{XXX} O Mal dos Piratas

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" Quantos encontros cabem numa vida?

Quantas vidas pra viver?

Quanto chão pra caminhar?

Quantos sóis nós vamos ver nascer?

Mundos vão ruir, curas vão surgir

E nós dois aqui..."

— Selva, ANAVITÓRIA

P.o.v. Narrador

Jão e Pedro aproveitaram ao máximo seus dias juntos.

Quando sol nasceu naquele dia eles trocam uns beijos matinais e logo foram para suas funções.

Pedro teria que fazer uma patrulha no reino e ficaria o dia fora do castelo.

Hugo: — Bom dia, João. — Hugo cumprimentou.

Jão: — Bom dia, senhor Hugo. — Ele sorri. — O que faz aí? — Aponta para a joia que Hugo manuseava.

Hugo: — Pois bem, um trabalho bastante inusitados, o rei pediu que fizéssemos alguns pingentes de âncora.

Jão: — Âncora? — Estranhou — Mas ancoras não são símbolos proibidos por terem relação com os piratas?

Hugo: — Sim, mas o rei solicitou, pois vai usa-os em uma oferenda aos deuses.

Jão: — Sei que posso soar intrometido e até um pouco herege, senhor, mas porque os deuses desejariam uma oferenda tão específica?

Hugo: — Não foi um desejo dos deuses, explicitamente, mas existia uma profecia que dizia que um dos descendes de Josias, o avô do nosso rei, teria uma paixão por uma pirata e isso seria a salvação ou a ruína do reino, diziam ser apenas um dizer sem fundamento, mas como a princesa Helena ainda não escolheu uma noiva, seu pai tem medo de que seja ela.

Jão: — Mas, a regra das profecias não é que elas se concretizam quando tentamos evitar?

Hugo: — Na teoria, sim, mas os deuses têm sido generosos com nosso reino ultimamente, então eles acham, que vale a pena arriscar. — Hugo encolhe os ombros. — Inclusive, falando em oferendas, preciso ir ao templo manhã de manhã consegue cuidar das coisas por aqui na minha ausência?

Jão: — Sim, senhor.

Hugo: — Ótimo, voltarei no início da noite. Fico feliz de poder contar com sua ajuda, meu jovem. — Ele sorri simpático

Jão: — Eu que fico feliz em ajudar, senhor. — Jão sorri de volta.

Eles ficam um tempo em silêncio trabalhando nas joias.

Hugo: — Mas, sabe, apesar de um ódio aos piratas ser mais do que entendível no nosso reino, eu, meio que não consigo compactuar desse sentimento.

Jão: — Talvez o senhor seja bondoso demais para nutrir tanto ódio.

Hugo: — Realmente, talvez, mas quando você não tem a capacidade de odiar, é mais fácil se arrepender de suas ações.

Jão: — Bom, apesar de ter sido um servo naquele navio há muitos anos, eu também não os odeio tanto quanto gostaria

Hugo: — Entendo bem.

Jão: — Mas, imaginei que os piratas haviam deixado de ser uma ameaça após o massacre da tripulação de James

Hugo: — Realmente, acho que pelas próximas décadas nenhuma outra frota vai pensar em nos atacar, e para ser sincero, antes de James, os ataques piratas não eram tão recorrentes assim, aconteciam, mas não a ponto de tornar as praias perigosas.

Jão: — Jura?

Hugo: — Quando eu ainda era uma criança eu ouvia sobre as prias de Scorpios serem lindas e cheias, até na minha adolescência eu cheguei a ter o habito de frequentá-las.

Jão: — Interessante... — Jão murmura como quem fala com sigo mesmo.

Hugo: — Sabe, João, aprendi com a vida que os piratas tem dois grandes mal, e o segundo pior deles é obsessão que podem desenvolver por qualquer coisa que considerem valiosa.

Jão: — Perdão, senhor, mas o você fala como se tivesse conhecido um deles.

Hugo deu um riso

Hugo: — Sabe, meu jovem, eu conheci muitas pessoas nessa minha vida, historias longas demais.

Jão: — Bem, nós temos uma longa tarde de trabalhos minuciosos pela frente. — Jão incentiva.

Hugo dá um sorriso nostálgico antes de continuar.

Hugo: — Sabe, já lhe contei sobre ter sido trago ao palácio muito jovem, e aos daqui eu mentia sobre minhas origens, mas fora daqui eu não costumava ter tanto orgulho de ser um aprendiz de joalheiro, uma vez, quando era adolescente a única fase em que às vezes nos é permitido ser e ingenuo demais, eu conheci um rapaz na praia, e ele tinha uma paixão tão grande pelo mar que não sei como não desconfiei.

Jão: — Como ele era?

Hugo: — Ele foi uma das pessoas mais lindas e ousadas que já conheci, tinha uma ambição que fazia dele alguém bastante intenso, um jeito de quem seria um grande líder no futuro.

Jão: — Ambição, líder...

Hugo: — Bem, na época eu não contava sobre morar no castelo, achava que ele jamais gostaria de alguém que vive como servo da realeza, e bem, de certa forma eu tinha razão, mas foi aí que eu descobri que mentiras sempre vão machucar mais do que as verdades.

Jão foi levando a quela tarde, luas atrás, onde havia recebido o concelho de jamais mentir para quem ele gostava.

Jão: — O que aconteceu?

Por um tempo, ele ficou em silêncio.

Hugo: — Sabe, meu jovem, às vezes a gente tem que aproveitar as chances que a vida nos dá de estar o lado de quem a gente ama, porque nem sempre duas pessoas podem ter um bom final.

Jão: — O que quer dizer?

Hugo: — O primeiro e maior mal dos piratas é que a paixão deles pelo mar sempre vai falar mais alto que tudo, não importa o quanto eles amam algo ou alguém, se forem reivindicados pelos deuses do mar, voltarão para ele.

Jão: — Eu jamais faria isso. — Jão sussurra para si mesmo.

"Quantos encontros cabem numa vida?"

Mas Eu Sou Um Pirata... - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora