. . . . . ╰──╮ 44. Kai╭──╯. . . . .

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As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas,
talvez apenas com o toque de uma mão.
Bem, eu, eu me apaixono por você a cada dia
Ed Sheeran – Thinking Out Loud

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"Somos diferentes, pensamos diferente, mas me sinto completa com ele ao meu lado. O destino me pregou uma peça cruel ao colocá-lo na minha vida de maneira tão intensa. Caminhamos para um final tão trágico quanto ao de Romeu e Julieta, mas não consigo desfazer o sorriso bobo dos meus lábios." (Diário de Ayana)

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Ayana parecia haver aceitado melhor do que eu esperava, mas eu sabia que tudo para ela parecia brutal demais.

Não demorou para que os corpos dos prisioneiros fossem pendurados nas entradas das cidades. Eu não conseguia ter a mínima pena deles. Seres que faziam acordo com lâmias por vontade própria por pura ganância, usando vidas de crianças e bebês não podiam ter espaço no meu pequeno círculo de bondade. Aquele era um espaço extremamente seleto dentro de mim.

Nunca julguei a ganância e nem poderia, mas sempre julguei o que estava além do limite para alcançá-la e aqueles acordos sem dúvidas eram uma maneira terrivelmente impiedosa para conseguir chegar em qualquer objetivo.

Ela não apareceu na execução dos condenados e agradeci mentalmente por isso. Deixei meus passos me guiarem por diversos aposentos do castelo enquanto a procurava e quando comecei a me preocupar a encontrei.

Ao adentrar o aposento em que ela estava, olhei com cuidado primeiro suas paredes gastas e uma cama empoeirada.

Tudo no quarto era luxuoso, desde a cama até os móveis. Havia duas cadeiras em uma das partes com uma mesinha baixa de centro. Próximo da cama havia dois sofás escuros e até mesmo a lareira parecia extremamente rica. Tudo seria bonito, se não estivessem cobertos por uma camada grossa de poeira.

Prendi a respiração ao percebê-la de pé, enquadrada pela porta que dava para uma varanda. Ela não parecia haver me notado. Seu cabelo branco era refletido pelo sol. Suas vestes, pela primeira vez dignas de uma verdadeira rainha a deixava deslumbrante para o cenário a sua volta. Seus olhos seguiam abertos e límpidos enquanto olhava fixamente para algo além do meu alcance. Observei a expressão grave e ao mesmo tempo tranquila de seu rosto, mostrando o quão absorta ela estava em suas próprias reflexões.

Quando ela me notou, ela me ofereceu um sorriso fraco, mas receptivo, me dando finalmente coragem de me aproximar.

– Jurei para minha mãe que nunca deixaria uma paixão triunfar sobre os meus objetivos – ela falou tranquilamente e voltou seus olhos de novo para fora.

Segui seus olhos e novamente segurei a respiração ao perceber o que ela olhava. Todos os corpos dos nobres enfileirados e pendurados eram vistos com perfeição dali.

– Minha mãe me respondeu que não havia motivos para eu separar essas duas coisas. Que se eu estava disposta e alcançar alguma coisa, então eu deveria encontrar alguém que tivesse o mesmo objetivo que eu. Talvez o meu mundo perfeito seja uma utopia – ela deu de ombros e sorriu tristemente – por outro lado, o mundo que você descreveu hoje parece tão utópico quanto o meu, mas eu quero vê-lo. Eu quero te entender, quero não ter medo do homem impiedoso que condenou todos aqueles nobres, mas é bem difícil as vezes. Por outro lado, parece que temos sim um objetivo em comum... no fim, talvez eu que tenha que mudar.

– Não – respondi – mulheres com opiniões fortes assim são raras. A maioria se afoga nos próprios medos e saber que apesar de tudo você ainda mantém a sua opinião é admirável.

– Quando te vi pela primeira vez, nem percebi a possibilidade de termos algo em comum – ela falou e riu tristemente de novo – na verdade, eu estava tão focada em te odiar, que não conseguia enxergar o homem genial que podia entender a minha natureza, além de enxergar a minha alma.

A abracei por trás. Era gostoso sentir seu corpo junto ao meu, apesar da paisagem terrivelmente mórbida a nossa frente.

– Isso foi um elogio? – perguntei mais para irritá-la do que para questioná-la.

– Não vou responder essa pergunta absurda – ela tentou se afastar um pouco, mas eu a apertei um pouco mais contra mim.

– Não tinha outro jeito, Kai? – ela enfim perguntou o que tanto queria.

– Não quero causar só medo nas pessoas – respondi sinceramente – mas a humanidade é egoísta demais para mudar sem o medo. Foi uma lição bem difícil de aprender, mas agora que eu sei, acredito que seja o melhor meio. Sei que pensamos diferente e quero ouvir a sua opinião para ser sincero.

– Mas isso não significa que dará algum crédito para o que eu penso – ela me cortou – Na nossa relação sempre seremos iguais e estou muito agradecida por isso, só isso já está muito além do que eu poderia imaginar para mim. Ainda assim você segue sendo o rei.

– Eu farei o que acho melhor para as pessoas – respondi sinceramente – isso não vai mudar.

– Entendo – ela suspirou, mas não pareceu brava, na verdade, ela parecia muito mais triste do que qualquer outra coisa – acho que terei que respeitar as decisões do meu rei, mas atente-se que eu disse respeitar e não concordar.

– Já é o suficiente para mim – beijei seu pescoço na tentativa de fazê-la tirar o foco da paisagem e daquela conversa triste.

– E agora? – ela perguntou e se virou para mim – o que pretende fazer agora?

– Posso ter errado em muitas coisas – falei puxando-a para mais perto – mas não estou errado com o que eu sinto por você e estou decidido a te levar para Vixen como minha legítima esposa. Apesar da sua dedicação e disciplina me fascinarem completamente, eu estou disposto e decidido a te levar embora para viver comigo de verdade. Estou disposto a te levar para conhecer cada detalhe do meu mundo e quero realizar seu pequeno sonho inocente de ir em um baile e dançar até gastar os sapatos – ela ficou vermelha e aquilo foi terrivelmente fofo para mim – então, coloque de uma vez na sua cabeça que eu vou fazer de tudo para que você saia viva disso e por isso iremos voltar para Vixen, vamos bolar um plano lá e só depois disso voltaremos para cá com uma solução e você irá para Vixen comigo. Sei que já falei antes, mas estou profundamente apaixonado por você e me recuso a te deixar aqui.

– Então isso não é um pedido? – ela sorriu.

– Você com certeza pode tomar a sua decisão e prometo que irei respeitá-la, mas não sem antes implorar para que você aceite a minha proposta.

– Então... – ela sorriu e me beijou algumas vezes – vou fechar os olhos para meus instintos gritando dentro de mim, dizendo que você é um vilão impiedoso e vou embora com você. Seguirei o seu plano sem esconder mais nada pelo simples fato de que também estou completamente apaixonada por esse ladrão ganancioso que roubou cada parte do meu coração, sem ter a decência de me deixar nem que fosse um pequeno pedaço.

– Não posso ter roubado o que você me deu de boa vontade – falei rindo – mas gostei do quanto você se tornou uma poetiza ao dizer isso.

A envolvi mais em meus braços e como em qualquer momento a sós com ela, senti meu corpo esquentar.

– Aqui não – ela me parou enquanto eu tentava controlar todas as minhas vontades em beijos desesperados – quero continuar respeitando o quarto da minha mãe.

Ela falou já me puxando para fora, parecia até mais desesperada do que eu e isso me fez rir.

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