{XIII} Me diz a verdade

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"Supõe-se que é normal, me apaixonar
Nessas condições, eu busco pelo termo
Que possa traduzir, os nossos erros
Cheios de boas vontades..."

— Congelante, Califrê


P.o.v. Pedro

O céu estralado parecia mais morto naquela noite, meus olhos procuravam a lua nova no céu.

Respirei fundo.

Eu tinha dito ao João que pensaria a respeito e tomaria uma decisão, mas eu ainda não sabia o que fazer.

Confesso que esperava que ele aproveitasse a minha deixa para fugir do palácio, do reino, não sei, eu torcia para ele ter aprendido a mentir melhor, ter me enganado para me desestabilizar e conseguir evitar que eu o matasse, seria menos pior sentir que fui enganado por um pirata do que ter a certeza de que ele gostava realmente de mim daquela forma, já lidei com frustrações amorosas antes, eu saberia lidar com isso de uma forma a melhor do que tendo a certeza de que meus sentimentos eram recíprocos.

Mas, ele não fugiu, eu sabia disso, apesar de João realmente não ter cruzado comigo no castelo durante esses dias, inicialmente eu pensei que ele poderia ter ficado com medo de mim. Mas, então eu lembrei que ele sequer tremeu quando a lâmina da minha espada estava a milímetros do seu pescoço.

Era como se João tivesse realmente decidido respeitar meu pedido de um tempo para pensar.

Minha mente frequente, mente voltava para o memento em que ele me contou tudo, ele tinha uma sinceridade na voz que eu já tinha reconhecido antes, quando ele me falava das joias ou do mar.

Era terrível que por mais que eu quisesse odiá-lo, meu peito doía de saudades dele.

Ainda preso nos meus devaneios, ouço leves batidas na porta.

Abro, Jão me sorri daquele maldito jeito de sempre que me dá vontade de me jogar em seus braços.

Jão: — A lua está nova. — Ele diz, baixo.

Pedro: — Eu sei.

Reluto por dois segundos, mas logo dou passagem para ele entrar no quarto, não acho que seja uma boa ideia ficarmos conversando aqui na porta.

Pedro: — Você realmente veio... — Comento. — Estou começando a acreditar que você realmente não preza pela própria vida.

Jão: — Eu não menti quando disse que não ligava se você quisesse me matar, Pedro, repito, já perdi tudo o que prezava na vida, se eu te perder, não sobra nada.

Nesse momento eu mais uma vez noto a sinceridade na voz dele, junto de um receio que eu nunca ouvi antes vindo dele, não medo, receio.

Pedro: — João, vem cá. — Me sento na minha cama e desfrouxo o cinto que segura a bainha da minha espada, deixando-a do meu lado na mesa de cabeceira, quero que ele se sinta a vontade o suficiente para conversar comigo sem que eu segure o cabo da espada o tempo inteiro, coisa que faço por costume, mas deixo minha espada perto o suficiente para o caso de alguma emergência.

Ele se senta do meu lado.

Pedro: — Me diz a verdade, o que você quer de mim? Porque está aqui hoje, porque você faz tanta questão disso tudo?

Jão: — Por você, Pedro, eu sei que você não quer acreditar em mim, sei que para você seria mais fácil se eu fosse um mentiroso que tivesse te enganado, mas eu não sou, a única mentira que contei pra você foi sobre não ser um pirata, e agora, você é o único que sabe disso e pode fazer o que quiser com essa informação.

O jeito que ele fala inflama meu peito.

Contra qualquer racionalidade que ainda resta em mim, eu me aproximo mais e uno nossos lábios.

Jão agarra minha cintura e une ainda mais nossos corpos, a gente se beija com saudade, como se já fossemos um casal e eu tivesse acabado de coltar de um confronto que poderia ter custado a minha vida. É esse o gosto eu o beijo tem, João suspira como se estivesse grato por eu estar vivo e ali com ele, sei que ele pode mentir com palavras, mas não pode fingir as sensações que me transmite, ele sentiu tanta falta de quanto eu senti dele.

E isso, ao invés de preocupante, soa reconfortante.

Jão: — Acredita em mim, por favor, Pedro... — Ele sussurra contra os meus lábios... — Me dá uma chance, por favor...

Levo minhas mãos até o seu rosto o afastando apenas o suficiente para olhar em seus olhos.

Pedro: — Eu acredito em você, Jão... — O beijo suavemente. — Mas ainda não sei se posso voltar a confiar em você.

Jão: — Me deixa tentar recuperar a sua confiança. Eu prometo que nunca mais vou mentir para você...

Pedro: — Então já começa agora, me conta tudo, tudo que te trouxe até aqui, eu quero muito te entender, eu juro.

Jão: — Tudo bem, eu me tornei um pirata quando você ainda nem era um cavaleiro, eu dei meus primeiros passos e aprendi a andar já em um navio, então você consegue entender como eu manco dessa forma em terra firme...

Não sei quanto tempo ficamos ali, Jão me contou sobre tudo com detalhes e eu de fato me senti mais seguro, tinha algo no seu tom de voz sempre que ele mentia sobre ser um prisoneiro no navio que não existia aqui, dava pra perceber que ele estava sendo sincero.

Jão: — Bom, é isso, então eu esbarrei no cavaleiro mais lindo desse castelo, me apaixonei perdidamente e aqui estou eu, completamente nas mãos de alguém que eu deveria ter como inimigo.

Pedro: — Como pode nós dois sermos de mundos tão diferentes e ainda assim estarmos exatamente na mesma situação?

Jão: — Eu acho que a gente está se antecipando demais. — Ele pega a minha mão. — E se a gente... só tentasse? Um dia de cada vez, que tal?

Pedro: — Acho que você tem razão. — Suspiro. — Sabe... eu fiz muito mais vigilâncias do que o necessário nos últimos dias, o general me obrigou a tirar uma folga amanha, quer sair comigo?

Jão: — Claro que eu quero. — Ele deu um sorriso tão empolgado que eu sorri junto quase como um reflexo. — Para onde?

Pedro: — Eu vou decidir ainda.

 Jão: — Bom, nesse caso, vou te deixar dormir. — Ele se levanta. — me encontre na joalheria amanha, vou conversar com o senhor Hugo, certeza que ele vai me liberar.

Pedro: — Tudo bem, estarei lá. — Acompanho ele até a porta. — Até amanha, então.

 Jão: — Até amanha... — Ele se aproxima e me beija suavemente, na mesma delicadeza de antes, como se nada tivesse mudado.

Jão: — Pedro? — Ele chama antes que eu feche a porta.

Pedro: — Sim?

Jão: — Boa noite. — Ele sorri mais uma vez e em seguida vai.

Pedro: — Boa noite, Jão. — Fecho a porta com um sorriso.

É uma péssima ideia continuar essa historia, eu sei disso, tem muita coisa em jogo, mas pelo menos dessa vez, eu vou tentar viver um dia de cada vez, vou tentar ignorar a voz que me cama de traidor dentro da minha cabeça, pelo menos um pouco.

Por mim, e por ele.

"Teu calor desperta o meu melhor"

Mas Eu Sou Um Pirata... - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora