"Tenho pouca fé, coração na mão
Hoje eu vou a pé, sem direção
O que se passa na mente da gente
Ninguém entende, nem peço que entenda
Até porque não teria graça se você me desvendar..."
— Clube Dos Sonhos Frustrados, Day Limns
P.o.v. Pedro
— Olha que está aqui a essa hora, caiu da cama, Tófani? — Ouvi a voz do meu general atrás de mim, estava tão concentrando que nem o ouvi chegando.
Pedro: — Como adivinhou, general? — Respondi sem me virar completamente. — Ahn, quero dizer, não, claro que não.
Marte deu uma risada.
Marte: — Olha para mim, soldado, — Eu o fiz. — Como você está?
Pedro: — Estou bem, senhor.
Marte: — E quando todos os soldados foram dispensados, você esta aqui no centro de treinamento?
Pedro: — Eu gosto daqui.
Marte: — Você é igual aos seus pais, principalmente a sua mãe. Eu me lembro que quando eles se casaram, estavam no treino no dia seguinte. — Ele deu uma risada nasal.
Meu peito se aquecia todas às vezes que ouvia algum cavaleiro mais velho ou o general Marte falar assim dos meus pais, eu me orgulhava de ser filho deles e queria que um dia se orgulhassem assim de mim.
Pedro: — Fico feliz que me veja neles, senhor. — Sorri. — Inclusive eu queria lhe pedir uma coisa.
Marte: — Diga.
Pedro: — Posso ser escalado na vigilância essa noite?
Marte: — Na vigilância noturna... Por que você quer?
Pedro: — Por que eu ainda não fui escalado essa lua?
Marte: — Não sei, Tófani.
Pedro: — Eu só não quero que ninguém pense que eu sou um cavaleiro inútil, general Marte.
Marte: — Ninguém pensa isso.
Pedro: — Eu ouço os múrmuros, senhor, eu matei o maior inimigo de nosso reino e isso custou parte do meu equilíbrio, mas isso não significa que eu não possa fazer nada.
Marte: — Entendo, tem certeza que dá conta?
Pedro: — Absoluta.
Marte:— Tudo bem, fale com a capitã da guarda pra escalar você para essa noite.
Pedro: — Muito obrigado, senhor.
Marte:— Bom, hoje a tropa está dispensada e eu vou para os meus aposentos descansar, você deveria ir também.
Pedro: — Quem sabe mais tarde.
Continuei mais um tempo golpeando com minha espada sem fio aqueles blocos de madeiras giratórios.
— Pedro? — Ouço a voz e paro imediatamente o que estou fazendo, identifico, a único pessoa da tropa que me chama pelo nome.
Pedro: — Maria Luísa. — Me viro pra ela. — O que você está fazendo aqui?
Malu: — Apenas fazendo o meu trabalho, já você...?
Pedro: — Treinando.
Malu: — A tropa está dispensada hoje.
Pedro: — Eu sei, mas gosto de me manter em forma, aliás, o General Marte disse para você me escalar na vigilância noturna.
Malu: — Tem certeza?
Pedro: — Malu, — Apelei para o apelido. — Por favor, você é a última pessoa que eu esperaria que me considerasse um cavaleiro incapaz de fazer uma simples vigilância...
Malu: — Eu nunca te consideraria um cavaleiro inútil, Pedro, jamais. — Ela se aproxima e toca meu ombro. — Você é o maior herói do nosso reino.
Pedro: — Essa pessoa é você.
Malu: — Do que eu saiba, foi você quem aniquilou o maior inimigo do reino.
Pedro: — Mas foi você quem enganou os piratas por luas e até conseguiu um aliado para o nosso reino.
Malu: — Mas nem estive no confronto final.
Pedro: — Você estava machucada.
Malu: — Pouco importa... — Ela suspirou. — Passei por cada coisa nas mãos daqueles piratas pra no final nem mesmo assistir aquele navio naufragar.
Pedro: — Achei que eu fosse o mais orgulhoso de nós dois.
Malu: — Somos parecidos, enfim, você pelo menos vingou a morte dos seus pais, sei que onde quer que estejam eles estão orgulhosos de terem um filho como você.
Pedro: — Sua mãe também está orgulhosa, tenho certeza disso, você se tornou capitã da guarda, como ela foi.
Malu: — Não sei até onde isso é o que eu busco.
Pedro: — Não menospreze suas conquistas.
Ela deu um suspiro e mirou o céu sem nuvens.
Malu: — Tem razão, Renan me disse que quanto mais louváveis foram seus antepassados, mais você se cobra pra ser como eles, talvez ele estivesse certo.
Pedro: — É... — Não consegui conter minha expressão ao ouvir o nome daquele pirata.
Malu: — Não entendo o que você tem contra o Renan.
Pedro: — Eu sou grato por ele ter salvado a sua vida e nos ajudado a afundar aquele navio, mas algo me diz pra não confiar nele.
Malu: — Difícil é dizer em quem você confia...
Pedro: — Confio em você.
Malu: — Mas a gente se conhece desde que somos duas crianças que vinham assistir o treino de seus pais e fingiam que gravetos eram espadas.
Sorri com a lembrança.
Pedro: — Tempos mais simples.
Malu: — Você sente falta?
Pedro: — Não sei dizer, acho que mais uma saudade.
Malu: — Entendo. — Ela sorri. — Bem, hoje é um dia de descanso, vim só conferir as coisas e já estou voltando para os meus aposentos.
Pedro: — Bom descanso, capitã da guarda.
Malu: — Você deveria ir também, vai precisar estar descansado quando for vigiar a porta dos soberanos essa noite.
Ela sorriu e se retirou, eu dei um sorriso maior ainda, feliz por pelo menos alguém confiar em mim.
"Expectativa e frustração moram lado a lado..."
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Mas Eu Sou Um Pirata... - Pejão
FanfictionUm reino, um navio, um ataque pirata que terminou em um naufrágio. Um cavaleiro com sequelas de sua vingança, um pirata disfarçado se refugiando ao lado dos que mataram sua tripulação. Seria muita ironia se dois mundos tão diferentes se juntassem.