. . . . . ╰──╮ 10. Ayana ╭──╯. . . . .

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Se o tempo chegasse ao fim hoje e deixássemos tantas coisas para dizer
Se pudéssemos voltar atrás, o que nós iríamos querer mudar?
Agora é o tempo de ter uma chance
Vamos lá, temos que tomar uma decisão.
O que nós temos a perder?
A escolha está em nossas mãos
E nós podemos encontrar uma maneira de fazer qualquer coisa,
se tentarmos
Live Like There's No Tomorrow – Selena Gomez

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"O calor do seu corpo me fazia sentir segura, seus braços ao redor do meu corpo me faziam lembrar que eu ainda estou viva..." (Diário de Ayana)

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Escutei vozes vindas de longe, mas não abri os olhos. Estava quente ali onde eu estava. Minha mente estava confusa. Lembrava da água, lembrava da voz de Kai falando comigo, mas não lembrava sobre o que ele falava, e agora eu não precisava abrir os olhos para saber que era ele que estava abraçado a mim mantendo meu corpo aquecido.

– Milady Ayana – ouvi novamente alguém me gritando. Tentei abrir os olhos e me movimentar, Kai parecia adormecido e o meu movimento o fez me abraçar um pouco mais apertado contra o corpo. Talvez um ato reflexivo.

Eu tinha sono, queria dormir. Queria ceder a vontade de dormir de novo ali. Talvez não tivesse problemas...

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Quando me puxaram do bote, eu estava semiconsciente. Minhas mãos automaticamente buscaram pelo corpo de Kai de novo, mas nem eu mesma sabia o motivo daquilo.

– Ele está vivo – alguém me tranquilizou – não se preocupe Milady, ele está vivo. Iremos levá-los para o navio agora.

Tentei abrir os olhos, já quase não havia claridade no céu, mesmo assim forcei a minha visão e vi a imagem borrada de Kai com um cobertor ao redor do corpo. Ele estava acordado e falava com alguns homens. Meu instinto de sobrevivência parecia gritar, eu voltei a esticar a mão para ele, não queria me separar de Kai.

Tudo na minha cabeça era confuso. Me cobriram com algum cobertor e me pegaram no colo e novamente eu voltei a tentar alcançar Kai, mas me sentia tão fraca que acabei por deixar o braço tombar de novo. Por que eu tentava com tanto afinco alcançá-lo de novo? Talvez um simples reflexo por ter sido salva por ele e era desesperador sair da zona que meu corpo julgava segura.

– Ele está bem, Milady – a pessoa voltou a tentar me tranquilizar.

Tentei de novo abrir os olhos, vi a imagem embaçada dele olhando para mim e sussurrei "sim, ele está bem" e perdi a consciência novamente.

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Acordei coberta e com o corpo quente. Minha cabine estava iluminada apenas com uma lamparina bem fechada. Meu corpo ainda parecia reclamar, mas fiquei irritada ao constatar que estava perdendo tempo na cama enquanto tantas pessoas haviam morrido no ataque das sereias.

Meu corpo seguia pegajoso pela água salgada, mas era um incômodo a mais que eu deixaria passar.

Enrolei melhor meu corpo na coberta, não é que estivesse frio, mas não queria me desenrolar dali também. Meus passos pareciam pesados ao sair da cabine. Tentei a todo custo lembrar de tudo o que havia acontecido, mas desisti ao constatar que aquilo era inútil.

– Ayana – Viatrix se aproximou rápido – você deveria continuar descansando.

– Eu estou bem – resmunguei. Ali estava ela, Hagne e Kai – Fala logo.

– Você vai acabar se matando – Trix falou balançando a cabeça de maneira negativa.

– E você finalmente vai se ver livre de mim – ri e acabei sentindo uma dor aguda ao lado esquerdo do abdômen e me encolhi instintivamente – Vamos, fala logo.

– Levei a sacerdotisa até um local seguro e eles seguiram viagem de lá, mas disseram que voltarão até a barreira para levar o líder deles de volta. Alguns dos soldados não puderam atravessar a barreira de volta após a fortificação não anunciada da barreira. Acabaram ficando no navio deles como...

– Como moeda de troca – fiz um sinal qualquer com a mão – o Leste e essa maldita mania de moeda de troca. Pelo menos estão vivos. Hagne?

– Perdemos mais da metade das pessoas do navio, eram muitas e tive que tentar tirar o navio de onde estávamos. Usamos nosso estoque de fogo grego para combater as sereias que ainda estavam próximas e nos distanciamos esperando notícias suas, mas...

– Já sei, eu não dei notícias – terminei por ela – o que nos leva a terceira questão.

Olhei para Kai. Ele parecia extremamente tranquilo apesar do entorno que sem dúvidas era estranho para ele. Não sabia se me irritava por tê-lo ali na minha frente ou se me sentia aliviada por ele estar bem. Meus sentimentos eram confusos, ele havia arriscado a sua vida para me salvar, mas não podia esquecer que ele havia rejeitado categoricamente ajudar nem que fosse um pouco das pessoas que estavam presas ali enquanto me exigia explicações.

– Quanto tempo até Khur? – perguntei sem tirar os olhos de Kai. Ele não se imutou, inclusive sorriu.

– Um dia e meio de viagem se formos direto para as ilhas – Viatrix respondeu.

– Um dia, mais um mês até chegarmos em um sacerdote e 15 dias para fazerem o amuleto e mais 1 mês para retornarmos se não houver problemas pelo caminho – abaixei a cabeça me sentindo de repente derrotada – Isso não pode estar acontecendo. Ele não deveria estar aqui. Como a barreira foi fortificada de novo?

– Não sabemos ainda, mas achamos que Lorde Daneel tenha enxergado a falha e fortificado a barreira desde as ilhas do norte – Viatrix respondeu encostando em um canto qualquer.

– Certo – falei e deixei um leve sorriso brotar no meu rosto – é bem a cara dele mesmo. Deve ter enviado mensagens através dos próprios sacerdotes.

– Ayana? – a voz de um quarto integrante ocupou o lugar. Argus, irmão de Viatrix estava sem dúvidas com o rosto repleto de malícia e eu nem precisava me virar para ter certeza disso. Mesmo assim sua preocupação oculta me fez rir.

–Olha se não é o moderninho – falei me virando com um sorriso estampado na cara.

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