. . . . . ╰──╮ 40. Kai╭──╯. . . . .

68 14 108
                                    

Essa é para as garotas que só assistem
Elas não são as melhores?
Quando ficam deprimidas
Basta uma garrafa de whisky
E uma anedota!
Outra chance para desaprovação
Outra ironia brilhante
Outra razão para não se mexer
Outro gole de vodka
Um brinde a isso!
Medley: Pretty Women / The Ladies Who Lunch - Barbra Streisand

━━━━━━━━━━ ~DM~ ━━━━━━━━━━

"Era um gole, apenas um gole..., mas o gole pediu outro, que pediu outro, até que nada sobrasse na garrafa em minha mão. Aquela pequena garrafa me embriagou me provocando delírios e alucinações, mas também acentuou tanto a minha solidão que a minha própria companhia se tornou insuportável." (Diário de Ayana)

━━━━━━━━━━ ~DM~ ━━━━━━━━━━

Quando Yugo e Aylin me chamaram no quarto, eu imaginei que não fosse algo realmente bom, mas também não esperava que fosse algo sobre Ayana.

– Ela está completamente bêbada – Aylin falou em algum momento – ela cortou o braço, mas não me deixou nem encostar nela para tentar ajudar.

– E para onde ela foi? – perguntei me sentindo cansado de repente. Hagne tinha razão, Ayana realmente precisava de alguém cuidando dela o tempo todo.

– Ela saiu – Yugo falou – a seguimos até ela parar na porta do castelo e depois viemos até aqui.

– E por que um de vocês não a seguiu enquanto o outro me chamava? – perguntei o óbvio cruzando os braços.

– Ta brincando? – Yugo apertou os olhos – já viu o tamanho desse merda? Além de ser enorme, não tem nada de particular que nos faça definir os caminhos aqui dentro. Achar o seu quarto estava muito mais fácil em dois.

– Tanto faz – bufei – vamos atrás dela. Vai saber o que ela vai aprontar desse jeito.

Não é que eu esperasse uma cena bonita. Esperava ver Ayana bêbada rindo sozinha, chorando ou até mesmo vomitando, mas o que eu vi tirou o pior que tinha dentro de mim.

Primeiro, estavam zombando dela. As costas da sua roupa estavam rasgadas e eu nem precisava perguntar o motivo, o motivo estava bem visível em um corte que escorria sangue. Na mão de uma das moças estava a nossa aliança e Ayana estava caída no chão.

A outra parte que me irritou muito foi ter a noção de que ela tinha bebido tanto que não tinha nem a capacidade de se defender sozinha.

Resumindo, estava com raiva de todos naquele momento.

Ouvir as desculpas esfarrapadas deles me tirou ainda mais do sério. Eu não batia em mulheres e agradeci mentalmente que Aylin estivesse ali, porque acho que eu não teria aguentado me segurar. Grudei no pescoço do que aparentava ser o mais forte e só parei de bater quando Yugo me tirou de cima dele. Eu o teria matado ali. Sem dúvidas que sim.

Respirei fundo tentando me acalmar e pedi para que os prendessem. Eu já pensaria em um bom castigo para eles no fim das contas.

Ayana não pesava muito, mas levá-la bêbada para o quarto não foi tarefa fácil. Em algum dado momento ela entrelaçou o meu pescoço. O cheiro a bebida e a sangue estavam extremamente fortes e ela parecia não ter noção nenhuma da força que tinha, porque quanto mais eu andava, mais ela apertava meu pescoço.

– Eu te amo – ela sussurrou e depois se contradisse – não, eu te odeio. Te odeio tanto que tudo o que eu faço é pensar em você. Eu te odeio porque não consigo me imaginar sem você mais e te odeio porque por sua culpa eu estou com medo de morrer.

Ela começou a chorar baixo, escutava os pequenos soluços que ela dava e o como seu corpo se movia cada vez que ela tentava parar de chorar.

– Eu não vou te deixar morrer – sussurrei.

– Você é um idiota – ela falou, mas apertou um pouco mais o meu pescoço.

Antes de chegar no quarto, eu pedi para alguém esquentar água e levar até ali. Eu deveria ter jogado ela na água fria mesmo, deveria ter tirado ela daquela embriaguez de uma única vez, mas não tive coragem. Demorou um pouco para que o banho de Ayana ficasse pronto, mas quando isso aconteceu descobri o quanto era difícil tirar a roupa de alguém completamente bêbado.

– Sai – ela me empurrou de um jeito desengonçado – eu consigo fazer isso sozinha.

Apesar do que ela falou, na primeira tentativa de ficar de pé, ela caiu.

– O chão ta engraçado hoje, você não acha? – ela falou tentando se levantar de novo.

Eu suspirei sem responder nada e apesar das tentativas de ela me distanciar, em um dado momento ela acabou por desistir e me deixou ajudá-la.

Era difícil imaginar que na noite anterior havíamos casado. Durante aquela noite eu parecia a pessoa mais feliz do mundo e apenas naquela manhã tudo parecia haver desmoronado e seguia desmoronando pouco a pouco.

Coloquei ela na banheira e precisei praticamente entrar junto para que ela não se afogasse. Depois de lavar como pude seu corpo a tirei com dificuldade e tentei secar ela ao máximo antes de colocá-la na cama.

Passei o pano seco por seu corpo inteiro branco e sequei com cuidado o corte que fizeram em suas costas. O sangue voltou a esquentar no meu corpo e eu me sentia culpado, se eu não tivesse passado por cima da tradição ali, aquilo não teria acontecido, mas por outro lado, eu sabia que eu tinha o poder de mudar aquilo e eu o faria. A deitei com cuidado ainda completamente nua na cama, olhei seu abdômen que subia e baixava de maneira tranquila e notei que não havia nem uma pequena cicatriz do ferimento que ela tinha sofrido com o ataque da sereia.

Com seu corpo completamente seco, coloquei nela uma roupa limpa. Arrumei seu cabelo para que não embaraçasse muito durante a noite e a cobri. Me troquei assim que tive certeza de que ela estava bem e cômoda e saí do quarto para conversar com Daneel, Yugo e Aylin. Precisava de alguém que pensasse racionalmente por mim naquele momento, antes que eu obedecesse aos meus instintos e matasse todos os que fizeram isso com ela.

Era bom que todos rezassem para que meu humor estivesse melhor na manhã seguinte, porque eu não pensava em deixar aquilo barato.

Dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora