Meu anjo, eu não sou santo não
E amanhã você vai acordar
Meu anjo, e o meu amor tão bom
Vai estar em algum outro lugar
Todo verão termina, eu amo despedidas
E se eu te amei eu peço perdão
Eu não sou santo, não.— Santo, Jão
P.o.v. Narrador
Jão chamou Pedro para conversar, naquela mesma praia em que eles se beijaram pela primeira vez.
Seu peito doía por antecipação, mas ele já tinha decidido, contaria a verdade pra Pedro.
Pedro: — Cheguei. — Pedro aparece, com aquele sorriso que só Jão recebia.
Ele tentou gravar o máximo daquele sorriso em sua memória, pois sabia que provavelmente seria a última vez que o veria direcionado a si.
Jão: — Oi, Pedro, prometo que não vou tomar muito do seu tempo. — Ele se aproximou.
Imediatamente Pedro notou a tensão no jeito de João.
Pedro: — Você nunca toma meu tempo, Jão...
Antes de dizer mais qualquer coisa, Jão cola seus lábios nos de Pedro.
Aquele foi, sem dúvida, o beijo mais intenso que eles deram até agora, Pedro mais uma vez sentiu que João poderia escapar de seus braços, então apertou sua cintura com as mãos o quanto pode.
Aquele beijo teve o sabor de um último beijo, mesmo que Pedro não soubesse ainda.
Quando o ar faltou completamente, eles descolam suas bocas devagar, Jão deixa mais dois selinhos na boca do seu cavaleiro e depois se desvincilha dos seus braços, se afastando dele completamente, dando alguns passos pra trás.
Jão: — Eu... eu tenho uma coisa pra te contar, Pedro.
Pedro: — Aconteceu alguma coisa?
Jão: — Não aconteceu, mas vai.
Ele dá mais um passo pra trás e em seguida tira o lenço que cobria um de seus olhos.
Pedro: — Espera você não...
Jão: — Eu nunca tive um machucado ou cicatriz nos olhos, como pode perceber, meus dois olhos são perfeitos, e isso tem um motivo.
Pedo apenas ouvia em silêncio.
Jão: — Eu sou um pirata, Pedro.
Jão: — Eu escondia meu olho esquerdo porque ele não está acostumado com claridade, meu mancar nunca teve a ver com algum ferimento na perna e sim com o fato de eu não estar acostumado a andar em terra firme, eu nunca fui um prisioneiro dos piratas, Pedro, eu era um deles, pior, eu era o primeiro imediato do navio. — Ele suspira. — Eu era o braço direito do capitão James.
Nesse instante ele mirou os olhos do cavaleiro, ele não conseguia distinguir a expressão que Pedro trazia em seu rosto.
Pedro fica alguns instantes em silêncio processando cada informação
Pedro: — Eu já imaginava, João...
Jão: — Como?
Pedro: — Eu já desconfiava, apesar de ser um bom mentiroso você não é tão bom em disfarçar certas coisas, naquela madrugada eu notei que seu olho direito era o que você escondia, enquanto todas às vezes que nos vimos durante o dia era o esquerdo, você apesar de mancar muito, nunca transpareceu ter nenhuma dor na perna, você tem um fascínio por joias brutas, pérolas e conchas e um brilho no olhar quando fala do oceano que um servo que foi feito prisoneiro em um navio por ano jamais teria. — ele deu alguns passos pra frente, se aproximando de João, sua mão segurava costumeiramente o cabo de sua espada.
Jão: — Se... se você desconfiava, por que nunca disse nada?
Pedro: — Porque eu não queria acreditar, João, eu mentia pra mim mesmo que eram só coincidências porque eu não queria acreditar que estava apaixonado por um pirata, depois de tanto tempo eu era capaz de sentir algo de novo, eu só quis me iludir e ignorar minha intuição. — Ele se aproximou ainda mais, segurando firme o cabo da espada. — Mas, me reponde uma pergunta.
Jão: — O quê?
Em um movimento rápido, Pedro puxa sua espada e a coloca rente a lateral do pescoço de João.
Pedro: — Por que você está me contando isso? Você sabe que piratas são inimigos hediondos do reino, você sabe que eu sou um cavaleiro e que eu posso simplesmente te matar aqui e agora, pra acabar de vez com as ameaças, e você sabe que eu tenho motivos o suficiente pra fazer isso, então por que está confessando isso logo para mim?
Jão sente a lâmina fina encostada na sua jugular, mas não recua.
Jão: — Porque eu estou apaixonado por você, Pedro. — Confessa. — Porque meus dias eram completamente vazios até eu te conhecer e eu não aguentava mais mentir para você, meu peito doía por seu saber que estava enganando uma pessoa como você, te desejava tanto, mas era horrível te beijar sabendo que não estava sendo totalmente sincero com você. Eu sei que você pode me matar e sinceramente, não ligo.
Pedro: — Como assim?
Jão: — Olha pra mim, Pedro, eu já perdi tudo o que eu tenho, meu navio naufragou, o homem que me criou e todas as pessoas que eu tinha estão mortas, não tinha qualquer razão para continuar até você surgir na minha vida, Pedro, eu não ligo se você realmente quiser me matar, — Ele suspira. — Mas, se não quiser — Ele encara o fundo dos olhos de Pedro. — Eu só te peço uma chance, Pedro, você me mostrou que nem todos os cavaleiros eram pessoas cruéis e hostis, me deixa te mostrar que os piratas também não, me da apenas a chance de estar com você, eu posso ter mentido sobre quem eu era, mas não menti sobre as joias, sobre meus gostos, não menti sobre o que eu sinto por você, Pedro.
Pedro: — E por que eu deveria acreditar em você?
Jão: — Você não deveria, mas ainda assim eu te peço, posso te provar cada coisa que falei, mas acima de tudo, eu não vou ficar entre você e sua lealdade ao reino, Pedro, não ofereço qualquer ameaça a Scorpios a essa altura um pirata não é nada sem uma tripulação e eu não tenho mais ninguém, não pretendo tomar seu reino nem nada do tipo, luxo estremo ou realeza nunca foram coisas que me atraíram, não tenho mais nada. Eu só quero você, Pedro.
Calmamente, Pedro afasta a espada do pescoço dele.
Pedro: — Me dá um tempo para pensar... — Ele murmura.
Jão: — Serio? — Os olhos de João cintilam.
Pedro mira o céu claro, notando a lua minguante e solta um suspiro pesado.
Pedro: — Até a lua nova, preciso de um tempo na lua nova, eu vou ter decidido o que fazer com você... — Ele se aproxima novamente, erguendo o queixo de João com a ponta do cabo da espada. — Até lá, acho bom você não aparecer na minha frente.
João apenas assentiu.
Pedro: — Quando a lua estiver nova, você sabe onde são meus aposentos, mas vá até la por sua própria conta e risco
E dizendo isso, Pedro se afastou, voltou a espada para a bainha, deu as costas e saiu.
Jão ficou ali, vendo seu grande amor sumir pela areia.
"E se eu te amei, eu peço perdão..."
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Mas Eu Sou Um Pirata... - Pejão
FanfictionUm reino, um navio, um ataque pirata que terminou em um naufrágio. Um cavaleiro com sequelas de sua vingança, um pirata disfarçado se refugiando ao lado dos que mataram sua tripulação. Seria muita ironia se dois mundos tão diferentes se juntassem.