{VI} Parecidos

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"Ah, a quem eu já feri

E quem já fiz sorrir

O bem e mal precisam de amizade

Amigos vi partir

De outros desisti

São pouco que me importam de verdade..."

— Tudo É Um Só, Suricato

P.o.v. Pedro

Cinco dias se passaram desde que eu e Jão conversamos no centro de treinamento.

Era um pouco estranho o jeito que ele tomava meus pensamentos, algo nele me atraia mais do que eu gostaria de admitir.

Eu ainda não sabia se podia confiar tanto nele, principalmente depois de ouvir o jeito que ele falava bem, poderia ser um espia de algum reino distante que se aproveitou da confusão no porto para se infiltrar.

Principalmente, por ele ser tão misterioso sobre seu passado, e até mesmo o jeito que ele manca, não parece ter a perna machucada, é como se ele estivesse desacostumado a andar em terra firme, o que faz sentido se ele passou muitos anos em alto mar. Mas para mancar daquela forma ele teria que ter passado a vida toda em alto mar.

Mas, ao mesmo tempo, ele tinha um jeito que me deixava tão confortável, não sei explicar.

Mas não era nele que eu pensava naquele fim de tarde, eu estava sentado na escadaria mais distante do jardim do castelo, meus olhos perdidos no horizonte e meus dedos em um pequeno pingente em formato de bússola.

Ainda imerso em meus pensamentos distantes, eu consigo ouvir passos se aproximando, imagino quem seja pelo ritmar falhado do andar, mas não me viro pra confirmar.

Jão: — Pedro? — Sua voz confirma minhas suspeitas.

Pedro: — Oi, Jão. — Dou um sorriso leve. — O que faz aqui?

Jão: — O que você faz aqui? — Ele ri.

Pedro: — Perguntei primeiro.

Jão: — Bem, o senhor Hugo me mandou dar uma volta, disse que eu estava a tempo demais afundado na joia que estou criando e precisava tomar um ar, eu lembrei desse lugar que eu achei há uns dias atrás caminhando pelo castelo. — Ele se senta do meu lado.

Pedro: — A senhorita capitã da guarda Alves me deu folga hoje, e quando eu digo isso quero dizer que ela praticamente me proibiu de pisar no centro de treinamento.

Jão: — E por que ela faria isso?

Pedro: — Porque... — Respiro fundo e aperto o pingente entre os dedos. — Hoje seria o aniversário da minha mãe.

Jão: — Ah, entendi.

Pedro: — Também está próximo da data em que eu os perdi, meus pais morreram exatamente na mesma época, como se a deusa da morte decidisse me tirar tudo que eu amo de uma vez.

Jão: — Sinto muito, eu entendo como você se sente.

Pedro: — Ah, é?

Jão: — Sim, além de perder meus pais quando era criança, eu perdi o homem que me criou e tudo o que eu conhecia, também descobri que não devia ter confiado em alguém que era muito próximo de mim, e não faz tanto tempo assim.

Mas Eu Sou Um Pirata... - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora