{XXVII} Pertencimento

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"O frio que chegou quando você foi embora

Fez desaparecer minha preciosa paz

Eu me pego pensando em você

No sorriso que abria ao me ver..."

— Sapatilha Preta, Pedro Salomão

P.o.v. João

Me levantei no dia seguinte sem sequer ter pregado os olhos, e não era só a falta de Pedro que tirava meu sono.

Também estava frequentemente ouvindo o som do mar na minha mente, era como se ele me chamasse de novo.

E de fato, ele me chamava.

E por fim, ter reencontrado Renan me assombrava, um misto da raiva por ele ter nos traído, mas também um leve panico porque ele provavelmente me viu também.

E, ele poderia me entregar.

Fui até a joalheria fazer meu trabalho.

Hugo: — Bom dia, João.

Jão: — Bom dia, senhor Hugo, — Disse forçando o sorriso.

Hugo: — Você esta com cara de quem dormiu mal essa noite, me diga, o que está te deixando ansioso?

Jão: — Estou preocupado com o Pedro. — Confesso, sem rodeios.

Hugo: — Ah, o peso de amar um cavaleiro, sei como é.

Jão: — O senhor já passou por isso?

Hugo: — Eu já tive paixões piores, meu jovem, você nem imagina.

Jão: — Ah, é? Tipo o quê?

Hugo: — O que eu posso dizer é que a fixação que os piratas tiveram de invadir esse castelo não era só movido pelas nossas riquezas. — Diz simplesmente — Vou conferir o carregamento de joias.

Jão: — Como assi- — Antes que eu termine, ele deixa a joalheria.

Naquela noite eu mais uma vez tive problemas para dormir, oscilando entre a insônia e pesadelos variavam entre o corpo de Pedro em meus braços e as lembranças do meu barco em chamas.

Eu preferia a insônia, mesmo que ela me levasse a pensar nos piores cenários, em todas as coisas que poderiam acontecer com o Pedro.

Minha mente só se acalmou um pouco quando voltei a nossas conversas de luas atrás, quando ele disse que o fato de eu esta o esperando, fazia com que ele ficasse mais atento e se concentrasse em voltar pra mim.

Esperava que isso fosse o suficiente.

Logo que amanheceu voltei a joalheria, provavelmente Pedro estaria de volta naquela noite e aquilo me animava.

Dessa vez, não ouvi confusão nenhuma, nenhum sinal de que a patrulha tinha sido surpreendida por um ataque, tudo parecei estar bem.

Mas meu aperto no peito só se aliviaria quando tivesse meu cavaleiro são e salvo nos meus braços

Minha mente voltou para a conversa que tive mais cedo com o Hugo, fazia tempo que eu me questionava bastante coisas a seu respeito.

A fixação do capitão James pela capital de Scorpios nunca fez sentido, já conquistamos riquezas maiores por bem menos.

No meu intervalo decidi ir até a praia, pensei em levar uma oferenda aos deuses do mar.

Tirei minhas sandálias pra sentir a areia nos meus pés.

Inspirei a maresia, eu sentia um aperto enorme no peito.

E dessa vez, eu sabia que não tinha a ver com o Pedro.

Eu poderia fingir ignorar a sensação quando estava longe do mar, mas aqui ela vinha com tudo.

Mirei o horizonte, o aperto cresceu, entrei no mar, eu sentia as ondas me puxando, mais do que o comum.

Voltei pra margem e me sentei na areia.

Eu não tinha noção da saudade que sentia daquela sensação.

Fechei os olhos, eu via imagens de um barco, do meu barco, com tanta nitidez que parecia um sonho, mas ele estava vazio ou quase, não vi James ou o resto da tripulação.

Vi algumas silhuetas, algumas não, uma.

Quase podia sentir o balando do barco, o som das ondas quebrando no casco, o vento me levando rumo ao horizonte.

A voz de James veio nítida na minha cabeça: "Um pirata pertence ao mar, João Vitor".

Eu sentia meu lado pirata me chamando, eu sabia que isso um dia ia acontecer, sabia que eu sentiria saudades do mar, do meu barco, de tudo, eu sabia que os deuses do mar me chamariam de volta.

Mas então, eu pensei em Pedro.

Pensei nos seus olhos escuros me mirando com encanto, nos seus cabelos bagunçados quando ele acordava, no seu sorriso que iluminava mais que qualquer constelação.

Pensei em como ele sorria quando me via, em como escolheu trair seu próprio reino por mim, pensei no meu peito acelerado sempre que seus lábios tocavam os meus.

Por mais saudade que sentisse do mar, por mais duro que fosse ter que vê-lo partir nessas missões, eu não poderia deixá-lo.

Pensei outra vez no meu navio, na liberdade de navegar, no contato com os ventos, pensei em Pedro.

Decidi voltar para o castelo, longe dos sons das ondas, onde meus dilemas, com sorte, se calariam e eu poderia pensar com clareza.

Posso pertencer ao mar, mas também pertenço ao Pedro e absolutamente nada vai me tirar dele.

"Será que ela está bem? Eu só quero que saiba, que eu me pego pensando em você..."

Mas Eu Sou Um Pirata... - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora