Dois mundos

. . . . . ╰──╮ 16. Ayana ╭──╯. . . . .

Por que estou tão emotivo?
Não, não dá pra ficar assim
Adquira algum autocontrole
E lá no fundo eu sei que isso nunca funciona
Mas você pode deitar aqui
comigo para que não doa
Sam Smith - Stay With Me

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"Não posso desistir de lutar e por mais que eu queira, não posso desistir do meu destino. Prefiro morrer sabendo que cumpri com o meu dever à voltar para casa com a vergonha nos ombros" (Diário de Ayana)

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No caminho do quarto, Kai me parou. Meu corpo ficou tenso no mesmo minuto em que ele apenas encostou em mim.

– Eu quero saber a verdade – ele falou olhando nos meus olhos e eu tremi.

– Eu sei – falei tentando não gaguejar – mas acho que não estou pronta para te falar.

Talvez ele soubesse o tamanho do medo que eu sentia dele, porque, por mais improvável que parecesse e para a minha sorte ele apenas suspirou e não insistiu e assim chegamos no quarto já tarde da noite. Olhei para as camas uma em cada lado do quarto e não pude evitar soltar um suspiro. O biombo separando as camas não era grande, mas pelo menos dava um pouco mais de privacidade.

– Sinto muito, vossa alteza – falei em tom irônico tentando espantar o nervosismo que me dava estar sozinha com ele – acho que não teremos nada mais luxuoso do que isso de momento.

– Isso é muito mais luxo do que eu tive durante boa parte da minha vida – ele deu de ombros – gostaria de escolher o lado ou qualquer um serve para vossa senhoria?

O cinismo escorreu por seus lábios e eu sorri muito mais relaxada. Não conseguia nem entender o porquê meu sorriso tinha se aberto com tanta facilidade, mas ele estava ali.

– Contanto que não me espie enquanto me dispo para dormir, eu deixo a escolha com o senhor – falei dando de ombros.

– Tenho coisas melhores para fazer – ele me encarou, mas não parecia bravo, parecia inclusive estar se divertindo – como por exemplo, dormir. Acho que não terei uma boa cama para dormir por bastante tempo pelo que eu entendi.

– Essa é uma ótima ideia e sim, não teremos mais do que alguns cantos na estrada para dormir por um bom tempo.

Ele deu de ombros e foi para um lado qualquer do quarto e se sentou na cama. Era difícil imaginar tudo o que estava se passando na cabeça dele naquele momento, mas me impressionava a fortaleza que ele parecia mostrar para tudo.

Fui para o meu lado e tirei o vestido incômodo. Olhava hora ou outra para o lado do biombo para me certificar de que ele não estaria olhando. Vi através de sua sombra ele se deitando e para o meu desespero, a vontade de vê-lo era gigante. Me repreendi, pois não podia fazer aquilo que havia pedido para que ele não fizesse.

Forcei meu corpo a se deitar e virei para o lado da parede, me forçando a fechar os olhos. O que será que ele estaria pensando? Balancei a cabeça com força para tirar qualquer pensamento estranho que tentasse me afastar da boa noite de sono que eu precisava ter.

– Espero que durma bem – falei alto me dando uma desculpa de escutar sua voz e finalmente poder dormir – Boa noite, Kai.

Ele não respondeu inicialmente. Por um momento achei que inclusive não o faria. Talvez já estivesse dormindo ou talvez não quisesse me responder, e quando eu estava prestes a simplesmente aquietar meu coração por conta da frustração, eu o ouvi.