. . . . . ╰──╮ 20. Ayana ╭──╯. . . . .

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Nunca derramei uma gota de suor por outros caras
Quando você surge, eu fico paralisada
E toda vez que tento ser eu mesma
Dá tudo errado como um grito por socorro
Isso não é justo
A dor é mais confusa do que vale o amor
Eu sufoco querendo ar
Parece tão bom, mas você sabe que machuca
Heart Attack – Demi Lovato

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"Tenho medo de que o mundo o leve embora para longe de mim agora e entendo que no fim eu serei a única responsável por afastá-lo com a minha insegurança." (Diário de Ayana)

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Eu escutava sem sequer conseguir me mexer. O pingente de corvo de repente pesou no meu peito me fazendo ter dificuldades de respirar. Ele sabia, ele enfim sabia que era o rei.

Estava claro que eu sabia desde o início, aquele pingente me servia como um recordatório da profecia do rei e que a sua volta traria a minha morte. Tanto ele como o amigo que chegou junto tinham as marcas do corvo cravadas em suas almas, mas ele era o líder no fim das contas. Eu não queria aceitá-lo. Aceitar alguém que havia nos descartado com tanta facilidade logo no primeiro dia era doloroso demais. Na minha cabeça ele seguiria sendo um rei que nos esqueceria e o meu povo seguiria sofrendo e no fim, eu morreria em vão. Mas havia algo mais que me assustava: eu estava com medo de perdê-lo de vista.

Escutar aquela conversa me deixou terrivelmente melancólica, porque eu percebi que não queria que ele fosse rei, não queria que ele fosse rei porque eu tinha medo de que ele abandonasse a minha gente e principalmente, tinha medo de que ele me abandonasse. Sem conseguir abafar a melancolia que se instalou dentro de mim, eu fingi que dormia. Mantive meus olhos fechados, sentindo o imenso vazio que crescia e me afogava lentamente. Ele não saiu do meu lado, as vezes me pergunto se ele ao menos dormiu naquela noite.

Acordei com uma luz tímida entrando pela porta, mas não me levantei de imediato. Kai seguia ao meu lado, então preferi manter meus olhos fechados, mas eu sabia que não poderia ficar deitada para sempre e assim que senti ele saindo, me levantei. O dia parecia ter começado com uma imensa luz negra. Arrumei rapidamente a roupa no corpo de maneira automática. Sentia o corpo ainda pesado pela noite anterior, mas forcei os passos, mesmo que sem vontade. Eu podia sentir o cheiro de alguma comida sendo feita na parte de fora da casa, mas aquilo só serviu para embrulhar meu estômago. Senti como minha vontade e minha determinação mergulhavam em uma tensão completamente vã. Algumas pessoas falavam comigo e mesmo o som de suas vozes pareciam distantes, chegavam até mim como murmúrios de desconhecidos.

– Você realmente me esperou sair de lá para se levantar? – Kai perguntou atrás de mim e senti a tensão piorar.

– Eu sinto muito, majestade – falei de cabeça baixa, mas ainda sem me virar para ele. Ele suspirou alto – espero que tenha conseguido dormir pelo menos um pouco.

– Então você ouviu a conversa – não era uma pergunta, e por isso me limitei ao silêncio – Ayana, eu preferia que você não...

Ele tentou me alcançar, mas eu desvencilhei o braço e me virei para ele, sem olhá-lo. Ele iria me abandonar, mas se não fosse o caso, eu possivelmente iria afastá-lo com esse sentimento destruidor que me corroía.

– Não, majestade – mantive os olhos baixo – o senhor não tem por que ser gentil comigo quando eu não fui com o senhor. Nem deve me perdoar por ter escondido essa informação.

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