa... — Ela suspirou. — Passei por cada coisa nas mãos daqueles piratas pra no final nem mesmo assistir aquele navio naufragar.

Pedro: — Achei que eu fosse o mais orgulhoso de nós dois.

Malu: — Somos parecidos, enfim, você pelo menos vingou a morte dos seus pais, sei que onde quer que estejam eles estão orgulhosos de terem um filho como você.

Pedro: — Sua mãe também está orgulhosa, tenho certeza disso, você se tornou capitã da guarda, como ela foi.

Malu: — Não sei até onde isso é o que eu busco.

Pedro: — Não menospreze suas conquistas.

Ela deu um suspiro e mirou o céu sem nuvens.

Malu: — Tem razão, Renan me disse que quanto mais louváveis foram seus antepassados, mais você se cobra pra ser como eles, talvez ele estivesse certo.

Pedro: — É... — Não consegui conter minha expressão ao ouvir o nome daquele pirata.

Malu: — Não entendo o que você tem contra o Renan.

Pedro: — Eu sou grato por ele ter salvado a sua vida e nos ajudado a afundar aquele navio, mas algo me diz pra não confiar nele.

Malu: — Difícil é dizer em quem você confia...

Pedro: — Confio em você.

Malu: — Mas a gente se conhece desde que somos duas crianças que vinham assistir o treino de seus pais e fingiam que gravetos eram espadas.

Sorri com a lembrança.

Pedro: — Tempos mais simples.

Malu: — Você sente falta?

Pedro: — Não sei dizer, acho que mais uma saudade.

Malu: — Entendo. — Ela sorri. — Bem, hoje é um dia de descanso, vim só conferir as coisas e já estou voltando para os meus aposentos.

Pedro: — Bom descanso, capitã da guarda.

Malu: — Você deveria ir também, vai precisar estar descansado quando for vigiar a porta dos soberanos essa noite.

Ela sorriu e se retirou, eu dei um sorriso maior ainda, feliz por pelo menos alguém confiar em mim.

"Expectativa e frustração moram lado a lado..."

Mas Eu Sou Um Pirata... - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora