{XX} Vale a pena?

293 32 113
                                    

"As minhas roupas no armário

sentem falta do teu cheiro

Do teu cheiro

O que o amor vira quando chega o fim?

É só que dói um pouco quando eu lembro assim

Mas enfim, mas enfim

Acontece..."

— Acontece, Jão

P.o.v. João

No dia seguinte, Pedro partiu para sua missão logo cedo.

Ele me deu um último beijo antes de ir, e foi como um beijo de boa noite, como os beijos que ele me dava depois de habitarmos o corpo um do outro ou com um beijo que vem depois de eu dizer algo que gosta de ouvir.

Não parecia um beijo de despedida, era como se fossemos nos encontrar de novo naquela tarde nos fundos do jardim e não como se ele ficaria fora do castelo por vários dias.

E isso me tranquilizou, se ele tinha a plena certeza que voltaria bem pra mim, porque eu duvidaria.

Ainda assim os dias que se passaram pareciam mais lentos, eu passei a maior parte do tempo na joalheria, inclusive minhas madrugadas insones.

Tinha chegado a noite do tal baile de aniversário da princesa, a patrulha de Pedro ainda não tinha voltado, eu sabia que eles poderiam demorar mais do que o planejado, mas isso não me impediu de ficar preocupado.

Naquela tarde, eu estava nos fundos da joalheria, decidi organizar todas as caixas para ver se o tempo passava.

Hugo me perguntou sobre o baile, os servos não eram proibidos de participar, muito pelo contrário, segundo ele era até incentivado, mas eu disse que não iria, primeiro porque não estava com clima para festividades, segundo que apesar de todo esse tempo aqui, eu ainda não me sentia parte desse reino a ponto de querer comemorar algo com eles, eu ainda era um intruso. E não ter Pedro por perto me lembrava disso, quando estava com ele quem eramos não importava, era como se tivéssemos um reino só nosso, um mundo só nosso.

Eu até conseguia me sentir bem em momentos que estava sem ele, mas sabia que eu só poderia ser eu mesmo, ao lado do meu cavaleiro.

Mais tarde me esgueirei por uma passagem estreita que levava ao centro de treinamento, para espiar as conversas dos cavaleiros e amazonas e ver se ouvia algo sobre quando os cavaleiros em patrulha voltariam.

Ouvi um múrmuro de que uma amazona ferida tinha chegado ao palácio, nesse momento meu peito disparou e eu me aproximei o máximo que pude sem ser visto, para aumentar meu desespero, ela era da patrulha de Pedro.

Pelo que ouvi, eles haviam tido um confronto com um grupo de foragidos fugindo do reino de Libres, tiveram que persegui-los, não houve baixas, mas os cavaleiros haviam sofrido alguns ferimentos.

Nesse momento eu senti meu coração voltar a bater. Sem baixas, ele estava vivo.

Isso me tranquilizou, em partes, mas o grupo havia a mandado na frente por ser a menos ferida, para pedir mais suprimentos e alguns remédios para ferimentos maiores, aparentemente eles não estavam muito longe do castelo, mas os criminosos haviam ferido seus animais, então eles demorariam mais para voltar, mais ou menos dois dias se tudo desse certo.

Isso foi tudo que eu consegui prestar atenção.

Voltei para a joalheria no fim daquela tarde, o senhor Hugo me disse que ela ficaria fechada durante o baile, por questões de segurança, então eu me tranquei do lado de dentro, decidido a passar mais uma noite em claro, afundado na confecção das joias.

Minha cabeça girava, meu peito doía de saudade do Pedro e eu sabia que jamis conseguiria dormir naquela noite, fosse pela música alta do baile ou pela preocupação. Pedro estava vivo e isso era o mais importante, notícias de morte sempre chegam rápido.

Ele vai estar bem, João, eu repetia para mim mesmo, o Pedro é um cavaleiro como nenhum outro, ele vai voltar bem.

Nesse momento, me lembrei de conversas que já tínhamos tido, sobre cavaleiros e amazonas sempre se relacionarem entre si, porque as outras pessoas não entendiam essa paixão que tinham por sua função.

Era a primeira vez que Pedro partira para uma missão e eu já estava desse jeito, e fora apenas uma patrulha pelo reino na qual mal havia a possibilidade de ele se ferir gravemente. Imprevistos acontecem, claro.

Mas e quando Scorpios entrasse em guerra? Como eu lidaria com a sensação de ver meu grande amor partindo para um confronto o qual poderia não voltar vivo?

Talvez fosse por isso o príncipe Jonas queria levá-lo para seu harém em Libres, ali ele estaria sempre a sua disposição e raramente se ariscaria em confrontos armados, talvez Jonas realmente gostasse dele e quisesse o manter em segurança.

Mas o Pedro mesmo negou sua proposta, porque muito além de ser um affair do rei, ele deixaria de fazer o que ele ama, não importa o quão arriscado fosse, eu sabia que pedro amava aquele cargo e arriscar sua vida por soberanos que nem se importavam tanto assim com ela.

Talvez essa paixão que ele tinha e que foi maior do que ele sentiu pelo príncipe no auge de sua adolescência, nem fosse pelo prazer de obedecer seus soberanos, e sim pela memória de seus pais.

Pedro me contou que eles haviam lutado lado a lado, talvez a sensação de um tilintar de espadas o lembrasse de sua família e por isso ele gostasse tanto.

Não importava muito, a verdade é que essa paixão era maior do que qualquer coisa, maior do que ele sentia por mim, eu jamais poderia impedi-lo.

Será que eu conseguira passar a vida toda com essa sensação de insegurança? Eu passaria todas as noites em claro quando ele não estivesse seguro e comigo?

Seria essa a razão de Pedro não ter amado mais ninguém todos esses anos? Será que assim como eu, as pessoas com quem ele tentava algo se sentiam inseguras e o rejeitavam?

Comecei a me questionar se tudo aquilo valia a pena, mas logo esse pensamento se esvai.

Eu não faria isso com ele, seria estupidamente egoísta da minha parte, me negar te-lo comigo por medo de um dia perdê-lo, em algum lugar desse reino, o meu grande amor deve estar ferido, sem poder correr muito depressa e ansioso para voltar para os meus braços, como eu seria estupido de não acalentá-lo.

Eu amo Pedro mais do que tudo, e se eu tivesse que passar por isso todas as luas, ainda assim, por ele, valeria a pena.

"Meu deus, quando eu te encontrar de novo, eu vou te dar um beijo solto, desses intercontinentais..."

Mas Eu Sou Um Pirata... - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora