. . . . . ╰──╮ 31. Kai╭──╯. . . . .

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Venha embora comigo no meio da noite.
Venha embora comigo
Come Away With Me – Norah Jones

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"Ir com ele de repente me parece uma utopia possível e meu corpo inteiro grita por essa felicidade nova e essa esperança que me cega. Esse parece o único foco de luz que me rodeia e minha única chance de ser feliz" (Diário de Ayana)

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Aquilo tudo me machucava muito mais do que eu gostaria de admitir. Ela parecia falar para se ver livre desses pensamentos que possivelmente estavam presos ali havia muito tempo. Estava claro que ela se importava com o que pensavam. Estava claro que machucava o que falavam dela e por mais que ela não admitisse, estava claro que esses estigmas a afetavam, mesmo que isso não fosse fazê-la mudar de opinião.

– Em uma visão comum, as mulheres não estavam nem física e nem mentalmente aptas a ingressarem em trabalhos manuais pesados – Ayane seguiu falando, ela mal parecia notar que eu estava ao lado dela. Parecia apenas que ela queria soltar as palavras ao ar – essas mulheres "inaptas" agora trabalham sob condições duras, cultivam a terra e fazem a colheita sem reclamarem dos seus malditos destinos enquanto seus maridos e filhos morrem nas barreiras. Elas assumiram as supostas funções dos homens com muito mais eficiência do que eles, mas sei que quando eles voltarem para casa, esses malditos vão voltar a fazer como sempre fizeram. Então para que serviu toda essa inspiração que eu supostamente dei? Elas vão voltar a apanhar por terem feito alguma coisa errada e eles vão estar no direito de fazê-lo. Eu os odeio, mas não consigo deixar de ajudá-los, no fim eles também sofrem com as guerras e aprenderam a ser assim. Essa é a maldita realidade, não importa o que eu penso ou o que eu acho. Aqui as mulheres não ingressam na política sem um marido ao lado e isso se elas tiverem a sorte de nascerem nobres como eu. Elas também não chegam a exercer nenhum cargo influente pela simples opressão masculina.

– As outras ilhas também são assim? – perguntei para manter o assunto, estava claro que ela precisava falar e eu queria estar ali para escutá-la.

– Cada ilha tem leis próprias, apesar de termos uma guerra em comum. Nossas alianças têm limitações, então Daneel não pode interferir em nada daqui por exemplo, do mesmo jeito que Khur não pode interferir nas decisões que Daneel toma em sua ilha. Khur é uma ilha sem leis desde que a guerra se instalou, tento a todo custo que seja uma ilha justa, mas estando nas linhas de frente e sendo uma "mulher perdida" sem futuro e sem marido, o único que posso fazer é pedir proteção aos deuses e torcer para que aqueles malditos estejam cuidando bem do que restou do meu povo. A Falcón Island é diferente, ali homens e mulheres vivem de maneira igual, é o único lugar que conheço que não importa se você nasceu homem ou mulher, seus direitos e deveres seguem os mesmos. Daneel é incrível por manter essa utopia, mas não conheço outro homem que pense como ele.

– Você sempre fala da Falcón Island com admiração – falei sentindo um misto de curiosidade e ciúme difícil de definir.

– Cresci com o Daneel e tanto sua prosperidade quanto sua integridade me fazem admirá-lo ainda mais. A Falcón Island é um bom lugar para se espelhar apesar de eu não concordar com alguns dos seus métodos – fiquei quieto, não podia contestar aquilo sem deixar aparente o que eu sentia, vendo que eu não falaria nada, ela mesma seguiu com o assunto – e em Vixen? Como é ali?

– É um país machista – respondi sinceramente – obviamente nem metade do que é aqui. Em sua grande maioria as mulheres cuidam das casas e dos filhos, mas isso não significa que elas não possam trabalhar ou que sejam vistas como prostitutas se o fizerem. É um machismo que está caindo pouco a pouco.

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